A onda de negacionismo factual em torno dos lulistas, afoitos em ingressar no clube dos países desenvolvidos, é assustadora. Uma campanha de boicote ao pensamento crítico, a textos realistas que não lhes agradam, mostra um tom ambíguo de uma parcela privilegiada da sociedade brasileira que, ao mesmo tempo, fala em democracia e, em contrapartida, repudia narrativas que destoam de seu astral de sonho e fantasia.
A euforia em torno das reações do presidente Lula diante do tarifaço de Donald Trump - caso superestimado como se as tarifas mexessem diretamente no mercado interno brasileiro, o que dá o tom de desinformação dessa moçada - criou uma cegueira entre os lulistas que traz aquilo que estes querem esconder: uma raiz autoritária, influência de setores da direita que, gradualmente, entre apoiadores do golpe de 1964, do tucanato e do golpe de 2016, passaram a apoiar Lula e a fingirem ser esquerda-raiz.
Daí a crença na “democracia de um homem só” de Lula. Daí a crença na burguesia nacional, agora representada pelo empresariado “democrático” que manifesta sua profissão de fé no petista ou financia o entretenimento hedonista da comunidade woke, investindo da cerveja e cigarros até eventos de música ou esportes, passando por automóveis e canais de streaming de seriados e filmes do momento.
Daí, também, a herança de pais e avós da gente abastada, antepassados que apoiaram a derrubada de Jango pelo golpe de 1964 e clamaram pelo AI-5. Os netos tentam renegar essa herança, mas, contraditoriamente, rejeitam narrativas que destoam de suas convicções, pedindo para ninguém ler textos que fogem das perspectivas sonhadoras do Lulismo 3.0.
A sociedade que hoje domina as narrativas nas redes sociais também mostra sua submissão hierárquica, encarando os fatos não como eles acontecem, mas na forma dominante clde como eles são tramsmitidos, ao sabor dos interesses dos grupos interessados. Essa “boa” sociedade que sequestrou o esquerdismo para si se acha tão dona da verdade que se acha na presunção de julgar as vontades e necessidades do povo pobre, a dizer o que eles devem ouvir e que salário e padrão de trabalho terão que ter.
Por isso é que existe a defesa da bregalização cultural, que trata o povo pobre de forma caricatural, numa “cultura sem preconceito” perversamente preconceituosa, que transforma até favelas em safáris humanos e alcoolismo e prostituição em pretensos ideais de vida. E existe o obscurantismo religioso de movimentos como o Espiritismo brasileiro, que se arroga de não ter adotado a cosmética e a gramática do raivismo dos neopentecostais, mas pega pesado no moralismo punitivista e atua numa caridade fajuta oferecendo donativos que, se esgotando em poucos dias, são comemorados pelos seus filantropos mesmo depois que a fome havia retornado aos lares dos humildes.
Essa elite mostra o quanto é uma ilusão essa ânsia frenética e tóxica em nosso país arrombar os portões do Primeiro Mundo. Mas quem se recusar a brigar com os fatos e não aderir a essa pressa em comer cru o sushi chinês do Sul Global servido com picanha, cerveja, lula e picolé de chuchu, é alvo de cancelamento nas mídias digitais no Brasil.
Para todo efeito, temos que aceitar esse país culturalmente precarizado que é o Brasil, devastado por retrocessos de seis décadas que passaram a ser vistos com naturalidade e até adquirindo memória afetiva, como a onda do “brega vintage” de “Evidências” com Chitãozinho & Xororó, e outros sucessos popularescos, vai para o Primeiro Mundo, apenas para atender à vaidade de uns privilegiados que já tem muito dinheiro no bolso.
A “boa” sociedade brasileira tem pressa em entrar no clube dos países desenvolvidos porque ela quer ver o Brasil transformado em um grande parque de diversões, tanto para essa parcela de brasileiros se sentir turista no próprio país quanto para receber tratamento VIP quando fizerem seu turismo no exterior. Nada de desejar um país melhor para os miseráveis, pois a turma da lacração só usa esse pretexto como meio de lacração. O que elas querem é mais privilégios para si, e Lula tem as mãos e seus nove dedos abertos para isso.
Comentários
Postar um comentário