Dois nomes da música que nunca foram além de talentos medianos são supervalorizados no Brasil, a banda Guns N'Roses e o finado ídolo pop Michael Jackson. Muita bobagem foi dita ou escrita para exaltar os dois nomes - inclusive a besteira sem pé nem cabeça de que o Led Zeppelin seria "imitação" do Guns, quando os fatos e a lógica mostram o inverso - , forçando a idolatria sem limites que só existe no Brasil, quando no seu país de origem, os EUA, os dois nomes não são levados muito a sério.
Isso é um reflexo do nosso viralatismo cultural, mas a coisa foi longe demais nos últimos anos, quando o cantor e a banda passaram a receber uma reputação fake, não bastassem as mentiras que se fala para manter a imagem mítica que só faz sentido ao público brasileiro, que no seu gosto musical vive nas zonas de conforto dos sucessos costumeiros, do hit-parade de um punhado de músicas ouvidas 200 vezes por dia.
Guns N'Roses sempre foi um grupo superestimado no Brasil, que exerce supremacia no gosto musical dos preguiçosos, que, incapazes e indispostos a conhecer coisas melhores, definem o grupo de poser metal como "rock clássico".
Ainda não me esqueço do momento constrangedor quando eu, tentando vender meu então zine O Kylocyclo (diferente do blogue do mesmo nome lançado anos depois e hoje fora do ar), em 2001, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, e um estudante que folheou meu zine fez cara de luto quando viu uma matéria na qual afirmava que o Guns N'Roses não era classic rock. Fiquei pasmo com tamanha estupidez.
Recentemente eu li uma matéria de uma página chamada Por Acaso que glorificava a banda de Axl Rose, que na ocasião foi se apresentar na minha terra natal, Florianópolis, e creditava o grupo de "maior banda de rock de todos os tempos", atribuindo uma hipotética fusão de "punk, blues e metal". Uma reputação fake, diga-se de passagem, pois na prática o Guns N'Roses soa mais como um arremedo mais pop do hard rock, com direito a faixas xaroposas como "November Rain".
Mas nada supera, em termos de atribuições fake, o que o cantor Michael Jackson recebe no Brasil. Agora que surgem suspeitas de que um executivo brasileiro passou a representar, no nosso país, o legado do antigo astro pop, Michael passou a ter uma reputação farsante, a de pretenso roqueiro. Tão farsante que seus poucos roquinhos são fracos e no fundo nem merecem sequer o rótulo de "pop-rock". Na verdade, Michael Jackson nunca foi roqueiro, ele apenas foi um nome da soul music e do pop comercial em geral.
Nota-se que o representante brasileiro de Michael chega mesmo a influir, não se sabe com que dinheiro investido, na citação do finado cantor em situações das mais diversas, de congresso de dermatologia até páginas de ateísmo.
Nos eventos comemorativos de rock em São Paulo, Michael Jackson, que nunca foi um roqueiro de verdade e usou o gênero apenas como gancho para sua vergonha de ser negro, fruto de sua problemática infância, foi lembrado em exposições em um shopping center da capital paulista. Já em Santo André, no ABC Paulista, uma banda tributo a Michael foi escalada para tocar num evento gastronômico cujas atrações incluíam "muito rock'n'roll".
Michael já foi alvo de fake news diversas. A ele foram atribuídas qualidades que nunca existiram nele, como "pesquisador cultural", "ateu", "comunista" e "ativista político". Tudo isso para causar impressão na moçada brasileira, que com contrangedora "exclusividade" acredita nessas qualidades num país como o Brasil, que consome muita fofoca.
E assim os herdeiros de Michael Jackson encontram num país de incautos como o Brasil um grande mercado para reciclar o sucesso do cantor, mesmo que seja para requentar hits surrados como "Billie Jean", "Beat It" e "Thriller". E mesmo que seja para criar um Michael Jackson fictício, um personagem maior do que o ídolo havia sido em vida e que só serve para iludir e deslumbrar os brasileiros que sucumbem ao viralatismo cultural.
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