A JORNALISTA MILLY LACOMBE, O HISTORIADOR EDUARDO BUENO E O APRESENTADOR JIMMY KIMMEL - Vítimas da "cultura do cancelamento".
A realidade de hoje está muito complicada e três casos, dois no Brasil e um no exterior, repercutiram amplamente por conta das reações negativas causadas por declarações de personalidades de grande projeção.
Vamos ao Brasil, com os casos da jornalista carioca e colunista do UOL, Milly Lacombe, e do historiador gaúcho Eduardo Bueno, o "Peninha", cujas declarações geraram mal entendidos, o que fizeram cada um sofrer consequências negativas quanto às suas atividades e eventos.
Milly fez uma declaração no podicaste Louva a Deusa, da qual foi extraído um trecho tirado do contexto e manipulado nas redes sociais. Aparentemente, Milly, que é lésbica, "desqualificava" a família tradicional e, pelo trecho selecionado, se fazia crer que ela achava que o antigo modelo de família servia de fonte para o fascismo. Como ativista LGBTQIA+, Milly no entanto não reprova a família tradicional, dando a este modelo seu devido respeito, apenas defendendo, também, modelos alternativos de família, como o modelo homoafetivo.
A distorção do depoimento da jornalista, no entanto, fez com que a participação dela no evento literário Festa Lítero Musical (FLIM), que teria ocorrido no último dia 19 em São José dos Campos, fosse cancelada. O veto partiu da decisão do prefeito da cidade paulista, Anderson Farias (PSD), sob o pretexto de que a presença de Milly iria "contrariar os valores da cidade".
O evento também sofreu um adiamento diante da repercussão negativa do cancelamento da participação da escritora, com a desistência da participação do evento de outras personalidades. Xico Sá e Christian Dunker, também colunistas do UOL, renunciaram à participação no FLIM, assim como a atriz Marisa Orth. Com essas desistências, os organizadores do FLIM resolveram adiar o evento, embora até agora a nova data ainda não foi remarcada, até o momento da edição deste texto.
Já Eduardo Bueno escreveu, nas redes sociais, um desabafo sobre o assassinato do ativista de extrema-direita Charles Kirk por Tyler Robinson (que está preso), ocorrido nos EUA. "É sempre terrível, não é? Um ativista sendo morto por suas ideias. Exceto quando é o Charlie Kirk! Mataram o Charlie Kirk, ai, cotado (sic), tomou um tiro, não sei se na cara", escreveu Bueno nas redes sociais.
A mensagem foi entendida como se fosse uma "comemoração" da morte de Kirk, e fez com que Bueno tivesse cancelada a sua participação em um evento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bueno admitiu que exagerou na mensagem. A extrema-direita reagiu com profunda irritação contra o historiador. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) pediu "punição" a Eduardo Bueno.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também decidiu demitir Bueno do Conselho Editorial da casa legislativa. Alcolumbre definiu como "asquerosa" a declaração do historiador e disse que não aceita vídeo de retratação para evitar a demissão.
Nos EUA, o caso Charles Kirk também foi pauta de outro episódio de cancelamento. Indo na contramão da narrativa de que Tyler Robinson teria sido um "militante de esquerda", o apresentador Jimmy Kimmel, em seu monólogo no último dia 15 no seu talk show da rede de televisão ABC, acusou o assassino de Kirk de ser um possível simpatizante do presidente Donald Trump:
"A turma do MAGA está desesperada para caracterizar esse garoto que matou Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um deles e fazendo de tudo para tirar proveito político disso. Entre uma acusação e outra, também houve luto.”
O comentário de Kimmel fez com que os executivos da rede ABC suspendessem o Jimmy Kimmel Live! por tempo indeterminado, acusando a fala do apresentador de "ofensiva", o que causou reações de protesto de políticos e celebridades que acusam a suspensão de "censura à liberdade de expressão".
A situação está bastante complicada. Vivemos a polarização política aqui e ali. Até o nosso blogue sofre cancelamento, com a baixa repercussão de nossas postagens promovida por um boicote daqueles que se recusam a ler narrativas que não lhes agradam. E não são só críticas ao governo Lula, cuja performance política apela mais para o marketing do que para ações concretas, mas também críticas a hábitos da "boa" sociedade, como fumar cigarro e jogar comida fora, também foram alvos desses boicotes.
Mas só os três episódios mostram o quanto a sociedade conservadora, seja ela ortodoxa ou não, atua nos cancelamentos e, por isso, partem para o ataque contra a manifestação do pensamento crítico que desestabiliza as agendas temáticas da sociedade contemporânea. E se nos EUA a coisa anda muito complicada, no Brasil, arena da polarização entre lulistas e bolsonaristas, a situação fica pior ainda. São tempos difíceis os que vivemos hoje em dia.

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