PARA A "SOCIEDADE DO AMOR", A POBREZA É APENAS UM "DETALHE".
Os últimos anos foram marcados pela ascensão de uma geração que, apesar de claramente possuir privilégios econômicos que, se não são extremos para muitos, são bastante significativos, se acha “gente simples” e se autoproclama “democrática e de esquerda”, apesar da forte herança conservadora de seus ancestrais, envolvidos em incidentes que vão da escravidão de negros à mobilização pela queda de João Goulart em 1964.
A burguesia ilustrada, que comanda uma frente ampla social que vai do “pobre de novela” ao famoso milionário, vive a sua plenitude nos tempos de Lula 3.0. Não se trata da totalidade do povo brasileiro e muito menos a emancipação dos povos excluídos, pois mais uma vez é uma transformação decidida “de cima” por pessoas que se acham “representantes das classes populares” e sua defesa “solidária” segue fins bastante tendenciosos.
A burguesia ilustrada “defende” os pobres e concede relativos benefícios nos limites adotados para evitar que sofram processos trabalhistas e sejam assaltados na volta para casa durante o período noturno. Descendentes dos senhores de engenho exploradores de escravos, a “boa” sociedade faz pouco caso com a escala 6x1 do trabalho, com a profissão 100% comissionada (quando a remuneração é farta, mas incerta, como um prêmio de uma loteria) e a precarização do emprego.
Essa "sociedade do amor" vê a pobreza como um mero "detalhe". Ela só quer mesmo que os pobres "aceitem" sua pobreza e seu assistencialismo esbarra sempre no limite de fazer a miséria ser "suportável". Exaltam as favelas, se limitam a dar marmitas para pessoas em situação de rua e, tratando o pobre como uma "lixeira social", decidem "doar" roupas velhas mais para se livrar das mesmas, fora de moda ou danificadas.
Essa elite “ esclarecida” e “generosa” quer dominar o mundo e desenvolve um padrão de cultura e comportamento cujas formas atuais que conhecemos remetem à Era Geisel, na ditadura militar. Um comportamento que essa classe megalomaníaca impôs para o Brasil e, agora, querem vender para o mundo, com as brechas sul-globalitárias do lulismo.
Daí que entra em ação o negacionista factual, o “cão de guarda” da elite do atraso repaginada e convertida em elite do bom atraso. É ele que, pedindo o boicote a textos críticos ao governo Lula, tenta manter um padrão de narrativa longe de ser fidedigno, mas que tem seu sentido compartilhado e favorável aos interesses da elite que comanda as redes sociais no Brasil.
Dessa forma, temos uma elite que apenas adapta aos “novos tempos” seu conservadorismo brando, herdado do poder suave do período do general Geisel e que revelou intelectuais como o depois presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma elite neoliberal que apenas adotou alguns clichês do esquerdismo para conquistar apoio na sociedade.
A mudança de postura dessa elite em relação à geração que defendeu a queda de Jango é tendenciosa. Somente poucos, e muito raros, realmente mudaram. A maioria esmagadora mantém seu conservadorismo preservado na essência, principalmente na defesa da meritocracia.
Daí a obediência à hierarquia, à tecnocracia, à mídia empresarial que não apresenta um reacionarismo explícito e ao obscurantismo religioso pretensamente ecumênico, filantrópico e falsamente sábio. A bregalização musical também segue esse sentido, quando o juízo de valor da burguesia ilustrada prega que o “verdadeiro pobre” é aquele expresso nas caricaturas do imaginário popularesco.
A burguesia ilustrada achou o momento certo para se achar “substituta” do povo brasileiro. Um “povo” herdeiro do “milagre brasileiro”. Uma elite ávida em ver o Brasil promovido a “país desenvolvido” para uma elite poder ganhar mais dinheiro, fazer turismo e converter o nosso país em um grande parque de diversões. Tudo em nome do consumo. O resto não tem muita importância.
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