O Brasil não vive um conto de fadas, com im Papai Noel no comando. A situação é complexa e é necessária muita firmeza jurídica para barrar qualquer tentativa de anistia aos envolvidos tanto na reunião de um golpe de Estado de 2022 quanto da revolta de Oito de Janeiro.
Sob o ponto de vista dos bolsonaristas, Jair Bolsonaro foi “vítima da tirania comunista que o condenou de maneira injusta, lembrando o martírio de Jesus Cristo”. E isso ocorre no momento em que o ativista aliado de Donald Trump, o jovem Charles Kirk, é morto aos 31 anos num atentado nos EUA e, no Brasil, o deputado federal Nikolas Ferreira sofre ameaças de morte.
Episódios assim mostram o quanto a polarização política está tensa e não será Lula que irá combater a polarização, pois ele, sendo um dos polos, simplesmente irá alimentar, mesmo sem querer, o polo oposto. Sim, porque Lula não escapa do contexto da polarização, mesmo se o lado contrário, o do direitista de plantão, seja Sérgio Moro, Jair Bolsonaro ou Donald Trump, ou concorrentes como Ciro Gomes ou Tarcísio de Freitas, fosse eliminado na competição.
Um vídeo divulgado pelo pastor neopentecostal Silas Malafaia mostra uma imagem e um som gerados por Inteligência Artificial com Jair Bolsonaro desabafando sobre sua condenação. O vídeo alterna outras imagens geradas por IA, incluindo a do presidente Lula rindo, com outras reais relacionadas às manifestações pró-Bolsonaro com o próprio ex-presidente participando. A voz gerada por IA mostra um depoimento o qual Jair está proibido de se expressar, por questões de justiça.
Afinal, a condenação dada a Bolsonaro ainda está na fase de análise dos recursos, com base no princípio legal da ampla defesa, previsto pela Constituição Federal. Bolsonaro não pode se manifestar para evitar atrapalhar todo o processo, por isso o vídeo fake divulgado nas redes sociais foi feito à revelia da lei. Vá explicar a permissão de vídeos como este. Mas aí não é mais comigo.
Mas o vídeo sinaliza um clima misto de melancolia e revolta entre os bolsonaristas. E diante das tensões que também envolvem os EUA e a guerra fiscal e alfandegária de Trump contra o Brasil, a situação está complexa e não cabe festejarmos.
A condenação de Jair Bolsonaro por uma série de crimes é apenas uma etapa e um passo dado. Um bom passo, diga-se de passagem, mas qualquer comemoração pode fazer tudo se perder, pois a reação dos bolsonaristas foi de profunda indignação. Não se pode esnobar o inimigo, quando ele não foi totalmente derrotado. Deve-se admitir a capacidade de reação, não dá para gracejar diante de uma vitória que, mesmo significativa, está longe de ser uma vitória final, pois há muitas batalhas pela frente.
A arrogância dos lulistas acha que eles podem agir como se conduzissem um trator sem freio em alta velocidade, pedindo para as barreiras do caminho darem licença. A prepotência dos lulistas preocupa, o triunfalismo tóxico é doentio, e a crença cega de que o futuro do Brasil será conduzido por um octogenário é bastante surreal. Ao menos Lula deveria ter treinado um herdeiro político.
A anistia a Jair Bolsonaro é uma causa em marcha pelos bolsonaristas. Barrar a anistia no Congresso Nacional é uma urgência, e nesse sentido estou ao lado dos lulistas. Evitar qualquer brecha para a volta do bolsonarismo é uma necessidade, e deve ser consumado o impedimento de qualquer anistia para o ex-presidente de extrema-direita e seus parceiros da reunião golpista de 2022 e da revolta vandalista de Oito de Janeiro.
No entanto, devemos admitir que não dá para apostarmos na "democracia de um homem só" de Lula. A polarização pede uma nova ordem política, novas caras para o nosso cenário eleitoral, sem Bolsonaro nem Lula. A polarização está tirando o foco dos problemas reais do Brasil e só está beneficiando as elites abastadas dos dois lados, o bolsonarista e o lulista, que se divertem com essa rinha política.
Daí a necessidade de uma terceira via, que precisa reagir tanto contra a truculência dos bolsonaristas quanto contra o linchamento de reputação promovido pelos lulistas. A democracia não pode se rebaixar a uma constelação do Sistema Lular, pois também não se pode admitir que a democracia esteja nas mãos de um único homem.
Devemos, portanto, pensar num novo cenário político, numa nova liderança política, afastando de vez o perigo da polarização, e assim enfraquecer principalmente a extrema-direita, que sem o contraponto de Lula para combater, não tem motivos para reagir.
O Brasil precisa eliminar a briga entre o pesadelo e o sonho, buscando um novo caminho através da realidade.
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