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LULA E O PÓS-PELEGUISMO


O atual mandato de Lula nos ensina sobre o que é a atuação de um pelego. Não custa repetir para quem ainda não sabe que um pelego, segundo o jargão do proletariado, é um representante dos trabalhadores que faz acordos secretos com o patronato, combinando o atendimento dos onteresses empresariais com vantagens pessoais do líder sindical.

Com o objetivo de garantir a vitória eleitoral e a governabilidade, Lula se aliou à direita moderada, e com isso promoveu pequenos reajustes salariais e pouco fez de realizações palpáveis para o Brasil. O que ele “realizou” está nos relatórios fabulosos que, de tão fáceis e imediatamos, só empolgam quem vive no mundo encamtado das redes sociais brasileiras.

Há poucos dias, um grupo de trabalhadores no bairro do Limão, em São Paulo, conversava indignado durante o almoço, criticando duramente o governo Lula. O tom da conversa sinalizava que Lula traiu o povo, fazendo muito pouco pelos mais necessitados.

São fatos muito desagradáveis de se dizer, mas fatos são fatos. Salários de fome, que só em 2026 atingirão o valor mínimo de R$ 1.630, são insuficientes para a população pobre e suas famílias quase sempre numerosas. O povo pobre fica revoltado.

Lula, agora, saiu do modo pelego, como um líder sindical que saiu de uma reunião com o empresariado para retomar contato com os colegas de classe. Após uns flertes com o Centrão e chegando a tentar atrair bolsonaristas arrependidos, o presidente Lula, desde agosto último, tenta agora voltar ao esquerdismo, pelo menos nos padrões dos dois mandatos anteriores.

É aquela coisa. O sindicalista pelego foi negociar com os patrões, obteve vantagens pessoais e voltou para o convívio com os colegas trazendo apenas uma pequena parte das reivindicações que foi conquistada. Como se comporta o pelego depois de sua farra momentânea, mas crucial, entre os patrões, é coisa que o proletariado sabe muito bem.

Lula não é tão especial a ponto de transformar seus próprios erros em acertos. E o povo pobre não é generoso a ponto de passar pano nos erros de Lula. O presidente brasileiro agora tenta voltar à esquerda, em vão, pois o mundo neoliberal e o chefe do Executivo brasileiro vivem uma lua-de-mel inabalável.

Enquanto o mercado financeiro internacional está encantado com Lula, o povo pobre o vê com muita desconfiança. Lula não pode ser tratado como fetiche e ele não é o centro do universo nrm o dono da verdade. A realidade, dolorosa para muitos, é que o povo pobre se sente traído e decepcionado com o governo Lula. Só o “pobre de novela”, considerado “limpinho” e obediente, está gostando do atual mandato de Lula.

É sintomático no Brasil que políticos progressistas tenham que negociar com a centro-direita para garantir a governabilidade. Mas o atual mandato de Lula se tornou confuso e entranhado com a burguesia ilustrada. O terceiro mandato de Lula foi mais conservador que a fase parlamentarista de João Goulart e os discursos de Lula se tornaram fajutos em relação ao comício que Jango fez na Central do Brasil, no Rio de Janeiro.

Agora Lula tenta seguir o caminho posterior à etapa de alianças com a direita moderada. Mas essas alianças foram tão intensas que hoje o presidente brasileiro encontra dificuldades para dialogar com as classes populares. Esse é o preço caro que Lula paga por ter preferido ouvir os divergentes do que os afins, sob o pretexto da “democracia”. 

É claro que um sindicalista pelego, depois que interage com os patrões, vai voltar para o convívio dos colegas proletários e tentar se aproximar deles, mesmo com poucas conquistas. Sem oferecer rupturas, o pelego tenta no entanto reestabelecer a antiga aliança com os colegas, mesmo depois da traição em evitar qualquer tipo de pressão real em favor dos trabalhadores.

Agora os afins de outrora se agastaram de Lula e, se não existe um rompimento formal deles com o petista, esse é um risco muito forte e poderá ser fatal para o presidente. Daí que Lula terá que se contentar com o apoio de seu “Clube de Assinantes VIP” para se reeleger ou caprichar na psicologia do medo para se impor como “única salvação para o Brasil”.

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