A “democracia de um homem só” de Lula é um pretexto pelo qual o petista, além de associar a ideia de democracia à sua imagem, como se ele fosse dono dela, pode fazer, em seus atos, concessões à centro-direita sem causar muita estranheza. Assim, ele não vai ser considerado pelego, jargão da classe trabalhadora para o representante dos proletários que se alia secretamente aos patrões.
Lula voltou estranho, mesmo quando, agora, ele tenta adotar uma desculpa maquiavélica para seus atos, agora que ele, supostamente, colheu os “grandes frutos” de seu atual mandato. Ou seja, sem a performance progressista dos dois mandatos anteriores, substituída por muita propaganda e uma conduta que mistura o neoliberalismo de FHC com o populismo de Sarney, Lula alega que “atingiu seus objetivos” naquilo que ele define como “país próspero”.
Ando acompanhando os fatos e refletindo a respeito deles. Não faço “jornalismo Cinderela” e não me contento com dados oficiais. Se o sentido desses dados apresenta problemas, não é porque são agradáveis que sejam necessariamente verídicos.
Por isso mesmo eu observo as coisas por trás das narrativas e aparências fáceis. E aí eu vejo que Lula 3.0 tem muito menos a ver com o esquerdismo trabalhista de raiz e mais para o neoliberalismo com matrizes woke herdado do PSDB original, descontados alguns aspectos pontuais.
Lula se aproximou da velha guarda do PSDB, que permanece mas se mantém simbolicamente distante da imagem geral do partido, agora transformado num parquinho onde o titio Aécio Neves treina fascistas mirins. Talvez o retorno de Ciro Gomes ao partido possa criar uma nova cara para a sigla.
Essa aproximação de Lula com o tucanato clássico e com os caciques do MDB lembra as alianças políticas costuradas desde 1978 e, também, do movimento Diretas Já, o que traz o tom da "democracia" de Lula, mais alinhada com Sarney e FHC do que com as raízes do esquerdismo trabalhista.
Se aliando à velha guarda do tucanato, como Fernando Henrique Cardoso e Aloísio Nunes, Lula se identifica mais com eles do que com a esquerda raiz. Sob o pretexto da democracia, Lula ouvia mais os divergentes do que os afins. Isto é fato. Em muitos momentos, Lula ficava indiferente aos apelos dos afins, preferindo obter vantagens fáceis com os divergentes.
Vejo a "democracia" de Lula mais protocolar, cerimonial e de cúpula. Uma "democracia" decidida "de cima", uma "democracia de autoridades", onde o presidente brasileiro manda no nosso país e o povo apenas brinca, canta e pula. E consome, no caso de ter muito dinheiro.
Portanto, é uma "democracia de líderes e privilegiados", que apenas em tese prioriza os mais pobres mas, na prática, estes aparecem em segundo plano. E Lula também exporta essa "democracia" ao se reunir com autoridades liberais estrangeiras, descontando os momentos em que ele corteja China e Rússia para sua campanha pelo Sul Global.
Lula apenas finge "desprezar" a classe média abastada, mas ela é sua maior prioridade. As classes trabalhadoras, os camponeses e os miseráveis em geral, supostas prioridades do petista, é que estão sendo desprezados, ou, quando muito, tratados de forma precária e subalterna. As narrativas se recusam a admitir essa realidade, mas os fatos mostram essa dura realidade, com Lula distante do povo.
Daí que existe uma luta da elite do bom atraso em manter a "boa imagem" de Lula, e os negacionistas factuais pedem para boicotar textos questionadores, para evitar a crise de popularidade do petista. Mas a realidade é que, nos últimos anos, Lula acabou fazendo do PT o Partido dos Tucanos, apoiado informalmente pelos caciques fisiológicos do MDB e do PSDB.
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