Infelizmente, num país meritocrata como o Brasil, impera a ideologia do alpinismo financeiro. Confunde-se qualidade de vida com acúmulo de dinheiro, quando vemos que as verdadeiras Cracolândias estão nas boates do Itaim Bibi, da Avenida Paulista e similares.
Os animais consumistas não podem ser confundidos com aqueles que fazem do hábito de comprar uma terapia mental. Os animais consumistas são diferentes, pois transformam o ato de comprar não em uma terapia, mas em uma neurose, julgando que só possuem sua razão de ser se estiverem participando dos principais rituais de consumo e de hedonismo.
Na paranoia consumista pós-pandemia, houve gente que passou a fazer as chamadas happy hours de domingo a domingo, até mesmo em véspera de dia de trabalho. Sua ganância de consumir é tanta que só cogitar a hipótese de não ter um automóvel causa revolta nos animais consumistas, para os quais o verbo “ser” age puramente em função do verbo “ter”.
Altamente egoístas, os animais consumistas juram nunca ter dinheiro para ajudar o próximo. Qualquer vaquinha para ajudar uma pessoa com dificuldades é vista como “golpe”. Mas se eles “não têm” dinheiro para ajudar um miserável a comprar comida ou a algum endividado resolver suas contas, sobra dinheiro para o supérfluo e até para o que é nocivo, como cervejas e cigarros, por exemplo.
Os animais consumistas podem até se autoproclamar “pobres”. Afinal é impressionante como tanta gente se diz “pobre” arrumando qualquer desculpa para essa carteirada por baixo. Até pagar IPVA vira um pretenso atestado de pobreza de uma burguesia que busca seu mimetismo social se espalhando entre a multidão.
Mas os animais consumistas, que tratam o consumo e a posse de dinheiro não uma consolação ou uma terapia, mas como uma obsessão e uma única razão de ser, são aspirantes a super-ricos, ainda que pareçam, à primeira vista, pessoas simples a serem encontradas em bares e supermercados, neste caso enchendo seus carros de compra com uma porção de supérfluos e nocivos, neste caso engradados de cerveja e grandes pacotes de cigarros, tudo para financiar o que imaginam ser a “liberdade humana”, na verdade uma servidão terrível às convenções sociais relativas ao entretenimento fútil cotidiano.
Os animais consumistas, dentro do processo de alpinismo econômico, querem ser os super-ricos de amanhã. Fazem vestibular para magnatas, acumulando dinheiro e gastando com supérfluos, comprando almoços caros para depois jogar comida fora e investindo na diversão tóxica, como o fanatismo por futebol, a obsessão por piadas sem graça em momentos fora de contexto e tudo o mais.
E aí vemos o quanto essas pessoas, que falam mal da riqueza dos outros mas têm o mesmo apetite voraz pelo dinheiro, simbolizam a hipocrisia humana, nesses tempos em que o senso crítico sofre um processo de discriminação e o nosso Brasil está condenado a ser um mero parque de diversões. Lamentável.
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