A BURGUESIA ILUSTRADA COM SUAS PRIORIDADES E O QUADRO DE LULA AO FUNDO.
Pode parecer absurdo, mas é realidade. Enquanto o povo pobre da vida real abandonou Lula, a burguesia ilustrada, cujos avós marcharam para pedir a queda de João Goulart, querem a reeleição do presidente brasileiro. E por que ocorre essa realidade que desafia narrativas tão confortáveis que precisam ter reputação de verdade absoluta?
As redes sociais viraram um antro de ilusão e aparência. A “verdade” que percorre essas redes é aquela baseada em estereótipos e em narrativas oficiais. Os fatos pouco importam. Por isso a ideia que prevalece é a de que o Brasil está prestes a se tornar a sucursal do Paraíso na Terra e que Lula, em tese, é o líder dedicado a cumprir esse sonho dourado.
Os lulistas, a rigor, são uma frente composta por setores economicamente prósperos das esquerdas médias e por parcelas flexíveis da direita moderada que, formalmente, se autoproclama “centro-esquerda”. Não são, portanto, as classes populares que exaltam Lula nas redes sociais. Estas, aliás, se decepcionaram ao ver Lula se aliando com as classes dominantes, tal qual um pelego político.
Da parte da direita moderada e descolada, que se diz “de esquerda”, seus membros descendem das famílias que pediram a queda de João Goulart, em 1964. Mas, diferente das avós, que rezavam os terços do padre conservador Patrick Peyton e dos avôs que liam, sentados no sofá, os artigos do IPES-IBAD na imprensa, seus netos buscam uma associação com coisas mais modernas e bacanas.
Já resolvida na vida, a burguesia contemporânea usa como álibi seus antepassados, dando a impressão de que "agora é diferente". Renega o status de burguesia e, como mimetismo, se disfarça de gente simples e se espalha sob a multidão. Faz de tudo para soar "tudo de bom" para obter a simpatia da sociedade em geral.
Vendo que Lula se tornou um político mão aberta, capaz de financiar até festa de aniversário fantasiada de "evento cultural", bastando apenas juntar um elenco de famosos "com devido reconhecimento do grande público", a burguesia ilustrada passou a adorar o petista, e por isso pede sua reeleição.
Se achando "mais povo que o povo", essa elite ilustrada não largou o DNA burguês. Apela para os trabalhadores se contentarem com a precarização, porque "pelo menos é um emprego", e pregam uma "única democracia" com Lula, numa atitude que, contraditoriamente, acaba sendo autoritária. Dizem defender as classes populares, mas acreditam no empresariado como financiador da felicidade coletiva.
Como Lula cedeu em quase todos os seus princípios de um líder de centro-esquerda, a burguesia ilustrada de chinelos e sapatênis, camisas t-shirt e jeans rasgados, é a que mais apoia o petista, enquanto o povo pobre da vida real rompeu com o presidente. Estando Lula convertido num líder festivo e até infantilizado, a burguesia descendente dos golpistas de 1964 agora é a primeira a apoiar o petista.
Nesse baile de máscaras que são as redes sociais dá até para ser rico e fingir ser pobre. E como o Lula investiu no pacto do faz-de-conta, em que o próprio presidente se torna im pelego neoliberal mas finge ainda ser o esquerdista que havia sido, a burguesia participa da brincadeira, se achando "as classes populares na sia melhor definição", acolhendo os "pobres de novela" para reforçar a aparência.
Daí que a burguesia ilustrada de hoje, "positiva", descolada descontraída e que "acredita no Brasil", tem mais esperteza que seus avós que, sem sutileza, pediram a queda de João Goulart. Hoje, quando Lula pode reduzir o projeto progressista a fins sociais tolerados pelo empresariado, a burguesia contemporânea deixou de lado o golpismo já que os "subversivos" perderam a voz e a vez. Sem o grito da "ralé", a "boa" sociedade pode brincar de povo com o apouo e o financiamento de Lula.
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