Quase ninguém entendeu o texto sobre o uso da "soberania" de Lula, contra o tarifaço de Donald Trump, como "cortina de fumaça" para os problemas brasileiros. Só quem se apega a narrativas lineares e vê os fatos só pelas aparências, imagina que o texto que escrevi é dotado de um equívoco gritante.
A realidade é muito, muito complexa. Não dá para entender os fatos só pela fachada do que é visto de maneira apressada. Lula virou um pelego, passou a ser uma espécie de "mascote" da Faria Lima por conta dos erros que ele cometeu, e foram muitos e bastante vergonhosos.
Sou contra o tarifaço do presidente dos EUA, é óbvio, mas o que vejo nesse episódio é a produção de um sensacionalismo infantilizado, que serve mais para promover o triunfalismo pessoal de Lula do que para proteger a vida econômica dos brasileiros.
A situação vai muito mais de apelar para o maniqueísmo fácil de dizer que só Lula é a democracia e o que não for Lula é extrema-direita, agora que o presidente brasileiro surtou e que pretende concorrer com o Super-Homem na missão de "salvar o planeta".
Só que há muita campanha de boicote, que atinge páginas como o nosso blogue, de setores da chamada opinião pública que querem banir o pensamento crítico. Se julgam "democráticos" e "socialmente responsáveis", mas se comportam como se fossem funcionários da antiga Censura Federal dos anos de chumbo.
Os alimentos estão caros, o trabalho continua precarizado, setores que nem precisam funcionar aos sábados, como a telefonia, têm jornada nesse dia da semana, e Lula não se empenha em combater a escala 6x1 do trabalho.
Quando o caso é no Brasil, Lula não combate a carestia. Diz "conversar" com o empresariado e tudo o que se consegue são promoções temporárias de algumas horas. São reduções provisórias de preços. Mas quando se trata de um "inimigo ostensivo", o presidente estadunidense Donald Trump, "amigo" de Jair Bolsonaro no imaginário dos lulistas, aí há o alarme de Lula, dizendo que o tarifaço vai "encarecer os preços" e "comprometer os projetos sociais".
Por isso eu não levei a sério essa campanha "pela soberania", da mesma forma que não levei a sério Lula posando de tribuno, nos discursos dados na sua fase "política externa" de 2023, usando óculos e lendo frases óbvias, supostamente "de efeito".
Tudo parece uma "grandeza de brinquedo", considerando que os maiores apoiadores de Lula são a moçada woke e também a burguesia "legal" que se acha "rainha da cocada preta" procurando ter sempre a posse da palavra final, para não dizer a verdade.
Isso tanto é verdade que vemos burgueses enrustidos dizendo que "é melhor um subemprego do que o desemprego" ou "conversa com o patrão e pede para aumentar o salário". Não são frases que um trabalhador de chão de fábrica seria capaz sequer em pensar em dizer.
O negacionista factual, que é o "Monark do bem" (no sentido Bruno Aiub do termo), tenta blindar Lula e não gosta que ele seja criticado. O negacionista arruma desculpa até para justificar aquele comentário infeliz de Lula de que "pobre só usa varanda para 'soltar o pum'".
Sempre patrulhando a liberdade dos instintos que escraviza as consciências, o negacionista factual blinda até pessoas que jogam comida fora e que adoram fumar um cigarro. O negacionista é apenas uma forma "evoluída" dos antigos negacionistas dos tempos de Temer e Bolsonaro, não chega à insanidade de um Monark promover "diálogo entre nazi-fascistas e judeus", mas arruma algum argumento para o "diálogo entre a raposa e a galinha".
O negacionista factual blinda Lula porque ele precisa continuar alimentando, senão o mito do antigo sindicalista que não faz sentido enfatizar a não ser pelas fotos de muguichotes nas camisetas do PT, pelo menos o líder de centro-esquerda que governou o país entre 2003 e 2010.
Daí que o negacionista não admite que as coisas mudaram e blinda Lula até quando ele teve a covardia de faltar a debates eleitorais estratégicos por causa de "choque com os horários dos comícios". Só que Lula não marcou comícios que chocassem com eventos como a "cúpula do G-7", não é? Lula agendou eventos do Minha Casa, Minha Vida ou entrega de obras no mesmo horário da reunião dos países de Primeiro Mundo? Não.
Sempre com uma flanela na mão para passar pano sempre que for necessário, o negacionista factual estava, na semana passada, certo de que o Brasil se transformaria na "sucursal do Paraíso". Feliz com a "decadência dos EUA" nas mãos do grotesco Trump, o negacionista reviveu 2023 com a "plena popularidade de Lula" e com os pontuais elogios da mídia venal ao petista, condicionados pelo interesse em ver o Brasil transformado em "vedete" da geopolítica mundial.
Mas os fatos escapam da bolha lulista e, por enquanto, quem domina as narrativas colocando as opiniões pessoais acima dos fatos toma as rédeas da suposta compreensão da realidade. Mas a falsa recuperação da popularidade de Lula, hoje irremediavelmente um pelego a serviço das classes dominantes, ainda continua, por mais que os pesquisismos agora tentem desmentir.
Lembremos que, fora da bolha lulista, a vida é bem mais complicada. Fácil achar que o Instagram, Facebook e Tik Tok são paraísos da "veracidade dos fatos" quando a pessoa está bem de vida e tem centenas de seguidores concordando com ele nas redes sociais. Mas difícil é entender que os fatos nem sempre são do agrado do negacionista factual, e serão inúteis textões, invertidas e voadoras para proteger seus pontos de vista. O negacionista factual, tentando brigar com os fatos, sempre perde um dia.
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