Há poucos dias, um juiz denunciou a farsa de uma estudante de Anápolis, Goiás, Gabriella Andrade Viegas de Arruda, aluna de Medicina da UniEvangélica, que se passava por humilde declarando apenas receber três salários mínimos e recebia bolsas de estudos. Ela estaria levando uma vida opulenta que ostentava no seu perfil do Tik Tok.
Há várias fraudes nesse sentido, mas vamos combinar que o fenômeno dos falsos pobres é dos mais comuns em nosso país. Houve até uma atriz de TV, dessas que ganham mais de 50 mil reais, que gravou um vídeo dançando com os braços segurando um saco de arroz e outro de feijão, como se tivesse “consciência” da carestia do preço do arroz que nem arranha seu bolso.
Recentemente, na comunidade Perguntas, do Reddit, quando se perguntou o que sobraria se todos os pobres fossem exterminados no Brasil, um internauta respondeu “quase ninguém”. Um grande exagero se percebermos o quanto tem de gente abastada tirando onda de miserável.
A burguesia de chinelos, invisível a olho nu, é especializada em tirar onda de pobre para esconder seu volumoso patrimônio financeiro. A burguesia ilustrada usa mimetismos como falar português errado, sempre arrumando um jeito para falar no singular os substantivos do plural. A elite do Itaim Bibi, por exemplo, tenta caprichar na imitação dos peões de Barretos ou dos suburbanos de Diadema, para ficar bem na foto com o jeito grosseiro de falar, errado e gritando, como se fossem borracheiros de Embu-Guaçu.
Os falsos pobres também ouvem músicas ruins, como os sucessos popularescos conhecidos, o verdadeiro motivo que o constrangedor “combate ao preconceito” das elites intelectuais nos anos 2000 e 2010 deixou como legado. Pois esse popular com “p” minúsculo só serve mesmo para entreter a burguesia.
A jovem burguesia até virou petista para bancar a pobrezinha e, quem sabe, ganhar incentivos fiscais do Ministério da Cultura por conta de projetos”culturais”. Para esse pessoal, “pobre” não é aquele que recebe baixos salários e em muitos casos nem casa tem para morar, mas aquele bacanão dotado de falsa modéstia que figura nas redes sociais. E haja muita pose, muita fala errada, ouvidos sujos de músicas ruins e um comportamento bem grosseiro e folgado.
Tudo é desculpa para essa gente cheia da grana se passar por pobre. Até o autoatendimento nos postos de gasolina, apesar de ser uma prática de astros de Hollywood, garante a pose de pobreza. Pagar impostos eccompras no supermercado, desde que com aquela pose blazé de pretenso coitado, também garante a encenação.
Até os boêmios dos restaurantes e boates da moda tentam imitar os decadentes ébrios dos velhos bares suburbanos, falando errado e gritando e posando de "suburbanos da gema", enquanto torram seu dinheirão em cervejas consumidas em doses diluvianas e fumando cigarros como verdadeiras chaminés humanas.
Enquanto isso, os verdadeiros pobres seguem invisíveis. Eles "não são gente", para as redes sociais que só servem para a ala festiva da Casa Grande, esta elite que se acha no luxo (e bota luxo nisso) de pensar que é Senzala e tentar viver como se fosse Quilombo, demonstrando o quanto essa "boa" sociedade tem gosto por uma grande hipocrisia.
Por sorte, essa elite vive numa bolha, porque a realidade dos fatos concretos lhes escapa de seus juízos. A "caverna" se acha o universo, mas o universo segue indiferente à "caverna".
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