A disputa por protagonismo continua. E alimentada pelo maniqueísmo.
De repente, se contrapõem um novo personagem e um veterano no cenário político-jurídico-midiático.
No primeiro caso, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que se tornou a versão carioca de Sérgio Moro.
No segundo, o conhecidíssimo jurista midiático, Gilmar Mendes, um dos mais empenhados em obter protagonismo nos episódios políticos dos últimos anos.
Criou-se um maniqueísmo só por causa da prisão de executivos dos transportes do Rio de Janeiro.
A corrupção que iria se escancarar com o esconde-esconde da pintura padronizada nas empresas de ônibus.
O trabalho estava sendo feito aos poucos. Linhas municipais cariocas, linhas executivas municipais cariocas, linhas municipais de cidades vizinhas (Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu), na Região dos Lagos etc.
O esconde-esconde iria atingir o esquema do DETRO, que foi presidido por Rogério Onofre, preso pela Operação Ponto Final, solto por Gilmar e novamente com prisão decretada por Bretas. Onofre se entregou à Polícia Federal ontem.
Evidentemente a corrupção se escancarou no transporte carioca.
A ideia da pintura padronizada, sob desculpas de critérios técnicos diversos, era esconder as empresas dos olhos da população, para ela ter dificuldades de identificar uma empresa irregular, que exibiria as mesmas cores e o mesmo design de uma empresa mais competente.
A medida surgiu durante a ditadura militar e logo na tal "República de Curitiba", com Jaime Lerner, hoje no "conselhão" do governo Michel Temer.
Deu no que deu: hoje o sistema de ônibus de Curitiba está decadente, corrupto e só se renova com ônibus usados adquiridos de outras cidades.
Dito isso, devemos no entanto tomar cuidado porque a Operação Lava Jato nunca foi a luta do Bem contra o Mal.
Às vezes a Lava Jato tem relativo mérito quando se volta para grandes corruptos da plutocracia.
Mas sua atuação em muitos momentos ocorre em arrepio às leis, como no caso da prisão coercitiva.
No caso de Marcelo Bretas, ele não era exatamente para ser apoiado. Os manifestos deveriam ser para protestar contra Gilmar Mendes, sem que representasse idolatria ao juiz Bretas.
Bretas mandou prender um dos mais renomados cientistas do país, o almirante Othon Pinheiro, que, ao lado do ex-morador de rua Rafael Braga, são dois inocentes que permanecem atrás das grades.
Braga foi preso porque estava com produtos de limpeza tidos como "armas caseiras". Ele era um dos manifestantes de junho de 2013.
Othon, preso por questões políticas em 2016, sob o pretexto de suposto envolvimento em um esquema de corrupção junto a empreiteiras.
Pessoas comprovadamente corruptas ou perigosas continuam soltas, dão entrevistas, são recebidas com aplausos em aeroportos, são convidadas para fazer palestras.
A situação do Brasil está tão complicada que fazer maniqueísmo, coisa normalmente pouco recomendável, é ainda menos para o momento atual, de confusões e convulsões sociais.
Deve-se apenas questionar Gilmar Mendes, que, de fato, andou cometendo abusos e protegendo nomes como Aécio Neves e Michel Temer.
É muito perigoso tratar como herói um juiz que, numa circunstância, até parece pertinente no combate à corrupção nas empresas de ônibus fluminenses.
Sobretudo porque é o mesmo juiz que determinou a prisão de um dos maiores cientistas do país.
E logo quando Othon Pinheiro iria ser mais generoso com os brasileiros, criando um projeto de energia que traria eletricidade mais barata e eficiente para as populações mais carentes.
Numa época em que se anuncia a privatização da Eletrobras que, do contrário, tende a trazer um serviço deficitário e mais caro, é algo para se preocupar.
O que está em jogo é a luta de protagonismos, de diversos lados. Do jornalista Ali Kamel ao jurista Gilmar Mendes, há uma grande disputa de quem quer protagonizar os feitos sócio-político-econômico-midiáticos dos últimos tempos.
Personagens como o empresário Flávio Rocha (Riachuelo), a jornalista Joyce Hasselmann, o juiz Sérgio Moro, o presidente Temer, o deputado Rodrigo Maia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o prefeito paulistano João Dória Jr. e o apresentador Luciano Huck estão no páreo.
Todos querendo um lugar na história recente do país, produzindo alguma façanha.
A ideia não é mais o acaso produzir seus protagonistas históricos, seus agentes de transformações ou retrocessos que só o futuro poderá identificar, passado o calor do momento.
Hoje são os agentes que tentam fazer de tudo para serem previamente considerados protagonistas futuros, agindo conforme seus interesses em obter algum destaque na sociedade.
E isso se dá por diversos meios.
Quanto às transformações ou retrocessos, prefere-se dizer que o Brasil vive mais estes últimos.
O período atual é muito delicado, frágil e inseguro. O momento é, ainda, de apreensão e ceticismo, ainda que nossas esperanças possam ser guardadas na geladeira.
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