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EM TEMPOS DE MPB SEM RÁDIO PRÓPRIA, JB FM PRIORIZA ESTRANGEIROS


Na última segunda-feira, 07 de agosto, por sinal aniversário de Caetano Veloso, um dos grandes nomes da MPB, a rádio JB FM preferiu priorizar os gringos.

Em tempos em que a MPB carece de emissora própria, as rádios de pop adulto têm a obrigação de aumentar sua cota de música brasileira na programação diária.

Se já era para a FM O Dia gradualmente inserir MPB e deixar os popularescos para as Fanática e Mania da vida, porque a música brasileira de qualidade precisa de mais espaços de divulgação.

Emepebistas estão morrendo aos poucos, e os que continuam geralmente não têm menos de 35 anos de idade.

A MPB perde seus próprios espaços para os bregas. Meses atrás, o cantor de sambrega Belo foi se apresentar no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.

Sob a desculpa do "combate ao preconceito", a breguice musical que integra um pastiche de "cultura popular" imposto pela mídia hegemônica, passou também a exercer sua hegemonia.

A MPB é que anda sendo vítima de muito preconceito.

Sobretudo entre os jovens, que infelizmente dependem do rádio para pautar seu gosto musical.

Já basta a cultura rock, que, no Rio de Janeiro, virou uma palhaçada com pessoas só ouvindo "sucessos".

É uma trabalheira convencer um fã de rock que o AC/DC não resumiu sua carreira com "Back in Black", em 44 anos de trajetória e dois grandes vocalistas em diferentes etapas.

O próprio Sistema Rio de Janeiro de Rádio cometeu a gafe de manter o nome "Rádio Cidade" para uma emissora dedicada ao rock, sem ter pessoal especializado no ramo.

Pior: com locutores que, em parte, falam como se estivessem trabalhando na Mix FM. Um deles, bem mauriçola, apresentou programas como o Cidade 80.

Deu um tiro no pé. A Rádio Cidade saiu do ar da FM e hoje é uma web radio que, tocando só os hits, fica comendo poeira até diante do acervo de rock que existe no YouTube.

Aí temos uma rádio Jornal do Brasil que toca muito pouco de brasileiros.

Ontem, entre 15 horas e 15h50, quando a emissora era sintonizada numa clínica médica onde fui tirar os pontos de uma pequena cirurgia, a JB tocava uma média de três gringos para um brasileiro.

A JB já peca, ao lado da Sul América Paradiso, pelo repertório mofado e bastante repetitivo.

A impressão que se tem é que as duas rádios só tocam trilhas de novelas e de blockbusters do cinema estadunidense.

Em muitos casos, os gringos que rolam nas duas rádios são divulgados via trilhas sonoras de novelas da Globo.

Não dá para entender a dependência química das rádios de pop adulto pelas trilhas sonoras da Rede Globo.

Que seja compreensível, em Salvador, o caso da Globo FM local, por razões bastante óbvias.

Ou, no caso da Sul América Paradiso, cujo sócio é um dos astros da Globo, Luciano Huck.

Mas a JB? Sobretudo quando o antigo espólio do Jornal do Brasil se enfraqueceu perdendo a JB AM e a versão impressa do Jornal do Brasil por causa das pressões das rivais Organizações Globo?

E são sempre os mesmos hits, e o mesmo bitolamento de sempre.

Ignoram, por exemplo, que o cantor de "Steppin' Out", o inglês Joe Jackson, teve uma fase rock bem consistente, dessas que empolgam a moçada do esqueite.

Ou então desconhecem que a cantora estadunidense Laura Branigan faleceu há 13 anos.

Essas rádios podem continuar tocando música estrangeira, mas deveriam abrir mais espaço para a MPB, não se limitando aos grandes sucessos.

A Antena Um é outra que deveria tocar mais música brasileira, aproveitando sua linha de tocar algo além dos hits e usar essa lógica para os artistas brasileiros.

A música brasileira precisa de renovação.

Está havendo um desequilíbrio da MPB na tentativa dela se sobreviver.

Uma MPB perdida nos arremedos de Rock Brasil / Jovem Guarda de uma parcela de novos cantores e cantoras, na pretensão de querer ser "mundial demais".

Ou uma MPB perdida na provocatividade gratuita que já não provoca mais coisa alguma, revelando apenas sensacionalismo vazio ou ativismo inócuo, como em certos cantores e cantoras mais "arrojados".

Ou uma MPB perdida no seu passadismo, com a overdose de tributos e regravações.

São atitudes extremas que em nada contribuem para a renovação real da música brasileira.

As três iniciativas não trazem diálogo real para os jovens.

Cantoras emepebistas mais preocupadas com atitude rock ou com engajamento forçado são vistas por muitos jovens como "meras militantes petistas" de cara zangada, tatuagem esperta no braço e guitarra a tiracolo.

Cantores "provocativos" que fazem tudo para aparecer - como o noivado-relâmpago seguido de traição de Inês Brasil - acabam causando mais incômodo que admiração pelas suas bravatas.

E a MPB que se homenageia sem parar acaba soando "velha" e dá uma impressão amarga que ela está se despedindo do mainstream para virar artigo de museu (do jeito que se conservam os museus, então...).

Daí que é preciso uma sacudida. Se as FMs derem uma ajudinha e saírem de suas zonas de conforto, talvez dê para dar uma luz no fim do túnel que obscurece a música brasileira.

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