Pular para o conteúdo principal

O QUE O "FUNK" FOI FAZER NA "REPÚBLICA DE CURITIBA"?

PEDRO D'EYROT, DO BONDE DO ROLÊ, QUE MISTURA "FUNK" E ROCK, E MEMBRO DO MOVIMENTO BRASIL LIVRE.

Os assuntos podem ser meio velho, mas vale para análise.

A descoberta que um dos membros do Bonde do Rolê, que mistura "funk carioca" e rock, é fundador do Movimento Brasil Livre, e o protesto funqueiro contra a Escola Sem Partido, ocorreram faz tempo.

Mas isso traz uma reflexão, numa época em que o "funk" é acionado, tendenciosamente, sempre que o governo Temer sofre uma encrenca ou o ex-presidente Lula ameaça se reabilitar.

Oficialmente, muitos consideram o "funk" um "movimento bolivariano" marcado pela suposta rebelião popular.

Essa ideia se sustenta com uma retórica sofisticada, distribuída em monografias, documentários e grandes reportagens, dentro de uma abordagem aparentemente objetiva.

Mas o "funk" tem muitas estranhezas que, mediante uma análise muitíssimo cautelosa, o coloca no lado não das forças progressistas, mas da plutocracia e, principalmente, dos barões da grande mídia.

Já se falou, com exclusividade, aqui, que o "funk" é o Cabo Anselmo da vez.

É estranho um ritmo surgido em Miami, reduto de latino-americanos de direita, seja visto como "esquerdista" no Brasil.

E as Organizações Globo são até responsáveis diretas do crescimento do "funk", que nunca convenceu com sua falácia de "movimento sem-mídia".

Se bem que a retórica "etnográfica" do "funk" também ganhou um tempero "mais intelectual" de Otávio Frias Filho, da Folha de São Paulo.

Durante toda a pregação da corporação dos Marinho, com eventual ajuda da Folha, Abril e até Estadão, o "funk" usou de várias máscaras para atingir públicos mais abastados.

Se vendeu como "etnografia", "movimento bolivariano", "vanguarda fashion", "cultura alternativa" e "folclore brasileiro" em retóricas confusas, mas sofisticadas e verossímeis.

Em todas elas, o refrão era o mesmo: o "combate ao preconceito". Só que o "funk" tratava o povo pobre de forma caricatural.

O preconceito não vinha contra o "funk", mas a favor dele.

Indo no discurso intelectual, se imagina que no "funk" tem tudo: Andy Wahrol, psicodelia, Ernesto Che Guevara, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, poesia marginal, Bossa Nova e punk.

Você toca o CD ou vê uma apresentação e essa alegação acima citada não passa de mentira. Tais referenciais nobres só existem na cabeça etnocêntrica da intelectualidade "bacana".

Se você nunca ouviu um disco de "funk" e o apoia sem conhecê-lo de fato, você está sendo preconceituoso.

Neste caso, tem uma percepção pré-concebida do "funk".

Mas quem não curte "funk" e o rejeita, mas ouviu seus discos e viu suas apresentações, já tem um conceito do gênero.

Portanto, o preconceituoso não é quem conheceu o "funk" e o rejeitou, mas quem o aceita e apoia sem ouvir.

Durante o intenso proselitismo, tinha até grupo que tentava transformar o "funk carioca" numa "cultura alternativa" para apresentar aos estrangeiros, mesclada com rock.

É o Bonde do Rolê, surgido na mesma Curitiba que virou "arena" da Operação Lava Jato, e um dos membros é o performer, DJ e músico Pedro Augusto Ferreira Deiro, o Pedro D'Eyrot.

Só que, recentemente, revelou-se que era o mesmo Pedro Ferreira que fundou o Movimento Brasil Livre, ao lado de Renan Santos e outros.

O MBL tem como bandeira de luta a extinção do Partido dos Trabalhadores e a transformação do pensamento neoliberal e ultraconservador em uma causa digerível para os jovens brasileiros.

Sua origem vem do movimento internacional Estudantes pela Liberdade, financiado por empresas multinacionais e apoiado pelo Departamento de Estado dos EUA.

O MBL tenta substituir, no gosto intelectual dos jovens, autores como Karl Marx e similares pelo conservador Ludwig Von Mises.

Os membros mais conhecidos do MBL são mais jovens, Kim Kataguiri e Fernando Holiday.

E Fernando Holiday, hoje vereador pelo DEM paulista, decidiu, no começo do mandato, "visitar" as escolas públicas para flagrar o que ele entende como "doutrinação esquerdista".

Adepto da Escola Sem Partido, Holiday queria denunciar as escolas que falassem, por exemplo, sobre novas estruturas familiares e novos agentes sociais vindos das classes populares.

Apesar de negro e gay, Fernando Holiday é partidário de paradigmas conservadores que, segundo ele, deveriam continuar sendo ensinados nas escolas.

E, poucos dias atrás, no mesmo 02 de agosto em que a Câmara dos Deputados salvou o presidente Michel Temer de mais uma encrenca política, a ESP tornou-se uma proposta encaminhada ao Legislativo da capital paranaense.

Os vereadores Ezequias Barros (PRP), Osias Moraes (PRB) e Thiago Ferro (PSDB) propõem que a Escola Sem Partido fosse implementada na capital paranaense.

O PRB é o partido da Igreja Universal do Reino de Deus e o PSDB, do governador Beto Richa, que já mandou reprimir violentamente um protesto de professores da rede pública.

Os três vereadores são evangélicos e demonstram claramente motivações religiosas para defender a Escola Sem Partido.

No ano passado, porém, uma professora, Gabriela Viola, do Colégio Estadual Profª Maria Gai Grendel, no bairro Caximba, região sul de Curitiba, bolou um protesto estranho.

Usou a música "Baile de Favela", do ícone do "funk ostentação" MC João, mudando a letra para inserir conceitos da sociologia marxista.

Ela gravou um vídeo, que viralizou e causou grande repercussão. A professora foi suspensa de ensinar na escola por cinco dias.

O "funk" costuma soar como um "pé frio" diante das manifestações das esquerdas no Brasil.

Na verdade, o ritmo é usado para abafar os protestos contra a plutocracia, até porque o "funk" recebe apoio explícito e expressivo da mídia hegemônica.

Além do mais, juntando as peças, o que o "funk" faz na chamada "República de Curitiba" famosa pelas figuras de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, para embalar um protesto contra a Escola Sem Partido, é coisa muito estranha.

E ainda mais quando o maior propagandista local do "funk" é um grupo musical cujo integrante é um dos membros fundadores do Movimento Brasil Livre.

O MBL sinalizou seu apoio à Escola Sem Partido e a um pensamento mais conservador.

Aliás, se analisarmos bem, sociologicamente o "funk" está muito mais próximo do pensamento sociológico de Fernando Henrique Cardoso.

O próprio Hermano Vianna foi ligado ao antropólogo Gilberto Velho, do grupo intelectual do ex-presidente.

Vianna não escondeu os apoios dos órgãos da CIA ao projeto de doutorado que resultou no livro O Mundo Funk Carioca e ao seu Instituto Overmundo, respectivamente Fundação Ford e Soros Open Society.

Enfiar marxismo no "Baile de Favela", na ultraconservadora Curitiba de um Bonde do Rolê com ligação de um membro ao MBL é mais uma estranheza no pretenso esquerdismo do "funk".

O "funk" mais parece colaborar com a plutocracia e com os barões da mídia do que com os movimentos sociais de esquerda, que depois serão abandonados pelos funqueiros triunfantes, que irão comemorar suas vitórias nos palcos da Globo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

FARIA LIMA ESTÁ DOMINANDO OS MODOS DE SER DOS BRASILEIROS MÉDIOS

O culturalismo brasileiro de 1974, que perdura até hoje com seus derivativos trazidos principalmente na década de 1990 - pelas afinidades que esse culturalismo tem nos governos de Geisel, Collor e FHC -  está causando estragos em todo o Brasil. Os brasileiros médios estão deixando de pensar por conta própria e aceitando como "novos normais" a degradação cultural que ocorre há cinco décadas, se adaptando a essas formas de ser, sentir, estar e fazer marcadas pela bregalização cultural, pelo obscurantismo religioso e pelo hedonismo desenfreado. A gourmetização do cigarro, a aceitação das psicografakes  - quando mensagens falsamente atribuídas aos mortos são feitas por puro mershandising  religioso - , o fanatismo pelo futebol como "única alegria do povo brasileiro", o gosto musical padronizado no mesmo hit-parade  estrangeiro e nas canções popularescas em geral (inclusive a pseudo-sofisticada "Evidências"), tudo isso parece vir trazido pelo ar fresco que resp...

A SIMBOLOGIA OCULTA DA “GINÁSTICA” DE LULA

A recente foto do presidente Lula imitando os movimentos dos acrobatas que se exibiram num evento em Paris sugere um grande ato falho. Embora Lula tente fazer crer que estaria vigoroso e animado, o ato tem seu significado subliminar associado à decadência. A foto registrada por um fotógrafo da Associated Press indica uma interpretação nada generosa para quem enxerga a imagem pela primeira vez. Alguns aspectos podem ser imaginados. Primeiro, Lula parece cair e tentar conter a queda no chão. Segundo, um homem alto parece diante dele, supostamente em posição superior e olhando de lado. Terceiro, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, parece se aproximar do marido, em posição de quem estaria lhe prestando socorro. Quarto, Lula está apenas respirando fundo, mas a expressão facial sugere que o presidente brasileiro parece aflito. Pode ser uma impressão, mas a foto é daqueles atos falhos que ocorrem para complicar ainda mais a situação do petista, que enfrenta uma queda de popularidade ...

BURGUESIA ILUSTRADA ADORA UMA CANÇÃO BREGA

A burguesia ilustrada, a elite do bom atraso que se fantasia de gente simples para ficar bem na foto, adora uma música brega, através da qual despejam seus “generosos” preconceitos - supostamente “desprovidos de qualquer tipo de preconceito - , reviveu os tempos em que a intelectualidade pró-brega saiu das tocas da Globo e da Folha para tentar converter as editorias culturais da mídia de esquerda à visão pessoal de Otávio Frias Filho. A revista Fórum, um dos veículos da mídia impressa de esquerda dos anos 2000 e 2010, fez uma lista das “dez melhores músicas brega de todos os tempos” , um título pretensioso bem nos moldes do antigo “combate ao preconceito” que em parte contribuiu para o golpe político de 2016. O periódico já encalhou em março de 2010, quando colocou a cantora de tecnobrega, Gaby Amarantos, na capa. A matéria de Julinho Bittencourt mostrou os mesmos clichês do sentimentalismo piegas que o discurso da sociedade burguesa, com seus juízos de valor, atribui ao povo pobre com...

RÁDIOS COMERCIAIS “DE ROCK”, DEPOIS DE DERRUBAR O ROCK BRASIL 80, SE PROMOVE ÀS SUAS CUSTAS

As ditas “rádios rock”, a Rádio Cidade do Rio de Janeiro, hoje atuando na Internet, e a 89 FM de São Paulo, depois de derrubar o Rock Brasil dos anos 1980 com a mentalidade hit-parade que gerou os Raimundos e Mamonas da vida, tentam se promover às custas da cena que acabaram destruindo, à maneira do que ocorre com Michael Sullivan, que usa a mesma MPB que tentou destruir para retomar sua carreira. Não sendo mais do que meros escritórios das empresas de eventos, a Cidade e a 89 só “funcionam” com alguma razão de ser no fim de noite. Essas “rádios rock” comerciais vendem gato por lebre e na maior parte do tempo funcionam como rádios pop comuns, tipo a Jovem Pan dos anos 1990. A programação roqueira, pra valer, se dá somente nos programas específicos comandados por especialistas transmitidos entre 21 horas e a meia-noite. Portanto, nunca passou de conversa para boi dormir dessas “rádios rock” o papo de “24 horas de puro rock’n’roll”, pois mal dá para um oitavo da programação diária, piis...

DESESPERADOS, LULISTAS LUTAM PARA GARANTIR REELEIÇÃO DE SEU ÍDOLO

Lula poderia ter feito muito para o Brasil. Só que, no atual mandato, pouquíssima coisa fez e, mesmo assim, nada que pudesse fazer diferença a qualquer outro governante da nossa nação. A dança dos números, palavras e imagens dos relatórios e das supostas pesquisas de opinião nada dizem para a realidade, e por isso o povo da vida real deixou de apoiar o presidente, mais preocupado com a festa do que com o trabalho. Devido aos erros do governo Lula, sua popularidade despencou e isso causa muita preocupação, diante do isolamento político do presidente. E isso se agrava quando a proposta do governo de aumento do IOF é rejeitada no Congresso Nacional. Lula já sinalizou que vai acionar a justiça para reverter a decisão do Legislativo. O governo Lula, para tentar recuperar a popularidade, tem que tomar como prioridades propostas urgentes que o presidente “queria fazer, mas não muito”: a taxação dos mais ricos e o fim da escala 6x1 do trabalho. As duas medidas são urgentes, mas Lula ficou muit...

DEFESA DO AUMENTO DO IOF DESGASTA IMAGEM DE LULA

Às vezes Lula tem obsessão de implantar medidas impopulares, que são defendidas com mão de ferro por seis adeptos só porque trazem a marca do petista. A transposição do Rio São Francisco é um exemplo, uma desnecessária intervenção da natureza que, na prática, beneficiou os grandes fazendeiros apoiadores do presidente, já nos mandatos anteriores. Trmos a obsessão de Lula, no seu atual mandato, em explorar petróleo na Amazônia Equatorial, o que pode ser um sério perigo para a biodiversidade. Mesmo assim, o presidente insiste nessa exploração, sob a desculpa de produzir riquezas para a nação. Agora temos o caso do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), vetado pelo Congresso Nacional. Lula recorreu da decisão e acionará o Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter o veto. Só que o aumento do IOF irá influir no aumento dos preços sobretudo nas operações de crédito, no câmbio referente ao comércio internacional e nos fretes de transporte de produtos. Em muitos casos, isso ir...

A DECADÊNCIA PREOCUPANTE DE LULA

LULA FAZENDO GRACINHA IMITANDO OS MOVIMENTOS DOS ACROBATAS EM PARIS. Na semana passada, o presidente Lula, na sua estadia em Paris, decidiu fazer gracinha e imitar de maneira tosca - devido às limitações físicas do chefe do Executivo brasileiro - os movimentos dos acrobatas que se exibiram num evento de artes plásticas na capital francesa. O ato infeliz de Lula, comparado aos pulinhos durante um comício na Rua Augusta, em São Paulo, demonstra um presidente mais festivo do que um gestor dos problemas da nação. Não deu para esconder a coleção de equívocos cometidos pelo presidente, desde quando ele ainda era pré-candidato à Presidência da República, e que foram cruciais para sua queda de popularidade, que pelo jeito se torna irreversível. Houve um esforço de enumerar supostos “recordes históricos” que não refletiram na realidade. Houve o esforço pessoal de Lula em opinar e comentar, quando ele não consegue agir ou está proibido de tais tarefas. Vide os juros altos, o preço do arroz e a p...