Na boa. Sinceramente, a vida adulta é uma bosta.
Formalidades sociais o tempo inteiro. Até mesmo na hora de lazer.
A meia-idade transformada em vida pela metade.
Se bem que, nas gerações nascidas entre 1950 e 1960, com reflexos na minha geração (1970-1974), a juventude está cobrando suas dívidas.
Homens grisalhos fugindo de medo dos próprios jovens que eles eram em vida e que soam como fantasmas de si mesmos, assombrando e fazendo ameaças.
De repente vemos "coroas" brincando de joguinhos no Facebook e surtando impulsivos como se ainda tivessem 17 anos de idade.
Mesmo assim, há toda uma resistência a aproveitar o melhor da juventude.
Acabam-se os sonhos, a vitalidade, a diversão, a imaginação. Mas sobra a embriaguez e o entorpecimento.
Sobra também a irritabilidade, que na juventude pelo menos tinha como contraponto a alegria e uma certa ingenuidade.
Os "coroas" tentam até "importar" condutas juvenis. Já falam mais gritando, substituíram, nas reuniões sociais, os debates pedantes pelo papo descontraído etc.
Abastados de 49 anos avisando que, no próximo ano, terão que fazer acampamento com os amigos, surfar, praticar voo livre, ir a torneios de esqueite e pogar num concerto de rock.
Mas há muita, muita resistência. A sisudez de muitos homens e mulheres, só porque são gente "de sucesso", é muito preocupante.
Há uma obsessão muito doentia em machucar os pés sob a desculpa do bom gosto, do requinte e da elegância.
As mulheres até moderaram, trocando os sapatos de salto alto por sandálias parecidas com sapatos de balé.
Os homens é que são um problema. Turrões, usam sapatos de couro até para comprar pão na esquina.
Se deixarem, usam sapatos de couro ou de verniz até na hora de dormir.
E com eles, aquelas meias de nailon que irritam no contato com a unha recém-cortada.
Homens assim querem ser sérios com os pés, mas acabam ficando constrangidos com esta obsessão pela elegância forçada ortopedicamente incorreta.
Eles usam em excesso sapatos de couro e verniz, entre 45 e 70 anos. Depois disso, o resultado quase sempre são dores intensas nas articulações.
Agora os homens e mulheres adultos comungam um mal comum: bombardeiam o fígado com o consumo obsessivo de bebidas alcoólicas, ainda que em doses "sociais".
Afinal, mesmo o consumo moderado não impede que o fígado seja massacrado com tanto álcool e o paladar seja muito mal acostumado pelas bebidas amargas.
O vinho tem lá seu sabor, mas cerveja, uísque, champanhe e vodca são muito amargos. Detesto estas bebidas.
A cerveja mais parece uma dipirona batida no liquidificador e o uísque tem gosto de urina de luxo.
Mas deixando impressões pessoais de lado, o uso contínuo de bebidas alcoólicas traz depois uma conta muito cara para o organismo.
Mesmo em doses "sociais" (consumo moderado, ou seja, sem a quantidade da embriaguez), consome-se, em média, bebidas alcoólicas em média de seis vezes em cada fim de semana.
E ainda há consumos eventuais nas noites de dias úteis.
Imagine beber vinho na noite de sexta-feira, almoçar sábado e domingo com cerveja, lanchar com cerveja, ir para a festa bebendo uísque, brindar um encontro com champanhe.
O fígado não aguenta, escravizado pela vaidade do adulto bem-sucedido.
Na juventude, já se costuma praticar o esporte trágico de massacrar as articulações quando se usam sapatos de couro para a rotina profissional e, depois, para a ascensão e o sucesso pessoal.
Da mesma forma, toma-se bebidas alcoólicas como se elas fossem mamadeiras para gente grande.
Na juventude, costuma-se até bebê-las como se fosse água, na empolgação do sabor amargo, mas nunca antes experimentado.
Mas tudo isso acaba se tornando um vício.
Pessoas bebendo álcool porque é bebida de "gente séria".
Homens usando sapatos de couro ou verniz, com aquelas solas duras e desconfortáveis, porque usar tênis é "coisa de moleque" e só se usa para caminhadas ou idas ao supermercado.
Diante disso, as pessoas massacram seu organismo. É por isso que a expectativa de vida aumenta, mas de forma muito devagar.
A qualidade de vida na velhice acaba comprometida, sobretudo entre os homens, muito turrões em descuidar da saúde.
O uso contínuo de sapatos de couro ou verniz, que sacrificam o conforto dos pés em nome da vaidade e da elegância obsessiva, empurrará muitos idosos para sessões constantes de fisioterapia.
O consumo constante de bebidas alcoólicas, mesmo tomadas "socialmente", mas em sessões contínuas no fim de semana, trarão dores no fígado e na cabeça e crises de vômito frequentes.
O cinquentão que usa sapatos de couro até para a festa de aniversário do filhinho de seu amigo será o octogenário que terá que usar um par de tênis até para ir a um recital no Teatro Municipal.
O "coroa" que se empolga em beber vinhos, cervejas, uísques será o "vovô" que terá que se acostumar a beber sucos até nestas festas granfinas onde normalmente só se serve álcool. Terá que comprar um engradado de suco antes.
Realmente, não acho graça ter que usar sapatos desconfortáveis e tomar bebidas amargas para ser alguém na vida adulta.
Tenho 46 anos e praticamente só saio às ruas usando um par de tênis. Bebidas? Ultimamente tomo limonadas, cafés, leites e bebidas lácteas, e "socialmente" em bebo refrigerante.
Não vou me submeter a certos caprichos adultos para obter vantagem na vida. Sou desses que veem mais vantagem em serem si mesmos do que deixarem de sê-los para agradar os outros.
Mas um dia os adultos terão que rever seus hábitos e costumes, na medida em que veem os velhos em situação melancólica, pelos erros que cometeram nas vidas adultas de outros tempos.
E assim vamos ter que recuperar os hábitos da juventude para ter um envelhecimento menos cruel.
Muitos não querem ser jovens na meia-idade, mas acabam sendo. Questão de sobrevivência.
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