O cenário sócio-político e cultural que se deu após a primeira etapa da derrubada de Dilma Rousseff - quando ela foi afastada do poder em caráter interino, em maio de 2016 - , um fato insólito se deu.
De repente, uma parcela da sociedade brasileira passou a expressar abertamente preconceitos sociais que acreditávamos terem sido superados em definitivo.
O deputado Wladimir Costa, do (partido) Solidariedade do Pará (SD), é o mais recente exemplo.
Com porte físico de um pitboy, ele é conhecido por ter feito uma tatuagem em defesa do presidente Michel Temer.
Wladimir só não esclareceu se a tatuagem que fez, com o desenho da bandeira do Brasil e o nome Temer abaixo dela, é permanente ou não.
Ele foi um dos deputados que garantiram o sono tranquilo de Temer anteontem, na votação que resultou no arquivamento da denúncia contra o presidente por corrupção passiva.
O deputado, durante o dia de votação, foi flagrado pelo fotógrafo Lula Marques, da Agência PT, teclando mensagens pedindo fotos nuas de uma mulher no WhatsApp.
São as chamadas "nudes", fotos eróticas publicadas nas redes sociais e passadas pelos celulares.
"Mostra a tua bunda, mostra, afinal não são suas profissões que a destacam como mulher", disse ele, expressando um machismo completamente grosseiro.
Wladimir tenta ser "correto" diante de um pedido de uma "profissional de imprensa" que, segundo ele, "pediu para ele tirar a camisa e mostrar a tatuagem no ombro direito".
Ele alegou que a jornalista "pediu 15, 20 vezes" para ele tirar a camisa.
"Como é que vou tirar a camisa? Tenho que respeitar a família brasileira. Nós temos decoro parlamentar, nós temos regras dentro da Câmara", disse o deputado que escreveu no celular pedindo fotos peladas a uma mulher (que negou atender o pedido).
Não se sabe se é a mesma jornalista, mas uma repórter, a bela negra Basília Rodrigues, que faz cobertura de política para a rede CBN, fez uma denúncia contra Wladimir.
Intitulada "Um ensaio sobre a idiotice", Basília, em lamento digno e enérgico, relatou que foi ofendida pelo deputado quando ela pediu para ele mostrar a tatuagem pró-Temer.
Basília questionou se a tatuagem de Wladimir era verdadeira e definitiva, e ele, de forma muito arrogante, respondeu, diante do pedido dela para ele mostrar a tatuagem: "Pra você, só se for o corpo inteiro".
Mais tarde, ele ainda diz, com jeito malicioso: "Eu tenho várias tatuagens no corpo inteiro, amor".
O deputado ainda veio com deboche e ironia, como narrou Basília Rodrigues:
"Ele, já distante de mim, levanta o dedo rindo, coloca na altura da própria boca e fala sem voz, só mexendo os lábios: 'não'", revelou a jornalista.
A jornalista ficou indignada ao ser tratada como uma idiota pelo grotesco deputado.
O desabafo dela, vítima a um só tempo de um ato machista, racista, misógino e antiético, repercutiu nas mídias sociais.
O ato dele se carateriza, também, como assédio sexual e moral, o que é muito grave.
Em apoio a Basília, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF, o Coletivo das Mulheres Jornalistas do SJPDF e a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do DF (Cojira-DF), divulgaram um manifesto de repúdio à atitude do parlamentar.
"Mesmo diante de um período questionável, do ponto de vista dos direitos e representações, faz-se necessário que situações como esta sejam expostas e veementemente combatidas", disse a nota.
A nota prossegue: "O teatro criado tendo personagens políticos bizarros como protagonistas não podem ultrapassar os limites mínimos para uma relação respeitosa, entre políticos e profissionais da imprensa".
"As mulheres jornalistas, em especial as negras, já estão submetidas a uma série de desigualdade e violências, dentro e fora das redações, que demandam de toda a sociedade atenção redobrada, ainda mais quando se trata de uma cobertura política de interesse público", conclui a nota.
As entidades signatárias se ofereceram para dar suporte jurídico à jornalista se ela decidir processar o parlamentar, que é um direito todo dela, de se defender e pedir punição ao agressor diante de ofensa muito grave.
É de pessoas grosseiras e arrogantes como o deputado Wladimir Costa que se cerca o governo Temer que se autoproclama de "pacificação e salvação nacional" e cujo titular se arroga em "derrotar aqueles que querem derrubá-lo". É triste tudo isso.
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