Os baianos mais elitistas, que geralmente vivem no entorno do Corredor da Vitória, área nobre de Salvador, e viajam para Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, conhecem João Dória Jr. pelos seus programas de TV.
Na TV Bandeirantes, entre 1990 e 1992, o hoje prefake era apresentador do programa Sucesso, de entrevistas com pessoas da alta sociedade, entre socialites, empresários, famosos e outros "bacanas".
Cerca de 25 anos depois, o apresentador que nem era muito popular e só falava para as elites é responsável pela vida de toda a população de São Paulo, na condição de prefeito da cidade.
De repente, João Dória Jr. virou "popular" por causa de uma estranha fórmula.
A fórmula da campanha midiática contra o Partido dos Trabalhadores, sob o pretexto do "combate à corrupção".
E aí veio o discurso da "anti-política", reunindo supostas qualidades como competência administrativa e moralidade.
Como numa ironia do destino, o apresentador que falava para os granfinos passou a ser o favorito para suceder o ex-ministro dos governos petistas, Fernando Haddad, depois prefeito da capital paulista.
E aí João Dória Jr. foi eleito com uma campanha que tinha uns risíveis apelos populistas.
O então candidato era visto tomando café de bar popular e comer pastéis e coxinhas de frango, sem esconder seu desconforto e mal-estar.
Ele enfrentava ônibus lotados e mostrava a carteira de trabalho.
Queria parecer mais "povo" do que o Lula, que tem no ABC paulista seu domicílio político.
Mas seu contexto era outro, dentro das estranhas demandas que passaram a ter no establishment sócio-político.
Eram aqueles paradigmas de tecnicidade, objetividade, imparcialidade, transparência e moralidade, muitos deles falsos, mas que empolgavam uma boa parcela de brasileiros nas mídias sociais.
Os mais conhecidos são as propostas da reforma trabalhista e reforma previdenciária, defendidas pelo governo Michel Temer sob a desculpa de desburocratização, mudança da expectativa de vida dos brasileiros e aumento de emprego.
A mídia hegemônica anuncia estas reformas sob um discurso de racionalidade que faz os brasileiros médios dormirem.
E, no caso do Rio de Janeiro, ainda que sob falência estadual, sairem pelas ruas como se fossem caçar borboletas, sorrindo como se fossem crianças felizes passeando pelo bosque.
Mas estamos falando de São Paulo. Que foi o Rio de Janeiro ontem, no sentido de ditar padrões de vida e comportamento para o resto do país.
Se bem que o Rio de Janeiro que herdou tal função já havia sido "paulistanizado" nos anos 90, com a jovempanização das rádios (sobretudo Jovem Pan Rio e Rádio Cidade) e a essebetização da TV aberta (afiliadas do SBT, Record, Bandeirantes e Rede TV!).
E aí São Paulo, nas mãos de João Dória Jr., teve, pelo menos, dois grandes desastres.
Um foi a repressão a um ponto de consumo de crack, atrapalhando os trabalhos de assistentes sociais que, com muita cautela tentavam educar os frequentadores a abandonar o vício.
Com a repressão policial, traficantes e consumidores migraram para uma área residencial, dobrando a quantidade deles e oferecendo risco aos moradores da área.
Outro foi o programa Acelera São Paulo, que aumentou os padrões de velocidade nas avenidas marginais.
Só neste ano, foram 16 mortes por atropelamento. O antecessor Haddad havia reduzido os padrões de velocidade, com redução de atropelamentos e mortes.
E ainda teve a truculência de Dória Jr. ordenar que moradores de rua fossem acordados com jatos d'água, o que causa choque térmico e psicológico, já que o ato assusta quem está dormindo.
Diante dessas "realizações", não compensadas com atitudes realmente positivas, João Dória Jr. fez de São Paulo uma grande província.
E aí João Dória Jr. viajou para Salvador para divulgar seu projeto político aplicado na capital paulista e receber o título de Cidadão Soteropolitano das mãos do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto.
Os dois estavam acompanhados do secretário de Governo do presidente Michel Temer, o ex-governador da Bahia, Antônio Imbassahy, no evento ocorrido anteontem à noite na Câmara Municipal.
Antes de chegarem à casa legislativa, os três, que tentavam cumprimentar a população, foram alvo de um grande protesto.
De repente, João Dória Jr. foi atingido por um ovo jogado por um manifestante.
Em Salvador, pelo menos, o pessoal protesta contra o governo Temer e seus associados.
Pode até haver gente em clima de contos de fadas, como se vê nas ruas do Grande Rio, mas não com a intensidade que se vê nas ruas cariocas e de cidades da região.
Pode ser um ato exagerado, nos padrões das normas sociais, jogar um ovo numa autoridade política.
Mas o cenário político brasileiro mostra o quanto as autoridades que estão no poder também fazem suas "omeletes políticas".
Os retrocessos sociais e políticos também são um ataque de ovo no povo brasileiro e a "ovada" em João Dória Jr. simboliza a devolução do que os políticos "moderados" estão fazendo com a população.
É, portanto, uma reação pequena, porém bastante simbólica, a esse período sombrio que vivemos atualmente.
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