A polêmica soltura dos empresários do setor de transporte no Rio de Janeiro revela muitas coisas.
Pode revelar, principalmente, as ações tendenciosas de Gilmar Mendes, que foi padrinho de casamento (já desfeito) de uma filha de Jacob Barata, o "rei dos ônibus".
Gilmar Mendes já fez das suas.
O ministro do Supremo Tribunal Federal chamou os jornalistas de "cozinheiros", blindou políticos do PSDB acusados de corrupção, favoreceu Michel Temer no processo da chapa eleitoral de 2014 e processou a atriz Mônica Iozzi por não ter gostado de um comentário dela.
E agora soltou empresários de ônibus.
Menos mal, diante da sub-Operação Lava Jato que confunde punir empresários com punir empresas.
Que a corrupção político-empresarial existe, é verdade, e ela foi agravada pela pintura padronizada nos ônibus, um verdadeiro esconde-esconde de empresas.
A prática é originária, vejam só, da "república" de Curitiba, com o filhote da ditadura, Jaime Lerner.
Lerner é um dos três "filhotes da ditadura" que tentaram vender a falsa imagem de progressistas, como Fernando Collor e Mário Kertèsz.
Atualmente só sobrou este último no teatrinho do falso esquerdismo, não se sabe até quando.
Lerner também padrinho político de Beto Richa (impune pela violência que promoveu contra protestos de professores) era tão afeito à ditadura que se inspirou nos ônibus militares para padronizar visualmente os ônibus da capital paranaense.
E aí a onda dos "ônibus iguaizinhos" se espalhou pelo país, confundindo os passageiros.
A ideia era dificultar a identificação da empresa para que o passageiro não pudesse saber qual a que presta um mau serviço.
O Rio de Janeiro virou o inferno astral dessa medida, imposta de maneira autoritária pelo prefeito Eduardo Paes e seu Alexandre Sansão com pinta de vilão de filme de ficção científica.
Eduardo Paes forçou a implantação dos "ônibus iguaizinhos".
A Globo forçou a inclusão dos "ônibus iguaizinhos" na paisagem carioca, sobretudo nas fotos publicadas na Revista O Globo.
E tinha uma meia-dúzia de busólogos tentando forçar a unanimidade da medida, partindo para ofensas gratuitas.
Um busólogo, antes em ascensão no ramo, "se queimou" perdendo tempo com blogue de ofensas, perdendo-se na "busodiologia", como um Danilo Gentili do meio.
Tomado de intolerância, o busólogo valentão, falam seus amigos, acabou se expondo até para a "máfia das vans" que olhavam de longe o seu jeito de "durão vigilante" achando que é um rival "pesquisando a área".
E seu blogue de ofensas só teve audiência mesmo na Polícia Federal, devido às denúncias para a Safernet.
Hoje o que restou do modismo dos "ônibus iguaizinhos" - que o atual secretário Fernando MacDowell pretende extinguir, esperando "baixar a poeira" da Operação Ponto Final - foram ônibus queimados e acidentados, gente ferida e morta, inclusive uma produtora da TVGlobo.
A inútil tentativa de apenas "mudar a embalagem", mantendo a pintura padronizada, virou lugar comum em Brasília, São Luís, Fortaleza, Porto Alegre e Juiz de Fora.
Belo Horizonte adotou recentemente a "troca de fantasia", mas num clima de fim de festa.
Esconder a empresa apenas mudando a "fantasia e a máscara", nesse carnaval da corrupção sob o rótulo de "mobilidade urbana", vive seu inferno astral.
Em Curitiba, antes tido como "vanguardista", o sistema de ônibus agora só renova com veículos usados.
Os "ônibus iguaizinhos", ou seja, as diferentes empresas de ônibus com uma mesma pintura, revelaram sua inutilidade e sua inviabilidade técnica.
Um rol de desvantagens a pintura padronizada traz à sociedade.
Ela afronta até o princípio de livre iniciativa previsto pela Constituição Federal, porque o visual indica vínculo de imagem à prefeitura ou ao governo estadual, sugerindo intervenção subliminar.
E também afronta o Código de Defesa do Consumidor, por forçar aos menos informados a aceitação dessa medida, pasmem, em troca de ônibus com ar condicionado.
Nada a ver. Isso equivale a oferecer pasteizinhos para o trabalhador aceitar as reformas trabalhistas do governo Temer!
A resignação do povo carioca com essa medida não quer dizer que a pintura padronizada foi um sucesso.
Infelizmente o povo reagiu com indiferença, dentro de um transe "bovino" que o poder midiático e político fez com os cariocas, manipulando-os para serem escravos de modismos e arbitrariedades políticas.
A reboque disso, muitos retrocessos ocorreram no Estado do Rio de Janeiro, com a sociedade coisificada e quase desumana, em que as amizades são condicionadas pela presença no Facebook e pelo fanatismo pelos quatro maiores times do futebol carioca.
Desde os anos 90 o Estado do Rio de Janeiro despencou numa decadência sem fim.
A cultura se declinou. Se tínhamos Bossa Nova, Leila Diniz e Fluminense FM, hoje temos "funk", Mulher Melão e, hoje restrita à Internet, Rádio Cidade.
Se antes os cariocas garimpavam músicas raras, discos raros, revistas raras e novidades ou antiguidades pouco conhecidas, hoje eles se contentam com a mesmice em tudo que é canto.
Até o pop dançante que ouvem, além de ruim, permanece o mesmo de sete em sete anos.
A pintura padronizada só foi um espetáculo a mais dessa decadência carioca e fluminense de uma multidão resignada em seguir os descaminhos de políticos corruptos, astros da mídia venal e valentões da Internet.
Mas que a triste iniciativa do esconde-esconde das empresas de ônibus é suficiente para mostrar a farra que as elites e seus seguidores (até nas redes sociais) fizeram com o povo do Rio de Janeiro.
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