Tido como "herói" entre tantas personalidades de valor duvidoso dos anos 90, o ex-presidente da República e hoje senador, Fernando Collor de Mello, virou réu na Operação Lava Jato.
O relator da operação, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin, votou por receber a denúncia, junto aos colegas da segunda turma do órgão, contra o senador.
Collor é acusado de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro, nos episódios relacionados a um esquema de desvio de dinheiro da BR Distribuidora.
O senador teria recebido um valor de mais de R$ 29 milhões devido a um contrato de troca de bandeira de postos de combustível, celebrado entre a BR, subsidiária da Petrobras, e a empresa DVBR (Derivados do Brasil).
Collor também teria se beneficiado de contratos de construção de bases de distribuição de combustíveis entre a BR e a UTC Engenharia, uma das investigadas pela Lava Jato.
Duas pessoas ligadas ao senador, Luís Pereira Duarte de Amorim, administrador das empresas do senador, e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, apontado pela Procuradoria-Geral da República como um dos operadores do senador, também viraram réus.
Fernando Collor havia sido um dos "heróis" dos anos 90, num estranho revival que a grande mídia tentava sutilmente promover.
Um revival que seria acionado há poucos anos, incluindo apresentadores de TV popularescos, ídolos neo-bregas do "pagode" e do "sertanejo", e algumas musas calipígias.
Até Guilherme de Pádua, apesar do seu famoso crime, embarcou nesse projeto de revival e, como subcelebridade, passou a exigir um tratamento da mídia como se ele fosse um "nobel da paz".
Collor seria o "Kubitschek" desse pastiche de "anos dourados" que o establishment midiático iria celebrar na comemoração de duas décadas dos "espetaculares" anos 90.
Tinha até trilha sonora: "pagodeiros" e "sertanejos" vampirizando o cancioneiro da MPB autêntica, que os próprios cantores renegaram no começo da carreira.
Seria a celebração do "sucesso" por vias tortas, através do triunfo da cafonice, da corrupção, da vulgaridade sexual e até da violência.
Fernando Collor, que seria reabilitado quase quinze anos após o impeachment, era também um dos três filhotes da ditadura que tentaram brincar com esquerdismo, durante os dois governos Lula.
Ele, o baiano Mário Kertèsz e o paranaense Jaime Lerner, tentaram apagar da história seus passados de prefeitos biônicos filiados à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido que tomava as rédeas do regime militar.
Todos vestindo a máscara de "progressistas" visando abocanhar vantagens financeiras do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Por ironia, Collor foi rival de Lula na campanha presidencial de 1989, no segundo turno.
Depois Collor virou "amigo" do antigo concorrente, e as esquerdas médias, em princípio, consentiram.
Collor havia se "partido em dois": o abominável ex-presidente que levou impeachment e o "admirável" senador supostamente alinhado com o centro-esquerdismo.
Collor falando mal da Veja, como se fosse, de repente, inimigo da mídia hegemônica.
Mas Collor desembarcou do simulacro de esquerdismo em 2016, votando pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Jaime Lerner, que se vendia como "progressista" acampando tendenciosamente em legendas como PDT e PSB, desembarcou depois e passou a compor o "conselhão" do governo Michel Temer.
Por ora, apenas Mário Kertèsz, convertido em dublê de radiojornalista com sua Rádio Metrópole, brinca de esquerdismo buscando o protagonismo nacional pegando carona em Lula.
Fernando Collor conquistou o atual cargo político sob as bênçãos do já falecido Domingos Alzugaray, da revista Isto É.
A indigência mental de muitos internautas já foi por mim observada nos tempos do Orkut, entre 2005 e 2007, quando o "coxismo" estava em pleno vapor, mas não havia "saído do armário".
Collor chegava a ser comparado a Juscelino Kubitschek, o que é um grande equívoco.
Kubitschek substituiu as importações por produtos produzidos no Brasil, ainda que por empresas estrangeiras aqui instaladas.
Collor fez o inverso, enfatizando sua economia com produtos importados, sob a desculpa de "melhorar" o produto nacional.
Como pensar assim diante dos horríveis automóveis russos da Lada não dá para entender.
Vendo o Orkut, se via o milagre da reabilitação de Collor, que também passou a ser blindado pela revista Isto É, que o colocou entre os "100 brasileiros mais influentes" de 2006.
Com a ajudinha da Isto É e do fã-clube collorido no Orkut, Collor foi eleito senador, demonstrando depois um desempenho muitíssimo medíocre.
Naqueles anos a Isto É ainda integrava a mídia "boazinha", na qual uma linha editorial conservadora tinha que ter compostura e ter um mínimo de profissionalismo.
Mas passaram-se os anos e Isto É e Fernando Collor hoje demonstram entrosados com o cenário reacionário de hoje, afinados com o governo temeroso de Michel Temer.
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