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MÁRIO KERTÈSZ NÃO SERÁ O SAMUEL WAINER DA NOVA ERA LULA


Diante da crise da plutocracia ou de alguma chance de reabilitação do ex-presidente Lula, oportunistas aparecem de vários cantos.

A intelectualidade "bacana", comprometida em reduzir a cultura popular numa ideologia da "pobreza linda" e da "mediocridade genial", bate ponto na bajulação do ex-presidente.

Funqueiros dão um tempo no seu bacanal junto aos barões da mídia hegemônica para pegarem carona no ativismo anti-Temer e pró-Lula.

Mas há também outros oportunistas, como barões da mídia de um segundo escalão que tentam obter vantagem em cima de uma possível volta de Lula à Presidência da República.

Aí entra o tendencioso Mário Kertèsz, empresário e dublê de radiojornalista, astro-rei da Rádio Metrópole FM, de Salvador.

Seu tendenciosismo é bem mais sutil do que se observa geralmente na grande mídia com sede ou filial em São Paulo.

Tendo origem como político da ARENA, apadrinhado por Antônio Carlos Magalhães e tendo sido prefeito biônico de Salvador, Mário Kertèsz é uma espécie de Paulo Maluf baiano.

Mais tarde, rompeu com seu padrinho político e, nos anos 1980, migrou para o PMDB, em sua segunda experiência como prefeito de Salvador, desta vez, eleito.

A partir daí, desenvolveu dois passatempos: se apropriar dos movimentos sociais progressistas e bancar o "comunicador".

Nesta segunda gestão, se envolveu com Roberto Pinho (mais tarde citado no escândalo do "mensalão" de Marcos Valério) e criaram um grande esquema de corrupção.

Kertèsz deixou uma gigantesca obra viária paralizada e, através de empresas "fantasmas", ele e Pinho montaram seus patrimônios pessoais.

O Maluf baiano - que em 1990 adotava uns trejeitos modernosos inspirados no presidente Fernando Collor - usou seu dinheiro para comprar rádios e uma parcela de ações na TV Bandeirantes local.

Além disso, Kertèsz foi designado por ACM, durante uma breve reconciliação com o padrinho, para ser o coveiro do Jornal da Bahia.

Mário Kertèsz destruiu a linha editorial original do JBa, de centro-esquerda, transformando-o num tabloide popularesco da linha do Notícias Populares.

Depois, Kertèsz tentou converter o JBa num clone do concorrente Tribuna da Bahia (com o qual compartilhava uma mesma gráfica), mas era tarde demais. O Jornal da Bahia acabou.

Em 2000, transformou a Rádio Cidade baiana, já descaraterizada por um conteúdo "AeMão" - tinha até um terrível programa esportivo com o risível nome de "Futebol Mix" - , na Rádio Metrópole FM atual.

A Metrópole é uma espécie de "CBN de porre" ou uma versão festiva da Band News FM, na qual Kertèsz é o astro-rei, promovendo o culto à sua personalidade.

A emissora, quando o rádio AM ainda tentava resistir, era uma "AM de terceira categoria" transmitida em FM.

Entre seus profissionais, há até um líder "espiritualista" acusado de pintar quadros fake creditados a pintores mortos.

Como pretenso jornalista, Mário Kertèsz é um sub-Bóris Casoy que pensa ser o Mino Carta.

Kertèsz se julga o dono das esquerdas na Bahia e ele quer brincar de "mídia de esquerda" para evitar que a mídia de esquerda cresça no Estado.

O astro-rei da Rádio Metrópole tenta um protagonismo nacional ao entrevistar Lula, obtendo assim seus quinze minutos de fama em todo o país.

Mas Kertèsz é bastante tendencioso e pouco confiável, até pelo seu histórico de corrupção.

Ele apoiou Fernando Henrique Cardoso em 2000, e abocanhou a dispensa de transmitir o programa A Voz do Brasil, noticiário nacional da Radiobras.

Diz uma piada que as opiniões que Kertèsz emite em seus programas não correspondem necessariamente às opiniões do dono da rádio, que é ele mesmo.

Kertèsz imagina que será o Samuel Wainer da vez, na possibilidade de retorno político de Lula.

Quem está a par dos fatos históricos, sabe que Samuel Wainer, a serviço dos Diários Associados, foi entrevistar o então ex-presidente Getúlio Vargas, em 1949.

Foi na própria fazenda de Vargas, em São Borja, aparentemente sem um propósito. Wainer parecia destinar-se a fazer apenas uma reportagens sobre plantações no Rio Grande do Sul.

A entrevista "repentina" impulsionou o "queremismo", e veio uma campanha, com direito a marcha - "Retrato do Velho", cantada por Francisco Alves - de Vargas novamente candidato e eleito presidente da República em 1950.

Neste segundo governo Vargas, no qual se fundou a hoje humilhada Petrobras, Wainer ganhou de presente um jornal, a Última Hora, único veículo midiático de apoio ao petebista.

Kertèsz pensa que será o Samuel Wainer da ocasião, no caso de Lula voltar à Presidência da República, e fazer crescer nacionalmente a sua Rádio Metrópole.

O esquerdismo de Kertèsz é tão falso que a mídia hegemônica, capaz de esculhambar até o Paulo Henrique Amorim, se derrete de amores com o dono da Rádio Metrópole.

Certa vez, o Estadão, geralmente ranzinza com a mídia alternativa, chamou Kertèsz de "um dos maiores comunicadores da Bahia".

A impressão que se tem é que Kertèsz, como um esperto barão da mídia, usa as esquerdas e os movimentos sociais como trampolim para a ascensão pessoal dele e de seu grupo empresarial.

Ele está se apropriando da reabilitação de Lula para depois obter as verbas públicas na hipótese do petista voltar à Presidência da República.

Kertèsz é um oportunista que faz seu império empresarial de fantasiar de "esquerdista" para evitar que a mídia esquerdista cresça e influencie a população baiana.

Na Bahia, há um detalhe curioso.

O coronelismo midiático não consegue dominar a população, daí os barões da mídia locais, vários apenas donos de rádio FM, e seus porta-vozes jornalísticos, tentarem uma pompa na pose de "senhores da opinião".

Aí vem aquela falácia: "a análise dos fatos como ninguém", "a opinião na medida certa", "o jornalista que está por dentro dos fatos", "os comentários direto das fontes".

Até o ruralista Marcos Medrado e o ex-prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, hoje homem de confiança do governo Michel Temer, viraram dublês de radiojornalistas com esse papo de "líder de opinião".

É um apelo que tenta ser mais verossímil que o de São Paulo, porque nesta cidade vários veículos midiáticos, como Folha, Estadão, CBN e Jovem Pan, se "queimaram" com seu indisfarçado reacionarismo.

Em Salvador, onde os "jornalistas de FM" comentam até sobre o que não entendem, o verniz de imparcialidade e até de pretenso esquerdismo precisa ser caprichado.

E mesmo assim eles não obtém audiência, tendo que sobreviver de audiências que compram de bares, postos de gasolina, lojas de shoppings, táxis e portarias de condomínios, para "anabolizar" o Ibope.

É o truque de usar ambientes coletivos, frequentados por centenas ou milhares de pessoas, para forjar "grande audiência".

Uma pessoa sintoniza, mas quem estiver na área vira "ouvinte", mesmo sem ter o menor interesse em ouvir a emissora.

E aí vemos o arrivismo de Mário Kertèsz, querendo ser o "bom moço" da grande mídia, buscando seu protagonismo na hipótese do ex-presidente voltar ao poder.

Vivemos a época da disputa de protagonismos, e os oportunistas da ciranda esquerdista se fazem de "amigos de Lula" visando obter dele as verbas estatais.

Mas, no caso de Lula não poder voltar ao poder, não será possível o astro-rei da Rádio Metrópole manter seu teatro do esquerdismo.

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