O SOL ENTROU NA CABEÇA DE ALEX TURNER (E), DOS ARCTIC MONKEYS, PELA MÚSICA DE LÔ BORGES.
Depois do fim da MPB FM, rádio dedicada à música brasileira no Rio de Janeiro, as FMs de pop adulto acabaram comendo poeira nos últimos dias.
Isso porque, quando divulgou o lançamento do sexto álbum dos Arctic Monkeys, o vocalista e guitarrista da banda britânica, Alex Turner, manifestou ter sido influenciado por ninguém menos que o cantor mineiro Lô Borges.
O novo álbum, intitulado Tranquility Base Hotel & Casino, teve uma lista de influências, pelo menos de parte do vocalista e principal compositor, divulgadas pela revista Mojo.
A lista já embaralha o público brasileiro médio, mesmo o de rock, que bovinamente deve ficar assustado por não conter aqueles "sucessos" e "ídolos" que eles estão acostumados a curtir.
SEM HITS FÁCEIS - Lista de músicas ouvidas por Alex Turner confundiriam as mentes do público médio que costuma ouvir música no Brasil.
Mesmo quando aparece um Rolling Stones, é uma música pouco conhecida, "Moonlight Mile", de Sticky Fingers, de 1971.
Sim, Alex Turner, nascido em 1986, ouvindo canções mais antigas. nomes como Nina Simone, Nino Rota e Ennio Morricone, e investindo em canção obscura dos Stones de 1971, é de arrepiar até mesmo os quarentões de primeira viagem no Brasil.
Aqui a "galera" (sic) de seus 35-40 anos, para ouvir uma música gravada antes de 1975 (o máximo de passado que conseguem "curtir"), precisa de um "gancho", digamos, contemporâneo.
Trilha de novela, trilha de filme blockbuster, regravação de algum figurão fácil do pop ou brega atual, ou algum outro contexto parecido.
Não fosse, por exemplo, Pulp Fiction, o pessoal dos seus 35-40 anos não saberia sequer se Dick Dale existiu ou não. E, mesmo assim, só ouvem "Misirlou" e nem sabem que a canção é de 1962.
Voltando à lista de Alex Turner, ele ainda citou Joe Cocker, mas não aquele de baboseiras como "Up Where We Belong", mas o bom soulman inglês que vibrou a plateia de Woodstock.
A música "Sandpaper Cadillac" é do álbum With a Little Help From My Friends, daquele mesmo ano de 1969, coisa distante.
Coisas antigas só servem, no Brasil, para alimentar o pedantismo de empresários e profissionais liberais que, quando se aproximam dos 45 ou 50 anos, precisam parecer, culturalmente, ter 20 anos a mais do que realmente têm.
Falando em Joe Cocker, vamos para as FMs de pop adulto, que até agora não supriram de maneira adequada o fim da MPB FM.
Alex Turner citou, em sua lista, a música "Aos Barões" de Lô Borges, um dos fundadores do movimento Clube da Esquina.
É aí que surge a vergonhosa situação das rádios de pop adulto e seus toca-CDs repetitivos.
O programador seleciona um punhado de músicas, a maioria as mesmíssimas canções estrangeiras de em média 35 anos atrás, e põe no toca-CD em opção random play e repeat.
Resultado: são os mesmos hits, tocados seis vezes ao dia, e, o que é pior, flash backs que são tão repetidos que deixam de ter a aura da época em que cada canção foi gravada.
Por exemplo, ninguém mais vê "Sultans of Swing", dos Dire Straits, como uma canção de 1978.
E essas velhas canções marteladas o tempo todo como se fossem sucessos de hoje, e são mais tocadas até do que as dez mais tocadas oficiais que aparecem nas páginas das rádios na Internet.
E são tocadas de maneira tão repetitiva - até "Repetition", do Information Society, não escapa dessa martelada - que mesmo intérpretes respeitáveis como Christopher Cross, Simply Red e Tina Turner passam a ser odiados diante de tanta repetição dos mesmos sucessos.
O fim da MPB FM não foi compensado e as FMs de pop adulto continuam paralíticas como sempre.
Elas deveriam, ao menos, diminuir a divulgação de música estrangeira, sobretudo hits previsíveis, e tocar canções menos óbvias de MPB.
Até agora, temos apenas quatro programas de MPB no dial FM do Rio de Janeiro.
Dois programas da MPB FM que foram para a Sul América Paradiso - Samba Social Clube e Palco MPB - , o JB do Brasil, da JB FM, e o programa de João Marcelo Bôscoli na "Rádio Globo AM" FM.
Há também o programa Faro, da Sul América Paradiso, que é apresentado por duas horas todo domingo e passa a ter também uma hora na quinta-feira.
Talvez tenha mais um ou outro programa que eu não saiba na ocasião. Mas é muito pouco para suprir a lacuna da MPB, além do fato de que, agora, MPB só rola mesmo o tempo inteiro em rádio de mercearia.
É vergonhoso que uma rádio da envergadura da JB FM, cuja campanha publicitária mostra até paisagens do Rio de Janeiro, priorize os velhos e mofados hits estrangeiros, chegando a ter 60% de estrangeiros contra 40% de nacionais na programação.
Desculpas não faltam para os gerentes artísticos de rádios de pop adulto - que sempre foram mais felizes tocando música nacional que estrangeira, esta em boa parte de gosto duvidoso - justificarem suas zonas de conforto das convicções pessoais.
Se tocam flash back o tempo todo, usam a falácia das "músicas de todos os tempos".
Se tocam mais estrangeiros que nacionais, alegam que os estrangeiros envolvem vários países (sobretudo EUA e Inglaterra) e "precisam de uma cobertura maior".
Mas são desculpas que não fazem sentido, ainda mais envolvendo músicas que, de tão tocadas, ninguém mais aguenta ouvir.
É vergonhoso que a MPB seja mais respeitada no exterior do que no Brasil.
Aqui a MPB é desprezada ou desrespeitada pelos sociopatas da Internet que "pedem respeito" aos ídolos brega-popularescos que curtem.
Sobretudo os chamados millenials brasileiros, cuja adoração pelo pop ultracomercial dos ídolos atuais é vista por eles como "verdade absoluta" para a qual não se deve questionar uma vírgula, mesmo que contra os bastidores escravocratas do K-Pop e do J-Pop (pop juvenil da Coreia do Sul e do Japão).
A admiração de Alex Turner pela música de Lô Borges não é o primeiro nem o último episódio em que um artista estrangeiro revela seu apreço à música brasileira.
Mas solta um alerta para os tempos atuais, em que a MPB foi desmoralizada por campanhas sucessivas pela intelectualidade "bacana", que hoje fugiu depois de atirar pedradas no edifício cultural brasileiro.
Agora, num contexto em que a plutocracia retomou o protagonismo, a intelectualidade "bacana" foi dispensada de se infiltrar nas forças progressistas e sabotar o debate cultural.
Eles aqui enfraqueceram a MPB. Mas a força da MPB continua reinando forte no coração de gringos como Alex Turner, para desespero das FMs de pop adulto que tocam mais música estrangeira.
Depois do fim da MPB FM, rádio dedicada à música brasileira no Rio de Janeiro, as FMs de pop adulto acabaram comendo poeira nos últimos dias.
Isso porque, quando divulgou o lançamento do sexto álbum dos Arctic Monkeys, o vocalista e guitarrista da banda britânica, Alex Turner, manifestou ter sido influenciado por ninguém menos que o cantor mineiro Lô Borges.
O novo álbum, intitulado Tranquility Base Hotel & Casino, teve uma lista de influências, pelo menos de parte do vocalista e principal compositor, divulgadas pela revista Mojo.
A lista já embaralha o público brasileiro médio, mesmo o de rock, que bovinamente deve ficar assustado por não conter aqueles "sucessos" e "ídolos" que eles estão acostumados a curtir.
SEM HITS FÁCEIS - Lista de músicas ouvidas por Alex Turner confundiriam as mentes do público médio que costuma ouvir música no Brasil.
Mesmo quando aparece um Rolling Stones, é uma música pouco conhecida, "Moonlight Mile", de Sticky Fingers, de 1971.
Sim, Alex Turner, nascido em 1986, ouvindo canções mais antigas. nomes como Nina Simone, Nino Rota e Ennio Morricone, e investindo em canção obscura dos Stones de 1971, é de arrepiar até mesmo os quarentões de primeira viagem no Brasil.
Aqui a "galera" (sic) de seus 35-40 anos, para ouvir uma música gravada antes de 1975 (o máximo de passado que conseguem "curtir"), precisa de um "gancho", digamos, contemporâneo.
Trilha de novela, trilha de filme blockbuster, regravação de algum figurão fácil do pop ou brega atual, ou algum outro contexto parecido.
Não fosse, por exemplo, Pulp Fiction, o pessoal dos seus 35-40 anos não saberia sequer se Dick Dale existiu ou não. E, mesmo assim, só ouvem "Misirlou" e nem sabem que a canção é de 1962.
Voltando à lista de Alex Turner, ele ainda citou Joe Cocker, mas não aquele de baboseiras como "Up Where We Belong", mas o bom soulman inglês que vibrou a plateia de Woodstock.
A música "Sandpaper Cadillac" é do álbum With a Little Help From My Friends, daquele mesmo ano de 1969, coisa distante.
Coisas antigas só servem, no Brasil, para alimentar o pedantismo de empresários e profissionais liberais que, quando se aproximam dos 45 ou 50 anos, precisam parecer, culturalmente, ter 20 anos a mais do que realmente têm.
Falando em Joe Cocker, vamos para as FMs de pop adulto, que até agora não supriram de maneira adequada o fim da MPB FM.
Alex Turner citou, em sua lista, a música "Aos Barões" de Lô Borges, um dos fundadores do movimento Clube da Esquina.
É aí que surge a vergonhosa situação das rádios de pop adulto e seus toca-CDs repetitivos.
O programador seleciona um punhado de músicas, a maioria as mesmíssimas canções estrangeiras de em média 35 anos atrás, e põe no toca-CD em opção random play e repeat.
Resultado: são os mesmos hits, tocados seis vezes ao dia, e, o que é pior, flash backs que são tão repetidos que deixam de ter a aura da época em que cada canção foi gravada.
Por exemplo, ninguém mais vê "Sultans of Swing", dos Dire Straits, como uma canção de 1978.
E essas velhas canções marteladas o tempo todo como se fossem sucessos de hoje, e são mais tocadas até do que as dez mais tocadas oficiais que aparecem nas páginas das rádios na Internet.
E são tocadas de maneira tão repetitiva - até "Repetition", do Information Society, não escapa dessa martelada - que mesmo intérpretes respeitáveis como Christopher Cross, Simply Red e Tina Turner passam a ser odiados diante de tanta repetição dos mesmos sucessos.
O fim da MPB FM não foi compensado e as FMs de pop adulto continuam paralíticas como sempre.
Elas deveriam, ao menos, diminuir a divulgação de música estrangeira, sobretudo hits previsíveis, e tocar canções menos óbvias de MPB.
Até agora, temos apenas quatro programas de MPB no dial FM do Rio de Janeiro.
Dois programas da MPB FM que foram para a Sul América Paradiso - Samba Social Clube e Palco MPB - , o JB do Brasil, da JB FM, e o programa de João Marcelo Bôscoli na "Rádio Globo AM" FM.
Há também o programa Faro, da Sul América Paradiso, que é apresentado por duas horas todo domingo e passa a ter também uma hora na quinta-feira.
Talvez tenha mais um ou outro programa que eu não saiba na ocasião. Mas é muito pouco para suprir a lacuna da MPB, além do fato de que, agora, MPB só rola mesmo o tempo inteiro em rádio de mercearia.
É vergonhoso que uma rádio da envergadura da JB FM, cuja campanha publicitária mostra até paisagens do Rio de Janeiro, priorize os velhos e mofados hits estrangeiros, chegando a ter 60% de estrangeiros contra 40% de nacionais na programação.
Desculpas não faltam para os gerentes artísticos de rádios de pop adulto - que sempre foram mais felizes tocando música nacional que estrangeira, esta em boa parte de gosto duvidoso - justificarem suas zonas de conforto das convicções pessoais.
Se tocam flash back o tempo todo, usam a falácia das "músicas de todos os tempos".
Se tocam mais estrangeiros que nacionais, alegam que os estrangeiros envolvem vários países (sobretudo EUA e Inglaterra) e "precisam de uma cobertura maior".
Mas são desculpas que não fazem sentido, ainda mais envolvendo músicas que, de tão tocadas, ninguém mais aguenta ouvir.
É vergonhoso que a MPB seja mais respeitada no exterior do que no Brasil.
Aqui a MPB é desprezada ou desrespeitada pelos sociopatas da Internet que "pedem respeito" aos ídolos brega-popularescos que curtem.
Sobretudo os chamados millenials brasileiros, cuja adoração pelo pop ultracomercial dos ídolos atuais é vista por eles como "verdade absoluta" para a qual não se deve questionar uma vírgula, mesmo que contra os bastidores escravocratas do K-Pop e do J-Pop (pop juvenil da Coreia do Sul e do Japão).
A admiração de Alex Turner pela música de Lô Borges não é o primeiro nem o último episódio em que um artista estrangeiro revela seu apreço à música brasileira.
Mas solta um alerta para os tempos atuais, em que a MPB foi desmoralizada por campanhas sucessivas pela intelectualidade "bacana", que hoje fugiu depois de atirar pedradas no edifício cultural brasileiro.
Agora, num contexto em que a plutocracia retomou o protagonismo, a intelectualidade "bacana" foi dispensada de se infiltrar nas forças progressistas e sabotar o debate cultural.
Eles aqui enfraqueceram a MPB. Mas a força da MPB continua reinando forte no coração de gringos como Alex Turner, para desespero das FMs de pop adulto que tocam mais música estrangeira.
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