CANASTRÕES MUSICAIS, CHITÃOZINHO & XORORÓ AGORA SÃO VISTOS COMO "GÊNIOS" DA MÚSICA BRASILEIRA.
Sob a desculpa do "combate ao preconceito", os preconceitos culturais, que supostamente seriam eliminados com o discurso da aceitação forçada do brega-popularesco, tornaram-se ainda piores.
O preconceito não se volta à música de qualidade duvidosa, mas à música de reconhecido valor.
Os mais jovens passaram a ouvir junk food musical, como aquela criança que não quer comer salada, pedindo para comer só fritura.
Lendo o livro A Tolice da Inteligência Brasileira, de Jessé Souza, posso aperfeiçoar meus questionamentos sobre a supremacia da breguice musical no Brasil.
Foi preciso o sociólogo obter visibilidade com este e outros livros para percebermos a cilada que os intelectuais "bacanas" deixaram o Brasil sucumbir culturalmente.
Aquela choradeira de "combate ao preconceito" às expressões musicais e comportamentais de gosto duvidoso, que atraíam grande público - não sem a pressão do poder midiático, que patrocina os ídolos "populares demais" - , não resolveu os problemas reais do preconceito social.
Pelo contrário, a pregação insistente pela aceitação do brega criava aberrações que nem as esquerdas eram capazes de assumir.
Enquanto, no mundo "real", a bregalização era defendida por periódicos de esquerda, num proselitismo trazido por intelectuais alienígenas ("educados" pela mídia venal), como Pedro Alexandre Sanches, nas redes sociais essa mesma bregalização era defendida por sociopatas.
Isso criava uma interpretação surreal: se lermos apenas o que a intelectualidade "bacana" - tida como "legal" num contexto de anti-intelectualismo predominante - publica, vamos supor que, nas redes sociais, os mal-educados sociopatas são fãs dos refinados Bossa Nova e Clube da Esquina.
Isso não tem sentido lógico: eu mesmo pude conferir que os sociopatas ouvem "funk", axé-music, "sertanejo" e o que vier de brega-popularesco que faça muito sucesso.
Em 2005, enquanto os hoje "coxinhas" Zezé di Camargo & Luciano eram o prato principal do cardápio proselitista oferecido às esquerdas, trabalhados sob suposta imagem "humanista", nas redes sociais os sociopatas patrulhavam com cyberbullying quem contestava a dupla.
A questão do "popular demais", que muitos ainda hoje supõem ter derrubado preconceitos sociais muito grandes - o que não faz sentido, porque depois desse "combate ao preconceito" vemos manifestações preconceituosas ainda mais abertas - remete ao "culturalismo".
Jessé Souza questiona o "culturalismo" como um processo de manipulação social baseado num maniqueísmo que leva sempre as elites sócio-econômicas em grande vantagem.
Ele analisa esse discurso que coloca o "espírito", associado a ideias como "racionalidade" e "moralidade", em contraponto com o "corpo", associado a ideias como "emoção" e "sensualidade".
Analisando e problematizando esse maniqueísmo, Jessé aponta contrastes como a divinização do "mercado", associado ao "espírito", e a criminalização do Estado, associado ao "corpo".
"O "espírito" é o lugar das funções nobres e superiores do intelecto e da moralidade distanciada. O "corpo" é o lugar das paixões sem controle e das necessidades animais", escreve Jessé em A Tolice da Inteligência Brasileira.
Dentro desse maniqueísmo, que se torna a base do pensamento elitista brasileiro a partir de Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro e Fernando Henrique Cardoso, a intelectualidade "bacana" adestrada por este último segue o mesmo discurso.
A única diferença desses "filhos de FHC" que, no entanto, tiveram sua obsessão em atuar no campo adversário das esquerdas, é que há uma inversão de abordagem, como numa "carnavalização" do discurso.
Eles acabam criminalizando as "elites cultas" e divinizando o "popular demais".
Mas isso cria uma série de problemas e impasses, e a intelectualidade "bacana", não raro, acabava reafirmando os preconceitos que dizia combater.
O principal deles é a glamourização da pobreza e a espetacularização da imagem caricatural do povo pobre, "infantilizada" e "imbecilizada" pelo mercado "popular demais" difundido por veículos "populares" que, no entanto, pertencem a grupos oligárquicos dominantes.
Há também um desvio de foco, vergonhosamente publicado em páginas esquerdistas, contrastando suas pautas relacionadas aos movimentos sociais.
Isso porque, nas editorias política, econômica e social, a mídia de esquerda mostra o povo pobre como corajoso, batalhador, insubmisso, nada ingênuo e bastante inteligente e articulado.
Chega a editoria cultural e o povo pobre vira outra coisa: uma multidão ingênua, tola, medíocre, precária e infantilizada, que vai como gado para o local onde o "ídolo do momento" está sendo apresentado.
Nada mais preconceituoso que isso, embora houvesse o clamor choroso de "combater o preconceito", como se aceitação qualquer nota (e bastante cheia de preconceitos) fosse "ruptura de preconceito".
Durante muito tempo esse discurso foi visto como "progressista", pela imagem supostamente positiva e agradável que se fazia sobre as classes populares.
Mas isso permitiu que as elites se sentissem fortalecidas por causa da imagem infantilizada difundida sobre as classes populares e a exaltação de ídolos comerciais marcados pela mediocridade artística e cultural.
Uma prova que a intelectualidade "bacana", com sua ideologia do "popular demais" e da "cultura transbrasileira" estava afinada com o "culturalismo" das elites do atraso era a forma divinizada que os EUA e o "deus mercado" era difundida até mesmo pelo dito "bom esquerdista" Pedro Sanches.
A bregalização era a esperança de que os valores pop - símbolo lúdico da supremacia midiática dos EUA - iriam "modernizar" a provinciana música brasileira, da mesma forma que o "mercado" era visto como provedor de carreiras sustentáveis que sobrevivam à efemeridade de modismos.
Outra prova é que esse discurso, cujos exemplos pioneiros incluem Milton Moura e Paulo César de Araújo, nunca inspirou qualquer repúdio da mídia venal, que difundiu a bregalização com maior intensidade ainda.
O "funk", por exemplo, ganhou visibilidade e prestígio pelo apoio convicto de pessoas não lá muito progressistas: Xuxa Meneghel, Luciano Huck, Alexandre Frota, Susana Vieira, Juliana Paes, Danilo Gentili.
Também, o ritmo inspirado no miami bass da Flórida anti-castrista não deveria ser, realmente, o símbolo de "esquerdismo cultural" que tão tendenciosamente se difundiu.
O proselitismo que ocorria paralelamente ao carnaval da mídia venal - que também difundia o "popular demais" triunfante no embalo dos barões da grande mídia - gerou um efeito bastante danoso.
Os mais jovens passaram a ter um preconceito terrível contra a música de qualidade, que definem como "chata", "complicada" e "insuportável".
Nomes que simbolizavam as baixarias musicais dos anos 1990 hoje são vistos como "geniais" e "respeitáveis", como Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, É O Tchan, Raça Negra e até o cômico Grupo Molejo.
A mediocridade musical que marcou a década noventista agora é tida como "genial" e, pasmem, mais intocável do que qualquer medalhão do establishment da MPB.
A crítica musical também ajuda, superestimando aspectos técnicos e profissionais dos ídolos neo-bregas (bregas pseudo-sofisticados) como se isso fosse "reconhecido valor artístico".
Não é. O que os ídolos da geração brega dos anos 1990 tiveram foi uma cosmética visual e musical, tornando-se apenas "apresentáveis", como se, parafraseando um comercial da NET, fizessem um som "tipo MPB".
Isso não resolve problemas como o comercialismo extremo, a canastrice artística ou mesmo a qualidade musical, que só fica "mais digestível", como se música fosse um mero produto e não uma expressão pessoal de uma pessoa ou grupo.
Mas, para o público mais jovem, que não acompanhou os grandes eventos culturais e só os conhece, quando muito, de terceiros, não tem essa percepção.
Para eles, não há diferença entre um nome do Clube da Esquina e um neo-brega "sertanejo" dos anos 1990.
Isso complica na hora de apresentar nomes mais substanciais da música brasileira. Já tem gente reagindo a isso, perguntando: "está na trilha da novela da Globo"?
Isso também revela o vínculo do "popular demais" com o poder midiático, apesar de todos os esforços ideológicos da intelectualidade "bacana", que faz serviço free lancer para os barões da mídia atuando na trincheira oposta, em afirmar o contrário.
Sanches, ao entrevistar o documentarista Chico Kertèsz - filho de outro usurpador das esquerdas, o astro-rei da Rádio Metrópole FM, Mário Kertèsz - , tentou definir a axé-music como um movimento que "nasceu" sob o carlismo e o tucanato e "acabou petista".
Grande erro. A falácia de Sanches em dizer que a axé-music se "estatizou", escondendo práticas tipicamente plutocráticas de seus intérpretes, acusados de "pejotizar" músicos de apoio e dançarinos, era apenas pretexto para incluir os axézeiros na Lei Rouanet.
A axé-music continua tão privatista quanto antes, como se fosse uma McDonald's da música baiana.
Agora que enfraquece de tão repetitiva, a axé-music é que tentou recorrer ao apoio estatal, coisa que, aliás, a Globo, Folha e Abril também recorriam para socorrer seus veículos.
O "popular demais" se consolidou e hoje nós temos o ultracomercialismo musical com Anitta, Luan Santana, Jojo Toddynho, Marília Mendonça, Simone & Simaria e outros.
Todos sintonizados com o pop estadunidense e até se entrosando com alguns ídolos do comercialismo pop mundial (também devotos da "religião da Billboard").
Isso em nada favoreceu a cultura brasileira de verdade, que agora é que sofre o verdadeiro preconceito por parte das gerações mais novas.
Estrangulada pelo boicote do mercado e pelo descaso da mídia, a MPB sobrevive em eventos saudosistas e na velha autorreverência que mais parece ser um réquiem para si mesma.
Ninguém contradisse a tempo a falácia do "combate ao preconceito" que defendia a aceitação submissa a formas preconceituosas de abordagem do povo pobre.
O proselitismo da intelectualidade "bacana" só fortaleceu o poder midiático que patrocinava o "popular demais".
A intelectualidade "bacana" invadia as redações esquerdistas, sendo até contratadas por elas, para impor seu IPES-IBAD pós-tropicalista em prol do "funk", do "sertanejo", do tecnobrega etc.
Isso enfraqueceu os debates culturais e só aumentou ainda mais os preconceitos que atingem o povo pobre, cada vez mais humilhado pela mídia venal.
É irônico que o propagandista dessa ideologia, Pedro Alexandre Sanches, teria entrevistado Jessé Souza, sendo o farofafeiro um discípulo do "culturalismo" contestado pelo sociólogo.
Mas também entrevistar Souza não traz diferência ideológica. Até O Globo entrevistou Jessé. E Miriam Leitão já entrevistou muito esquerdista.
O "racismo culturalista" mencionado por Jessé Souza apenas comprou um quilo de farinha para fazer farofa-fá.
Sob a desculpa do "combate ao preconceito", os preconceitos culturais, que supostamente seriam eliminados com o discurso da aceitação forçada do brega-popularesco, tornaram-se ainda piores.
O preconceito não se volta à música de qualidade duvidosa, mas à música de reconhecido valor.
Os mais jovens passaram a ouvir junk food musical, como aquela criança que não quer comer salada, pedindo para comer só fritura.
Lendo o livro A Tolice da Inteligência Brasileira, de Jessé Souza, posso aperfeiçoar meus questionamentos sobre a supremacia da breguice musical no Brasil.
Foi preciso o sociólogo obter visibilidade com este e outros livros para percebermos a cilada que os intelectuais "bacanas" deixaram o Brasil sucumbir culturalmente.
Aquela choradeira de "combate ao preconceito" às expressões musicais e comportamentais de gosto duvidoso, que atraíam grande público - não sem a pressão do poder midiático, que patrocina os ídolos "populares demais" - , não resolveu os problemas reais do preconceito social.
Pelo contrário, a pregação insistente pela aceitação do brega criava aberrações que nem as esquerdas eram capazes de assumir.
Enquanto, no mundo "real", a bregalização era defendida por periódicos de esquerda, num proselitismo trazido por intelectuais alienígenas ("educados" pela mídia venal), como Pedro Alexandre Sanches, nas redes sociais essa mesma bregalização era defendida por sociopatas.
Isso criava uma interpretação surreal: se lermos apenas o que a intelectualidade "bacana" - tida como "legal" num contexto de anti-intelectualismo predominante - publica, vamos supor que, nas redes sociais, os mal-educados sociopatas são fãs dos refinados Bossa Nova e Clube da Esquina.
Isso não tem sentido lógico: eu mesmo pude conferir que os sociopatas ouvem "funk", axé-music, "sertanejo" e o que vier de brega-popularesco que faça muito sucesso.
Em 2005, enquanto os hoje "coxinhas" Zezé di Camargo & Luciano eram o prato principal do cardápio proselitista oferecido às esquerdas, trabalhados sob suposta imagem "humanista", nas redes sociais os sociopatas patrulhavam com cyberbullying quem contestava a dupla.
A questão do "popular demais", que muitos ainda hoje supõem ter derrubado preconceitos sociais muito grandes - o que não faz sentido, porque depois desse "combate ao preconceito" vemos manifestações preconceituosas ainda mais abertas - remete ao "culturalismo".
Jessé Souza questiona o "culturalismo" como um processo de manipulação social baseado num maniqueísmo que leva sempre as elites sócio-econômicas em grande vantagem.
Ele analisa esse discurso que coloca o "espírito", associado a ideias como "racionalidade" e "moralidade", em contraponto com o "corpo", associado a ideias como "emoção" e "sensualidade".
Analisando e problematizando esse maniqueísmo, Jessé aponta contrastes como a divinização do "mercado", associado ao "espírito", e a criminalização do Estado, associado ao "corpo".
"O "espírito" é o lugar das funções nobres e superiores do intelecto e da moralidade distanciada. O "corpo" é o lugar das paixões sem controle e das necessidades animais", escreve Jessé em A Tolice da Inteligência Brasileira.
Dentro desse maniqueísmo, que se torna a base do pensamento elitista brasileiro a partir de Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro e Fernando Henrique Cardoso, a intelectualidade "bacana" adestrada por este último segue o mesmo discurso.
A única diferença desses "filhos de FHC" que, no entanto, tiveram sua obsessão em atuar no campo adversário das esquerdas, é que há uma inversão de abordagem, como numa "carnavalização" do discurso.
Eles acabam criminalizando as "elites cultas" e divinizando o "popular demais".
Mas isso cria uma série de problemas e impasses, e a intelectualidade "bacana", não raro, acabava reafirmando os preconceitos que dizia combater.
O principal deles é a glamourização da pobreza e a espetacularização da imagem caricatural do povo pobre, "infantilizada" e "imbecilizada" pelo mercado "popular demais" difundido por veículos "populares" que, no entanto, pertencem a grupos oligárquicos dominantes.
Há também um desvio de foco, vergonhosamente publicado em páginas esquerdistas, contrastando suas pautas relacionadas aos movimentos sociais.
Isso porque, nas editorias política, econômica e social, a mídia de esquerda mostra o povo pobre como corajoso, batalhador, insubmisso, nada ingênuo e bastante inteligente e articulado.
Chega a editoria cultural e o povo pobre vira outra coisa: uma multidão ingênua, tola, medíocre, precária e infantilizada, que vai como gado para o local onde o "ídolo do momento" está sendo apresentado.
Nada mais preconceituoso que isso, embora houvesse o clamor choroso de "combater o preconceito", como se aceitação qualquer nota (e bastante cheia de preconceitos) fosse "ruptura de preconceito".
Durante muito tempo esse discurso foi visto como "progressista", pela imagem supostamente positiva e agradável que se fazia sobre as classes populares.
Mas isso permitiu que as elites se sentissem fortalecidas por causa da imagem infantilizada difundida sobre as classes populares e a exaltação de ídolos comerciais marcados pela mediocridade artística e cultural.
Uma prova que a intelectualidade "bacana", com sua ideologia do "popular demais" e da "cultura transbrasileira" estava afinada com o "culturalismo" das elites do atraso era a forma divinizada que os EUA e o "deus mercado" era difundida até mesmo pelo dito "bom esquerdista" Pedro Sanches.
A bregalização era a esperança de que os valores pop - símbolo lúdico da supremacia midiática dos EUA - iriam "modernizar" a provinciana música brasileira, da mesma forma que o "mercado" era visto como provedor de carreiras sustentáveis que sobrevivam à efemeridade de modismos.
Outra prova é que esse discurso, cujos exemplos pioneiros incluem Milton Moura e Paulo César de Araújo, nunca inspirou qualquer repúdio da mídia venal, que difundiu a bregalização com maior intensidade ainda.
O "funk", por exemplo, ganhou visibilidade e prestígio pelo apoio convicto de pessoas não lá muito progressistas: Xuxa Meneghel, Luciano Huck, Alexandre Frota, Susana Vieira, Juliana Paes, Danilo Gentili.
Também, o ritmo inspirado no miami bass da Flórida anti-castrista não deveria ser, realmente, o símbolo de "esquerdismo cultural" que tão tendenciosamente se difundiu.
O proselitismo que ocorria paralelamente ao carnaval da mídia venal - que também difundia o "popular demais" triunfante no embalo dos barões da grande mídia - gerou um efeito bastante danoso.
Os mais jovens passaram a ter um preconceito terrível contra a música de qualidade, que definem como "chata", "complicada" e "insuportável".
Nomes que simbolizavam as baixarias musicais dos anos 1990 hoje são vistos como "geniais" e "respeitáveis", como Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, É O Tchan, Raça Negra e até o cômico Grupo Molejo.
A mediocridade musical que marcou a década noventista agora é tida como "genial" e, pasmem, mais intocável do que qualquer medalhão do establishment da MPB.
A crítica musical também ajuda, superestimando aspectos técnicos e profissionais dos ídolos neo-bregas (bregas pseudo-sofisticados) como se isso fosse "reconhecido valor artístico".
Não é. O que os ídolos da geração brega dos anos 1990 tiveram foi uma cosmética visual e musical, tornando-se apenas "apresentáveis", como se, parafraseando um comercial da NET, fizessem um som "tipo MPB".
Isso não resolve problemas como o comercialismo extremo, a canastrice artística ou mesmo a qualidade musical, que só fica "mais digestível", como se música fosse um mero produto e não uma expressão pessoal de uma pessoa ou grupo.
Mas, para o público mais jovem, que não acompanhou os grandes eventos culturais e só os conhece, quando muito, de terceiros, não tem essa percepção.
Para eles, não há diferença entre um nome do Clube da Esquina e um neo-brega "sertanejo" dos anos 1990.
Isso complica na hora de apresentar nomes mais substanciais da música brasileira. Já tem gente reagindo a isso, perguntando: "está na trilha da novela da Globo"?
Isso também revela o vínculo do "popular demais" com o poder midiático, apesar de todos os esforços ideológicos da intelectualidade "bacana", que faz serviço free lancer para os barões da mídia atuando na trincheira oposta, em afirmar o contrário.
Sanches, ao entrevistar o documentarista Chico Kertèsz - filho de outro usurpador das esquerdas, o astro-rei da Rádio Metrópole FM, Mário Kertèsz - , tentou definir a axé-music como um movimento que "nasceu" sob o carlismo e o tucanato e "acabou petista".
Grande erro. A falácia de Sanches em dizer que a axé-music se "estatizou", escondendo práticas tipicamente plutocráticas de seus intérpretes, acusados de "pejotizar" músicos de apoio e dançarinos, era apenas pretexto para incluir os axézeiros na Lei Rouanet.
A axé-music continua tão privatista quanto antes, como se fosse uma McDonald's da música baiana.
Agora que enfraquece de tão repetitiva, a axé-music é que tentou recorrer ao apoio estatal, coisa que, aliás, a Globo, Folha e Abril também recorriam para socorrer seus veículos.
O "popular demais" se consolidou e hoje nós temos o ultracomercialismo musical com Anitta, Luan Santana, Jojo Toddynho, Marília Mendonça, Simone & Simaria e outros.
Todos sintonizados com o pop estadunidense e até se entrosando com alguns ídolos do comercialismo pop mundial (também devotos da "religião da Billboard").
Isso em nada favoreceu a cultura brasileira de verdade, que agora é que sofre o verdadeiro preconceito por parte das gerações mais novas.
Estrangulada pelo boicote do mercado e pelo descaso da mídia, a MPB sobrevive em eventos saudosistas e na velha autorreverência que mais parece ser um réquiem para si mesma.
Ninguém contradisse a tempo a falácia do "combate ao preconceito" que defendia a aceitação submissa a formas preconceituosas de abordagem do povo pobre.
O proselitismo da intelectualidade "bacana" só fortaleceu o poder midiático que patrocinava o "popular demais".
A intelectualidade "bacana" invadia as redações esquerdistas, sendo até contratadas por elas, para impor seu IPES-IBAD pós-tropicalista em prol do "funk", do "sertanejo", do tecnobrega etc.
Isso enfraqueceu os debates culturais e só aumentou ainda mais os preconceitos que atingem o povo pobre, cada vez mais humilhado pela mídia venal.
É irônico que o propagandista dessa ideologia, Pedro Alexandre Sanches, teria entrevistado Jessé Souza, sendo o farofafeiro um discípulo do "culturalismo" contestado pelo sociólogo.
Mas também entrevistar Souza não traz diferência ideológica. Até O Globo entrevistou Jessé. E Miriam Leitão já entrevistou muito esquerdista.
O "racismo culturalista" mencionado por Jessé Souza apenas comprou um quilo de farinha para fazer farofa-fá.
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