Depois de Luciano Huck, a saída do jurista e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, da corrida presidencial, foi mais um incidente a atingir quem esperava um nome palatável dentro da perspectiva "liberal" pós-2016.
Um dos opositores do governo Dilma Rousseff, Joaquim Barbosa estava quase sendo um "Ciro Gomes da direita", no sentido de combinar ideias liberais com alguma inclinação progressista.
O PSB, do qual Barbosa está filiado, compreendeu a decisão do jurista, que desistiu de concorrer ao cargo presidencial, e elogiou sua trajetória jurídica.
Barbosa seria uma das possíveis apostas da chamada "não-política", simbolizando uma das alternativas ditas "independentes" do jogo político.
Apesar de sua atuação contra o governo Dilma e contra Lula, no calor da Operação Lava Jato, Joaquim moderou sua postura oposicionista assim que deixou o STF.
Não era um nome progressista, como se vê nas alternativas à candidatura de Lula, como Manuela d'Ávila e Guilherme Boulos.
Mas parecia ser um contraponto aparente a Ciro Gomes, por ambos serem liberais com leve acento progressista, embora numa trincheira oposta a do político cearense.
Há muito o PSB não era um partido de esquerda.
Aliás, o Partido Socialista Brasileiro era socialista de nome, mas seu DNA tem origens na União Democrática Nacional (UDN), do qual a sigla "socialista" se tornou uma dissidência.
A UDN, sabemos, se extingiu em 1965, mas sua base de membros passou a compor a "nata" da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido mais conservador da ditadura militar.
Essa "nata", depois, passou a compor outras siglas: PDS, PFL e, atualmente, o DEM. Dentro dessa interpretação, podemos dizer que o DEM é a mais recente encarnação da UDN.
No momento, o DEM busca articular uma aliança entre o PSDB de Geraldo Alckmin e o MDB, mas isso é outra história.
O que se pode dizer é que os "candidatos de sempre", como o próprio Alckmin, mais Marina Silva e o próprio Ciro Gomes.
Atualmente, Ciro Gomes é alvo de muita polêmica como o "plano B" da candidatura Lula. Setores das esquerdas ligados ao PT estão considerando apoiar o político cearense na corrida presidencial.
Ciro tem a vantagem de ser tolerado pela mídia conservadora e pode atrair dos "órfãos" da candidatura Luciano Huck aos seguidores de Lula mais céticos quanto à volta por cima do petista, hoje preso em Curitiba.
Por outro lado, Ciro também tem a simpatia de setores das esquerdas, que o veem como um potencial substituto de Lula.
O problema é que Ciro também apresenta posturas contraditórias, aqui e ali.
Ele adotou uma postura hesitante sobre a prisão do ex-presidente Lula e apareceu num evento com integrantes ligados ao Instituto Millenium.
Por outro lado, Ciro promete acabar com as reformas do governo Temer.
Não se sabe de que lado realmente Ciro está e se ele irá fazer um governo progressista, mas o fato dele aparentemente não perturbar o sono da plutocracia é algo a considerar.
Enquanto isso, Lula - que recentemente pôde receber o ativista Leonardo Boff - continua favorito nas pesquisas e, oficialmente, ainda possível candidato pelo Partido dos Trabalhadores.
Numa semana em que os desabrigados do edifício Wilton Paes de Almeida ainda aguardam solução após a tragédia de Primeiro de Maio e, finalmente, haverá a reconstituição do atentado contra Marielle Franco e Anderson Gomes, o cenário da corrida presidencial continua nebuloso.
Até agora, os partidários da retomada conservadora de 2016 não conseguiram um candidato forte para a sucessão de Michel Temer.
O fantasma do golpismo radical, representado por Jair Bolsonaro, ainda ronda, sobretudo depois que uma bandeira anticomunista foi colocada no Morro do Corcovado, onde fica o Cristo Redentor.
É claro que, vista de longe, a faixa, sem uma sutileza no apelo visual, mais parecia pró-comunista, o que mostra que os reacionários extremos cometem muitas gafes.
Mas o grande risco é que esses atrapalhados, se chegarem ao poder, poderão simplesmente destruir o Brasil. A burrice também pode ser perigosa.
Comentários
Postar um comentário