Não é preciso analisar muito para sabermos por que o chamado Espiritismo brasileiro se tornou uma religião bastante reacionária e extremamente retrógrada.
Esta religião, que eu segui entre 1984 e 2012, e que nunca trouxe de positivo para minha vida, é, na verdade, uma gigantesca, aberrante e vergonhosa traição.
Ela se desenvolveu no Brasil traindo de maneira irresponsável e leviana os ensinamentos da Doutrina Espírita original, desenvolvida pelo pedagogo Leon Rivail, o Allan Kardec, em prol de uma repaginação do Catolicismo medieval português, introduzido no Brasil pelos jesuítas.
Pior: a doutrina brasileira vomita no prato servido pelo pedagogo e depois lhe bajula e alega seguir com fidelidade canina o seu legado.
Segundo os críticos do que se conhece como deturpação espírita, evocou-se um jesuíta, o Padre Manuel da Nóbrega, que ganhou um codinome e virou "protetor" de um arrivista que se ascendeu com mais habilidade do que os antigos picaretas Marcelo Nascimento e Frank Abagnale Jr..
Esse arrivista tornou-se o símbolo dessa doutrina brasileira que desprezou as lições originais e virou um carnaval religioso dos mais tenebrosos.
Os "médiuns", que na França eram figuras discretíssimas às quais quase não se revelava o nome completo, mas sobrenomes precedidos de vocativos como "senhor" ou "senhora", no Brasil viraram uma monstruosidade das mais vergonhosas.
O termo "médium" virou algo mais próximo do termo "mídia" e associado claramente à mídia venal. A figura que lança obras fake com nomes de mortos ou que faz pretensas curas perfurando abdomens com facões ou tesouras sujas sob a desculpa de curar tumores.
O "médium", tão midiático quanto um juiz da Operação Lava Jato, virou também um "filantropo" de ficção de novela, cuja "caridade" gera mais adoração a figuras desse tipo do que resultados sociais concretos e definitivos.
Aliás, esses "médiuns" nunca praticaram caridade. Eles apenas alimentam sua promoção pessoal pela caridade de terceiros.
As pessoas comuns é que gastam dinheiro e doam seus pertences às instituições que, praticamente, ficam de braços cruzados, se limitando, na melhor das hipóteses, a meras distribuidoras da caridade alheia.
Ou então esperam as verbas estatais - estas instituições "espíritas" são registradas como "instituições filantrópicas" - , quase sempre superfaturadas, para alimentar os cofres de tais instituições.
Desvios de dinheiro e bens são constantes. De repente aquelas roupas doadas "para os descamisados" vão ser revendidas em brechós, para alimentar mais dinheiro.
Os próprios "médiuns" também não possuíram a "vida de pobreza" que seus fanáticos seguidores - por intermédio da Rede Globo e afins - tanto acreditam ser ou ter sido.
Eles vivem como se fossem aristocratas da realeza britânica, com a única diferença de que dispensam o aparato luxuoso e pomposo.
Muito antes do príncipe Harry e sua Meghan Markle quebrarem protocolos, os "médiuns" brasileiros quebraram inúmeros protocolos de sua vida em mordomias.
Eles sempre viajaram em aviões de primeira classe, hospedavam em bons hotéis, comiam do bom e do melhor, para levar o que dizem ser a "boa nova", um engodo de mensagens moralistas e palavras piegas.
E ainda ganhavam prêmios opulentos, depois de bajular os ricos e poderosos.
Com que dinheiro esses "médiuns" viajam para fazer turismo no Brasil e no mundo? Desviando o dinheiro da caridade? Acolhendo as "lavagens" financeiras das grandes empresas?
Os "médiuns" vivem do culto à personalidade e fazem espetáculos de pretensa filantropia tão ostentosos, só para doar uns parcos donativos que, no caso dos mantimentos, se esgotam em duas semanas, enquanto a ação de "caridade" relacionada é comemorada por meses.
Mas aí alguém pergunta sobre os "projetos sociais".
Aí tem outro problema.
É aquela medida, aparentemente correta e necessária, porém com aspectos duvidosos, que é a de abrigar pobres e doentes ou de oferecer educação à população carente.
O problema não está nessas ações, mas da forma como se faz essa "caridade".
E o que o Espiritismo brasileiro faz dela não é a coisa boa que se pensa. É uma espécie de "cativeiro" social, trazido por uma religião que, aqui no Brasil, vestiu a camisa da Teologia do Sofrimento (tendência medieval da Igreja Católica), conforme avisam especialistas e críticos.
São meros internatos, nos quais a "ajuda ao próximo" é feita sob o preço do proselitismo religioso, incluindo valores moralistas e uma pedagogia em padrão análogo ao da Escola Sem Partido.
Não se sabe o que ocorre dentro dessas instituições, mas será realmente amor que ali ocorre?
Estou relendo O Ateneu, de Raul Pompeia, e a instituição de ensino da ficção (mas inspirada na infância do autor) era também, por fora, vista como se fosse um "paraíso na Terra".
Por dentro, porém, o Ateneu do romance de 1888 era um inferno cheio de conflitos sociais dos mais perversos. Até um homicídio ocorreu em suas imediações.
Não posso dizer sobre o que realmente há nas instituições "espíritas". Mas, quando muito, os mais pobres saem "emancipados", porém se tornam figuras bastante conservadoras e reacionárias.
A religião "espírita" que defende o sofrimento humano e subestima a vida que temos, pregando para os outros aceitarem desgraças e impasses com resignação, sem escrúpulos de ver vidas desperdiçarem com tragédias repentinas e infortúnios incontornáveis, deve ser questionada até na "caridade".
Deveriam haver jornalistas investigativos vendo seus bastidores, vendo como os traidores de Kardec e produtores de obras fake usam a "caridade" como trampolim para sua promoção social.
A religião se encontra numa situação de extrema gravidade, comparável ao da Cientologia e da seita NXIVM, na qual se envolveu a outrora estrela do seriado Smallville, Allison Mack.
Mas, no Brasil, o que vemos é que a mídia brasileira virou um clube Hípica, clube fechado mencionado, certa vez, pelo saudoso jornalista Alberto Dines.
Contou ele que, na "Hípica", seus associados, por mais que se detestassem, evitavam se denunciar ou falar mal uns dos outros. Diante de tantos jogos de interesses, eles são privilegiados que se blindam uns aos outros.
E isso faz com que nossa grande mídia esteja bem menos comprometida com certas informações graves.
Não se pode noticiar a corrupção de juízes e procuradores, subestima-se a corrupção de políticos de tendência mais conservadora, não se pode sequer revelar as doenças graves que machistas assassinos das próprias mulheres sofrem, pelos danos que eles causaram à própria saúde.
Ventilou-se que até um velho machista desses estava "muito ativo nas redes sociais" (na verdade, é o seu assessor de imprensa que está). Só faltou dizer que o velho figurão virou youtuber.
E ninguém denuncia os midiáticos "médiuns" que querem se promover às custas da caridade alheia e ainda querem ter uma reputação de "ativistas sociais" e "progressistas", mesmo abertamente reacionários.
E aí alguém revela que até o MST ajuda muito mais do que os "médiuns" brasileiros. Só que a sociedade reaça não gosta. Para ela, é melhor exaltar os livros fake com o nome de Humberto de Campos que circulam livremente nas livrarias.
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