Em São Paulo, são comuns os incêndios que atingem comunidades populares. Várias favelas foram consumidas pelos diversos incêndios em várias partes da capital paulista.
Isso já aponta o lado realista e macabro que está oculto no discurso da intelectualidade "bacana" e festiva, que defende a bregalização cultural e fala apenas do lado cor-de-rosa das "periferias".
Apesar desses intelectuais usarem espaços da mídia esquerdista, alguns imitando feito papagaios os questionamentos que intelectuais progressistas fazem na mídia alternativa, a intelligentzia tida como "legal" e "provocativa" faz o serviço free lancer dos barões da mídia hegemônica.
Essa intelectualidade festiva prega o "culturalismo" criticado por Jessé Souza, para depois bajular o mesmo sociólogo e até fazer entrevista com ele, como se "concordasse" com seus princípios.
É esse IPES-IBAD pós-tropicalista que fala da Disneylândia de ruas sujas de lixo, casas velhas, prostíbulos infectados, idosos se embriagando em botecos e pobres vendendo produtos piratas e contrabandeados com o subemprego de camelôs.
Durante anos, a mídia esquerdista também mostrava seus "dois Brasis".
Na editoria política, vínhamos a luta do povo pobre pelos seus direitos e por qualidade de vida.
Na editoria cultural, todavia, via-se a espetacularização da pobreza sob a desculpa esfarrapada do "combate ao preconceito".
Um "combate ao preconceito" que pedia a todos a aceitação de formas preconceituosas de abordagem das classes populares.
Essa pegadinha deixou as esquerdas desnorteadas e a intelectualidade "bacana", mesmo "$olidária" ao governo Lula (visa as verbas da Lei Rouanet), ajudou muito no golpe político que ameaça banir o Partido dos Trabalhadores (PT) da vida pública.
Só que o mito da "pobreza linda" que faz a divinização dos jornalistas culturais, antropólogos, historiadores e cineastas que lutaram por um Brasil mais cafona, vendendo o "mau gosto" e as debilidades do povo pobre como "causas libertárias", revela seu lado cruel.
Pessoas que já têm pouco perdem tudo em incêndios que se ampliam em poucos minutos.
Pânico houve na madrugada de hoje, no Largo do Paissandu, em São Paulo, envolvendo um antigo prédio, oficialmente inutilizado, que se incendiou às 2h20.
No mesmo horário, há pouco mais de três meses, houve incêndio no prédio onde moro, em Niterói. Até hoje as marcas do incêndio permanecem. A síndica espera liberar o dinheiro do seguro e outros recursos para realizar as obras de reparo do local.
O incêndio só atingiu um apartamento, longe de onde eu moro. Mas mesmo assim fiquei chocado e muito triste. Todos os moradores do prédio tiveram que descer, nas duas vezes em que o apartamento pegou fogo.
Na semana seguinte, em Salvador, uma garagem de ônibus próxima ao supermercado G. Barbosa do Iguatemi, e a qual eu gostava de observar vendo seus veículos estacionados, também pegou fogo, atingindo mais de 60 veículos.
O incêndio obrigou a empresa Salvador Norte Transportes a suspender a venda de veículos mais antigos e reutilizá-los para compensar os que foram destruídos pelo fogo.
Ambos os incêndios são tristes ocorrências, mas não se compara com a tragédia que atingiu 150 famílias e, até agora, revelou o saldo de um morto e possíveis desaparecidos.
Tudo foi destruído e o prédio simplesmente desabou. O fogo também atingiu parte de um edifício vizinho e de uma igreja luterana, vizinhos ao edifício destruído.
O edifício Wilton Paes de Almeida era uma construção de 1966 e pertencia à Superintendência da Polícia Federal na capital paulista. Atuava, na época, em prol da repressão militar.
Atualmente desativado, ele era ocupado irregularmente por vários moradores, assistidos pelos movimentos sociais.
O auge do edifício se deu nos anos 80 e 90, principalmente no caso do esquema de corrupção do governo Fernando Collor, no qual atuou seu tesoureiro Paulo César Farias.
O prédio se situa no entorno da Avenida Rio Branco e da Rua Antônio de Godói, e os quarteirões que envolvem a área foram interditados.
Hoje de manhã, o presidente Michel Temer, que estava na capital paulista, foi ver o local, mas foi vaiado e xingado de "golpista" e "vagabundo".
O prédio, agora, é coisa do passado. Tudo se reduziu a escombros.
Mas, para os moradores, resta o trauma de terem perdido tudo, e, talvez, entes queridos.
Esse é o lado sombrio, realista e macabro, das classes populares, que a intelectualidade "bacana" define como "periferia", pegando emprestado um jargão de Fernando Henrique Cardoso, apesar do "esquerdismo convicto" de seus intelectuais festivos.
É essa a tragédia que os endeusados antropólogos, historiadores e jornalistas culturais do Brasil "popular demais" não conseguem perceber.
Eles estão lá, nos seus apartamentos da Zona Sul paulista, brincando de ser "mais povo que o povo".
Eles, ideólogos da "pobreza linda", do "mau gosto livre" e do mito da "autoesculhambação popular", não percebem as dificuldades vividas pelo povo pobre que ainda têm que suportar constantes tragédias.
Ficam aqui nossos pêsames e nossa solidariedade à dor extrema e chocante daqueles que perderam tudo no edifício que hoje se reduziu a ruínas. Torcemos que eles possam reconstruir suas vidas, mesmo sob a sombra desses traumas.
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