O ídolo dos reacionários doentes do Brasil - e, principalmente, do Rio de Janeiro, hoje convertido a um Alabama dos trópicos - , Jair Bolsonaro, deu uma palestra anteontem numa associação empresarial.
A Associação Comercial do Rio de Janeiro o recebeu num evento que contou com animados fascistas, entre eles empresários, que pagaram R$ 180 (associados) e R$ 220 (não-associados) para o encontro.
Bolsonaro, diga-se de passagem, garantiu que manterá uma das propostas do governo Michel Temer, a reforma trabalhista.
Ele defendeu a flexibilização das relações trabalhistas e a perda dos direitos históricos conquistados com muito sangue e suor durante décadas e incluídos na Consolidação das Leis Trabalhistas e na Constituição de 1988.
"Aos poucos a população vai entendendo que é melhor menos direitos e emprego do que todos os direitos e desemprego", disse o líder fascista, sob aplausos.
Claro, quem estava lá era a elite. Nem o pobre de direita tem essa grana toda para comprar o ingresso a eventos desse porte.
Pelo conjunto da obra, Jair Bolsonaro, nesse item, soa como uma espécie de Flávio Rocha piorado, considerando que o dono da rede de lojas Riachuelo já é um político retrógrado.
O que os apoiadores de Bolsonaro, no entanto, se recusam a admitir é que, com esse comentário sobre a perda de direitos trabalhistas, vai sobrar para os bolsonaristas.
Sim, porque quem imagina que, apoiando Bolsonaro, vai ganhar de bandeja um empregão de, no mínimo, R$ 100 mil, assim que ele for colocado no Executivo federal, pode tirar o burrico do temporal.
Até os bolsonaristas mais convictos terão que se acostumar ganhando migalhas, e é bom eles evitarem pedir alguma remuneração a mais.
Isso é certo. A culpa não é minha. Afinal, é do imaginário reaça dos bolsomitos que pedir aumento salarial é coisa de "vagabundo comunista".
Se um bolsonarista decidir cobrar do seu ídolo a concessão de algum aumento salarial, corre o sério risco do fã do "mito" ser preso, por desacato à autoridade.
Esse desacato é coisa certa de ocorrer, vide a conduta "civilizada" que se vê nos bolsonaristas, que fazem qualquer campeonato de UFC parecer uma exibição de balé clássico.
Portanto, quem eleger Bolsonaro presidente pode pensar em reduzir a quase nada os gastos pessoais, ou talvez arrumar algum assento num calçadão próximo de casa.
Isso porque os problemas crônicos da vida dos trabalhadores, quando o salário é pequeno e as contas só aumentam, vai produzir novos mendigos até entre os reaças mais convictos.
Os pobres de direita, então, terão que ouvir a "música" de suas barrigas roncando o tempo todo, porque nem comida eles terão.
Isso é sério, é muito grave, porque a declaração de um símbolo do autoritarismo político vai derrubar com as fantasias de muitos direitistas.
Devemos aprender com a amarga lição dos "coxinhas" que puseram Michel Temer no poder e agora estão desacreditados e desmoralizados.
Sobretudo os cariocas e os demais fluminenses: o Estado do Rio de Janeiro deu a maior contribuição para o golpe político de 2016, votando em políticos que pressionaram para a queda de Dilma Rousseff.
Não adianta agora hostilizar Eduardo Cunha, como se culpasse o revólver pelo disparo dado pelo atirador. Quando a conveniência permitiu, os cariocas diziam #TodosSomosEduardoCunha.
O desemprego aumentou, a miséria aumentou, a violência aumentou.
Os cariocas e demais fluminenses pedem um novo golpe militar e depois se sentem ofendidos quando se fala que o Estado do Rio de Janeiro virou um antro de reacionarismo doentio.
Tentam dizer que não faz sentido uma cidade que possui pontos alegres como a praia de Copacabana e seus pontos turísticos imponentes se tornar um reduto de gente tão reacionária.
Tenham paciência. O Rio de Janeiro virou reacionário pela natureza comportamental de sua população.
Pessoas autoritárias, capazes de impor uma sessão de tatuagem sem perguntar a um amigo se ele quer ou não ter um corpo tatuado.
Pessoas que fazem bullying ou, quando muito, piadinhas irônicas àqueles que adotam comportamento diferente, como alguém caminhar longas distâncias, ou fazer gozação com o fracasso alheio, como um rapaz levando "fora" da mulher que tentou conquistar.
Pessoas discriminadoras, capazes de abandonar um conhecido porque ele não aprecia futebol e detesta entrar no WhatsApp.
Esse Rio de Janeiro pagou caro elegendo Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho e companhia.
Pagou mais caro elegendo parlamentares que derrubaram Dilma Rousseff e colocaram Temer no poder.
E pagará mais caro se eleger Jair Bolsonaro presidente da República. Ele é o preferido dos cariocas para o cargo. O Rio de Janeiro não é reacionário?
Num contexto em que cada vez mais militares reacionários se candidatam a cargos políticos expressando uma visão claramente golpista e elitista - o próprio general Hamilton Mourão diz que "muitos brasileiros são pobres por preguiça" - , temos que tomar cuidado com o reacionarismo.
O reacionarismo pode se voltar para os reacionários, que acham que vão ganhar a Mega Sena quando entrar um autoritário no poder.
Eles serão os primeiros que irão pegar na enxada em troca de uns centavinhos, e ainda serão chamados e tratados como "comunistas" se reclamarem da recompensa prometida e nunca dada.
E o Rio de Janeiro, Estado considerado falido no Brasil, pagará a conta do reacionarismo explosivo. E aí não dá para falar de "sol, sal, Sul", "flor, riso e amor" num contexto desses.
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