No Grande Rio de Janeiro, a maioria das quartas-feiras e, às vezes, em outros dias de semana, é aquele sufoco.
Um time do futebol carioca joga, e o público fala alto em expectativa.
Quando há um lance decisivo, há gritarias de cobrança ou coisa parecida.
Mas aí, quando acontece um gol, o coro faz uma barulheira dos infernos.
Gritos pelos vários cantos dos quarteirões próximos.
Pouco importa se o jogo ocorre pelas 22 ou 23 horas, ou estar na meia-noite. Se houver gol, há gritaria, e das piores.
Em Salvador, o que incomoda é a poluição sonora das transmissões de rádio, sobretudo FM - que, sem audiência, precisam subir no Ibope "no grito" - , garantida pela sintonia premiada de categorias profissionais como frentistas e porteiros de prédios.
Chama-se "sintonia premiada" por se tratar de um jabaculê no qual categorias profissionais ou estabelecimentos sintonizam FMs em troca de abatimento nas contas de luz, água e até de transporte de mercadorias.
No Rio de Janeiro, já existe este jabaculê, mas é a gritaria dos ouvintes que comanda a poluição sonora.
E isso é ruim. Não são raras as pessoas que, numa quarta-feira à noite, precisam dormir cedo para irem ao trabalho.
Várias pessoas trabalham longe e precisam dormir mais cedo que o normal, porque têm que acordar na madrugada para fazer o café e se preparar para pegar transporte raro e lotado.
Esse drama é muito conhecido no cotidiano dos brasileiros que nem precisa dar detalhes.
A não ser, é claro, no caso dos cariocas de classe média, que acham que gritar nos ouvidos dos outros é acalanto.
O Grande Rio de Janeiro, que inclui também cidades próximas como Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu, precisa de uma grande reeducação social.
No reduto metropolitano do cyberbullying, onde pessoas estranham quando outros adotam alguma atitude diferente, como caminhar longas distâncias, por exemplo, é necessário haver mais tolerância.
Da mesma forma quando algum rapaz fracassa na conquista amorosa, situação que não deve ser de humilhações nem de ironias, mas de auxílio.
Os cariocas precisam rever seus valores e, no caso do futebol, deveriam ao menos conter suas emoções e respeitar quem precisa dormir para trabalhar no dia seguinte.
Sobretudo em temos de reforma trabalhista, em que os patrões podem demitir qualquer um por pouca coisa, não se pode sequer perder noite de sono, porque o rendimento cai no emprego e o profissional fica com a corda no pescoço.
Não adianta os torcedores gritarem num gol, ficarem calados no resto do jogo, porque quando há outro gol de um time carioca, eles voltam a gritar, até com maior intensidade que antes.
Muitos acham que a gritaria é sinônimo de alegria, felicidade, descontração e pensam que isso é saudável, ainda mais regada a altas doses de cerveja (que não é lá muito saudável, diga-se de passagem).
Não, não é. Gritar durante jogos de futebol com a vizinhança querendo dormir é grosseria, falta de respeito, desprezo aos sacrifícios dos outros.
Tem gente querendo dormir e que precisa estar disposta para uma jornada de trabalho, procurando dar o melhor de si para continuar se mantendo no emprego.
Esse pessoal merece respeito. Que a noite seja feita para haver menor ruído possível.
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