A pior mania do brasileiro médio é guiar-se pela catarse.
Em dado momento, ele pensa mais nas suas convicções pessoais e nos seus desejos imediatos e se esquece do país.
Até diz que "se lembra do país" e que "pensa, acima de tudo, pelo Brasil", mas é o Brasil que ele vê no umbigo, como se este fosse o círculo azul da bandeira brasileira.
O que mais preocupa é que pessoas assim não aceitam serem contrariadas. Daí o valentonismo que se observa da parte de quem odeia ser contrariado.
O perigoso fenômeno de Jair Bolsonaro, agora "amenizado" em seu discurso, preocupa o país.
Uma parcela de conservadores, muitos deles jovens, e que se acha "dona da verdade", vem com um monte de desculpas para defender a eleição de Bolsonaro, que, se vir a ocorrer, será uma espécie de "intervenção militar" sob o aparato de voto livre.
Sempre quando estoura a crise no Brasil, uma parcela narcisista de brasileiros, à qual reivindica a posse absoluta da verdade, sempre apela para um aventureiro político.
Ainda mais num tempo em que a geração "Eu Odeio Acordar Cedo" (alusão aos reaças que estavam na famigerada comunidade do Orkut) saiu do armário e, antes pseudo-esquerdista, hoje defendem até a redução do salário mínimo e o aumento da carga horária de trabalho.
A situação é terrível e, de certa forma, mostra a imaturidade crônica dos que estão com 60, 65 anos, vovôs e vovós que cometem barbaridades de fazer até um neto de cinco anos ficar perplexo.
Sessentão ficar surtando e cometendo traquinagens ficou mais comum. E bem mais comum do que se pode imaginar.
Não é só no Brasil. Roseanne Barr, nos seus 65 anos, estrela do seriado homônimo de grande sucesso, divulgou comentários racistas e levou a pior, tendo seu seriado, que havia voltado depois de um longo hiato, imediatamente cancelado.
Se isso é "maturidade", prefiro desejar ver o Foster The People aos 65 anos e ficar pulando ao som do grupo nessa idade. Creio que terei energias físicas para tanto. Ainda pulo, hoje, aos 47 anos de idade.
Mas fico preocupado, muito aflito, com os rumos do país.
Querem criar um reboot da ditadura militar de 1964-1985. Ainda que sob o aparato do "voto livre" pela vitória de Jair Bolsonaro.
É até gozado. Vamos a 1960, quando a garotada de 60 a 65 aninhos de hoje, pelo menos, tinha a infância da formação biológica de seu corpo.
Naquela época, os principais candidatos à Presidência da República eram Jânio Quadros e o marechal Henrique Teixeira Lott.
Jânio, sul-mato-grossense (na época era apenas mato-grossense) que teve carreira política em São Paulo mas chegou a concorrer a cargo político pelo Paraná, tinha um apelo mais populista.
Lott, do PSD de Juscelino Kubitschek, Ulysses Guimarães, Ernâni do Amaral Peixoto e Tancredo Neves, era militar, mas legalista e de visão progressista.
Jânio Quadros tinha como principal gancho a "vassoura", e foi eleito usando o discurso contra a corrupção.
Os brasileiros se esqueceram das perspectivas trazidas por Juscelino Kubitschek, que em 1958 despertou muita esperança para o país, e não elegeram o candidato apoiado por ele.
Talvez a vitória de Jânio Quadros tenha sido o marco zero para um ciclo de crises e confusões que refletem até hoje no nosso país.
Refletem até o ponto de nossa "geração madura" nascida mais ou menos na primeira metade dos anos 1950 não agir para evitar um novo golpe militar ou um governo extremamente reacionário.
Paciência, essa geração, no Brasil, era proibida de expressar seu idealismo, proibida, na sua juventude, de aspirar e respirar livremente ideias edificantes.
Isso criou uma "intoxicação" psicológica na qual vários de nossos "coroas" ou "idosos de primeira viagem" deixaram de ter a consciência real sobre o que querem do nosso país, e hoje combinam neuroses adolescentes tardias e surtos reacionários explosivos.
Claro que existem exceções, mas o que se vê em boa parte de nossos "velhinhos" é uma tardia expressão de neuroses adolescentes adormecidas.
A falta de idealismo e a obsessão pela mera ascensão profissional criou até certas aberrações.
Como, por exemplo, a geração de empresários, médicos, economistas e publicitários nascidos entre 1950 e 1955 que se casaram com gatinhas 20 anos mais novas que eles. Tem até ex-paquita casada com um deles.
Esses caras se casam com "novinhas" para depois se comportarem como o "rabo" da geração 1940. Teve oftalmologista nascido em 1954, casado com ex-modelo uns 15 anos mais jovem, mas que de repente passou a pensar que vive nos tempos do Jacinto de Thormes.
Sobre Jacinto de Thormes, uma rapidinha: antigo colunista social conservador (apesar de escrever para Última Hora), que descrevia as mulheres mais elegantes pelo nome do respectivo marido, e que na verdade era o pseudônimo do jornalista Maneco Muller, já falecido.
Dito isso, fico observando uma coisa.
Na segunda metade dos anos 1940, nos EUA e Reino Unido, nasceram pessoas que "inventaram" os anos 1980. O saudoso David Bowie, mais os hoje atuantes Trevor Horn, Debbie Harry, Gerald Casale (Devo), Ric Ocasek (Cars) e Kate Pierson (B-52's).
Aqui temos médicos e empresários nascidos "dentro dos anos 1950" (leia-se 1953-1954) que fingem que viveram os anos 1930 e 1940 e querem agir como se tivessem nascido trinta anos antes, sem, evidentemente, ter a vivência necessária para isso.
No fundo esses "senhores" não fazem mais do que resgatar a ânsia adolescente de "parecer mais velho". Chegam aos 50 anos querendo ter 70, assim como um moleque de 15 anos que acha que tem 18.
E é nesse contexto geracional que vemos o quanto nossos "velhinhos" não servem como bússola para os mais jovens.
Eles foram crianças em 1964, mas ao menos tiveram vivência suficiente para sentir a barbaridade da ditadura, nem que seja pelos resmungos de seus pais e mães.
Eu nasci em 1971 e era para não ter muita consciência da ditadura militar. Por razões duplamente óbvias (infância minha e censura ditatorial no país), não pude saber do pesadelo que o Brasil viveu naqueles anos.
Aí eu vejo senhores de 65 anos invadindo o Congresso Nacional para pedir intervenção militar, ou atirando pedras quando passava a caravana do ex-presidente Lula, e aí me pergunto: o que é "maturidade"?
E esse pessoal está orientando os mais jovens a desejar Jair Bolsonaro para a Presidência da República.
Essa gente de "cabeça branca ou grisalha", proibida de ter idealismo nos anos 1970, descontando sua raiva nos progressistas e não aprendendo as amargas lições da ditadura, está jogando o Brasil no abismo.
Bolsonaro é um crossover mais nervoso de Eduardo Cunha e Michel Temer e apoiou o golpe político que está naufragando o país.
Se o país está hoje ruim, pode colocar, com toda a segurança, Jair Bolsonaro como um dos responsáveis.
Não sou eu que digo. Voltemos a 17 de abril de 2016. A desordem que vivemos hoje teve origem nesta votação de "corruptos contra a corrupção". Bolsonaro estava lá, dando seu voto e prestando tributo ao torturador Brilhante Ustra.
Recentemente, Bolsonaro afirmou que vai manter e até consolidar a perda de direitos dos trabalhadores pela reforma trabalhista do governo Michel Temer.
Se o brasileiro médio critica o governo Temer mas quer Bolsonaro governando o país, se prepare, então, para mais retrocessos.
A ideia suicida de "piorar o Brasil para tentar melhorá-lo", sob o preço de transformar urnas eleitorais em sacos de vômito, só vai pegar mal para os reaças convictos de hoje.
Num contexto em que valentões da Internet (cyberbullies) começam a levar surra, velhos assassinos estão morrendo e plutocratas se desentendem entre si, não é boa ideia eleger Bolsonaro presidente.
Mesmo quando ele adota agora a fase "Bolsonaro Paz e Amor", forjando simpatia e pretenso equilíbrio.
Vale lembrar que os bolsonaristas devem se preparar: seu ídolo não lhes dará um centavo de recompensa. E não adianta reclamar, sob o risco de Bolsonaro xingar seus fãs de "comunistas" ou "petistas", porque, para uma pessoa dessas, "pedir dinheiro é coisa de vagabundo comunista".
Talvez os bolsonaristas tenham que trabalhar um pouco mais para receber, ao menos, 1% do que sonhariam ganhar, não é mesmo?
Quanto aos "coroas" que pedem a volta da ditadura militar, um conselho.
Leiam os livros de História do Brasil - passem longe dos Marco Antônio Villa da vida e evitem aquele livro do "Humberto de Campos" fake - e percam o preconceito e encarem também um Jessé Souza.
Reaprendam a verdadeira história do nosso país antes que um alemão de sobrenome Alzheimer se hospede em suas casas.
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