A participação da influenciadora digital Virgínia Fonseca na CPI das Bets, esbanjando vitimismo enquanto sua sogra, Poliana Rocha e o marido da depoente, o breganejo Zé Felipe - filho do também breganejo Leonardo - , despejam arrogância contra seus críticos, mostra o quanto a espécie dos influenciadores está em declínio depois de dez anos de ascensão.
A ideia começou boa, há pouco mais de dez anos, pouco após as jornadas de junho de 2013. Pessoas comuns prometendo transmitir conhecimento e opiniões interessantes, mesmo dentro do universo dos adolescentes. O problema é quando veio uma terceira safra de influenciadores, que viraram, com ajuda de ghost writers, dublês de escritores, num ano de 2015 que foi o pior do mercado literário, não pela falta de livros vendidos, mas pela qualidade que ficava a anos-luz aquém de qualquer compromisso com o Saber.
E aí o mercado de influenciadores desceu ladeira abaixo, produzindo, junto aos reality shows, multidões de subcelebridades sem ter o que dizer que ganhavam rios de dinheiro e tinham empresas e anunciantes a lhes jogar mais grana nas redes sociais. Aliás, ser influenciador virou a arte, no pior sentido do termo, de dar sentido à falta de sentido, dizendo frivolidades sem graça que somente soavam “divertidas” por um público idiotizado pela grande mídia.
Com o fenômeno das fake news e o opinionismo midiático, vieram também os influenciadores que brincavam de ser jornalistas, assim como os humoristas de estandape e, também, a pandemia gerou os podicastes em que qualquer um virava entrevistador sem ter ideia exata do que se trata o entrevistado. Certa vez, a atriz Ingrid Guimarães ficou indignada com um podicaste que a entrevistou, sem ter o menor conhecimento da trajetória dela.
O envolvimento dos influenciadores com a indústria das bets, páginas de apostas eletrônicas, e de jogos como o Jogo do Tigrinho, desgastou os influenciadores, assim como seu salário que, para um iniciante em ascensão, pode ser de mais de R$ 15 mil, um insulto para quem trabalha mais e ganha um décimo que mal dá para sobreviver.
Mas os maiores influenciadores ganham valores de, no mínimo, seis dígitos, tudo para mostrar uma vida opulenta e marcada pelo vazio existencial, com seus empresários comprando espaço nos portais de celebridades para divulgar qualquer coisa de seus clientes. Vide Virgínia Fonseca, Viih Tube, Deolane Bezerra, G-Kay e Whindersson Nunes, por exemplo.
E aí vemos o quanto esse mercado de subcelebridades, travestido de “gente comum” conquistando a fama sem esforço, prova a decadência cultural do nosso país, que ainda teima em ingressar no Primeiro Mundo através da mão aberta do vovô Luís Inácio. Não dá para ser um país de primeira classe com uma cultura de segunda.
A função de influenciador digital não vai desaparecer, mas a vida inteligente nas redes sociais talvez mereça um novo nome para definir aqueles que realmente tem e terão para dizer, diferente do triste espetáculo que hoje vemos com tanta gente faturando dizendo bobagens e banalidades. Pelo menos, hoje, a superficialidade dos influenciadores digitais perdeu o prestígio que havia até pouco tempo atrás.
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