GUILHERME FONTES QUASE TEVE SEU PROJETO DE FILME ARRUINADO, APÓS INTERPRETAR UM ESPÍRITO OBSESSOR EM A VIAGEM.
A novela mais reprisada pela Rede Globo de Televisão, a versão anos 1990 de A Viagem, tem um histórico de mau agouro que pouca gente percebe, tendo sido sua primeira versão, produzida pela TV Tupi em 1975, produzido energias maléficas que fizeram a pioneira emissora de televisão brasileira viver um inferno astral e falir, após causar demissões em massa.
Religião fraudulenta e desenvolvida sem estudos honestos ou responsáveis, o Espiritismo brasileiro é uma seita amaldiçoada e azarenta. Ela traz azar até para quem manifesta devoção e jura sentir energias elevadas dentro de si, mas que em dado caminho sofre algum mau agouro vindo do nada, de uma treta violenta vinda de debates inócuos até perda de objetos e de entes queridos.
A gente até pergunta se até mesmo a Rádio Fluminense FM, que recentemente perdeu seu idealizador Luiz Antônio Mello, também não foi vítima das "energias de luz" desse Catolicismo medieval de botox. Mello e um dos radialistas, Paulo Sisino, manifestavam em algumas ocasiões o apreço pelo "médium" de Uberaba, bastante famoso, que sintetizava numa pessoa só o misticismo charlatão de um Maharishi Manesh Yogi e a filantropia de fachada da megera Madre Teresa de Calcutá.
Neste caso, podemos contar uma piada sobre uma conversa hipotética entre Marcus Viana, da banda progressiva Sagrado Coração da Terra, e seu amigo e parceiro Flávio Venturini. Teria dito Flávio para Marcus:
- Marcus, a gente é influenciado por quase tudo dos Beatles, por que a gente não adota um guru místico para a gente cultuar?
- Mas, Flávio, a gente vai ter que viajar para a Índia para conhecer esse guru?
- Não precisa, Marcus, a gente só precisa ir para Uberaba, aqui em Minas Gerais. Nosso Maharishi viveu lá durante anos.
As "boas energias" do mistificador, de ideias medievais, que era ultraconservador e achava o rock a trilha sonora do umbral, impediram a Maldita de crescer e abriram caminho para rádios canastronas como a Cidade embarcarem na cultura rock com muito dinheiro no bolso e nenhum conhecimento de causa.
Pois o foco desta postagem, a novela A Viagem, mostra o quanto a novela é barra pesada, no que se refere às energias de mau agouro. Vejamos o que fez a primeira versão, da TV Tupi:
1) Trouxe energias que derrubaram a pioneira rede de televisão, trazendo sofrimento para centenas de profissionais que foram para o olho da rua, demitidos nas vésperas da falência da empresa;
2) Imobilizaram um bairro inteiro que serviu de cenário para a novela, o bairro da Casa Verde, que parou no tempo, é muito mal servido de transporte público e não possui um miolo comercial em seu entorno.
Assim como no caso dos bairros de Rio do Ouro e Várzea das Moças, em Niterói, cuja denúncia da falta de uma rodovia própria de ligação (que livraria a RJ-106 da sobrecarga de "avenida de bairro"), a falta de transporte e comércio na Casa Verde é encarada pelas pessoas com alucinógena indiferença, como se elas não soubessem de coisa alguma e ficassem "boiando", mentalmente falando.
Já no caso da versão da Rede Globo, transmitida em 1994, o principal mau agouro e deu na carreira do ator Guilherme Fontes, que fez o papel de um espírito obsessor. Ele estava preparando o filme sobre Assis Chateaubriand, por ironia o fundador da TV Tupi, quando sofreu estranhas adversidades e até foi acusado de "corrupção", levando anos para concluir o filme Chatô - O Rei do Brasil.
E ainda tem outra maldição. Uma jovem e promissora atriz, Chris Pistch, que atuou na versão da Rede Globo, morreu um ano depois de infarto, com apenas 24 anos. Sinal das "energias de luz" que a religião do Espiritismo brasileiro traz para as pessoas, uma água com açúcar envenenada que adoça corações e arruína vidas.
E por que a novela A Viagem será reprisada pela quarta vez pela Globo?
Bom, a narrativa medíocre da novela - reconheçamos que Ivani Ribeiro já fez novelas melhores e sem a inspiração de obras mistificadoras como, no caso, um livro "espírita" que plagiou uma obra britânica do reverendo George Vale Owen - se encaixa na nostalgia de mentirinha montada pelo consórcio da mídia empresarial.
É a mesma nostalgia fake que lançou o "brega-vintage", com Michael Sullivan, É O Tchan e a versão de Chitãozinho & Xororó para "Evidências", que supervaloriza nomes como Michael Jackson e Guns N'Roses e trata o humor datado de Chaves como se fosse "humorismo de vanguarda", que recorre ao "saudosismo de resultados" de uma novela "espírita".
A Viagem é a única produção que se tem no Brasil que possui tanto elementos de dramalhão religioso moralista - e moralista nos padrões do século 12, diga-se de passagem - como elementos de tragicomédia trash, como o personagem Alexandre, de Guilherme Fontes, que é um excelente ator mas nesta trama ele tem seus momentos de falso canastrão, com a interpretação acidentalmente cômica do espírito obsessor.
O Brasil medíocre dessa nostalgia de mentirinha, incapaz de digerir os filmes do Zé do Caixão, tem em A Viagem a única opção para alguma trama trash combinada com um moralismo que a elite do bom atraso, o público-alvo do Espiritismo brasileiro e outras crenças "ecumênicas", consegue assimilar e defender.
Por isso mesmo o enredo de A Viagem funciona na audiência, causando prazer o suficiente nas pessoas, antes que elas, felizes da vida ao ver uma trama "espírita", enfrentem sinas prováveis como cair num bueiro destapado, perder o cartão de crédito num bar movimentado ou perder o telefone celular no meio do caminho. Isso quando não contrai aquela treta violenta com um internauta só porque falou que não há problema um homem vestir camiseta cor de rosa.
O caráter amaldiçoado do Espiritismo brasileiro se deve pela farra irresponsável, abusiva, descuidada e gananciosa de se apropriar da memória dos mortos, se passando por eles como um bandido se passa por um familiar quando faz um trote telefônico para fins de golpe financeiro.
Os ditos "médiuns" são o suprassumo do charlatanismo e do obscurantismo de ideias, mas a burguesia ilustrada pensa que isso é "intelectualismo astral e futurista", até pela ausência de qualquer estética de raivismo facilmente identificável nos neopentecostais.
Mas essa burguesia ilustrada é a elite do atraso repaginada, e para essa elite atrasada o atrasado é o "moderno", por atender a uma cosmética de valores que lhes agrada, e o Espiritismo brasileiro, com sua positividade tóxica e seus apelos medievais para os oprimidos aceitarem e aguentarem a própria desgraça, cai muito bem nesse sistema de valores falsamente positivo que foi cultivado durante a ditadura militar mas tenta sobreviver a esses tempos de pós-bolsonarismo.
Quanto a reprises de novelas, Que Rei Sou Eu? soa mais divertida e instigante que A Viagem. Mas, para quem se emociona com a pavorosa canção "Evidências" e acha que a erotização do É O Tchan pode ser recomendada para as crianças, é fácil promover nostalgia com a novela errada. Daí que podemos garantir que o Brasil ainda tem dificuldades de sair dos padrões socioculturais da Era Geisel.
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