
EMBORA A MAIORIA DOS NOMES PREMIADOS SEJA DE NOTÁVEL RELEVÂNCIA CULTURAL, O GOVERNO LULA SE LEMBROU DE DOIS ÍDOLOS DA MEDIOCRIDADE CULTURAL.
O Brasil está problemático e a burguesia ilustrada, que domina as narrativas nas redes sociais, está eufórica. Anteontem ocorreu, no Rio de Janeiro, a cerimônia da premiação da Ordem do Mérito Cultural, para celebrar a reinauguração do Palácio Gustavo Capanema, no bairro do Castelo, no Centro, e os 40 anos do Ministério da Cultura. O próprio prêmio da Ordem do Mérito Cultural é uma retomada da premiação que havia sido cancelada em 2019 por Jair Bolsonaro. O evento contou com a presença da ministra da Cultura e cantora baiana Margareth Menezes.
Com toda a certeza, nomes bastante válidos foram contemplados, como o sambista Arlindo Cruz, o cantor Ney Matogrosso, o cineasta Sílvio Tendler, a atriz e cantora Zezé Motta e a atriz Glória Menezes, o ator Ary Fontoura, o cantor e compositor Alceu Valença e, postumamente, o letrista Aldir Blanc, sem falar da justa homenagem a Fernanda Torres, Walter Salles e Marcelo Rubens Paiva, respectivamente atriz e diretor do filme Eu Ainda Estou Aqui e escritor do livro que inspirou o filme.
Mas entre o elenco de homenageados, chamou a atenção não apenas a tendenciosa homenagem à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que extasiou os lulistas no calor da campanha de blindagem “Eu Estou Com Janja” publicada nas redes sociais. Vale lembrar que os lulistas, quando viram Jair Bolsonaro homenagear a sua Michelle Bolsonaro, se revoltavam e acusavam de favorecimento conjugal, mas quando é Lula homenageando Janja, a reação é diferente. Dois pesos, duas medidas.
O que chamou a atenção foram dois homenageados pelo prêmio: Xuxa e Chitãozinho & Xororó. Dois nomes ligados à mediocridade cultural, que não têm motivo algum para receber tal premiação, por mais que haja gente gostando dessas personalidades.
Xuxa apenas compensou a péssima contribuição de, nos anos 1980, de influir na antecipação da adolescência na infância através da erotização sutil e do consumismo - o que ajudou a formar os adultões histéricos, extravagantes e sonhadores de hoje em dia - , com a recente inclinação às causas identitárias, o que fez Xuxa ser erroneamente tida como “cantora de protesto” dentro dessa perspectiva do brega-vintage.
Outro nome do brega-vintage, Chitãozinho & Xororó, foi agraciado pelo prêmio por menos motivos ainda. Divulgadores da música caipira? Desde quando? Dois canastrões - que “cantaram” em pleibeque no Reveillon da Paulista de 2023-2024 (eu tive que ver esse desastre) - apenas usurpando a MPB e a música de raiz por pura apropriação e pedantismo não traz contribuição cultural alguma, pois o pessoal nem está aí para as versões originais, pois se contentam com as pavorosas versões da dupla.
Mas o pior nem é isso, pois Chitãozinho & Xororó promoveram a pretenso “clássico cult” a cafoníssima canção “Evidências”, do bolsonarista José Augusto com letra de um Paulo Sérgio Valle cheio de contas para pagar, lá nos anos 1980. A horrorosa canção nem tem razão para mérito algum, pois a música é piegas e soa velha demais para a turma do Instagram/Facebook classificar irresponsavelmente como “vanguarda”, ainda mais uma música comercial de 38 anos atrás.
Infelizmente, em que pese a premiação contemplar, em maioria, nomes representativos da nossa cultura, a concessão de prêmios a nomes ligados à mediocridade cultural mostram o quanto o governo Lula, querendo agir grande demais para a realidade brasileira, age muito pequeno. Daí que só a sociedade dos “bem de vida” é que se empolga com este governo que já é o mais medíocre dos três mandatos, constatação que se comprova pelos fatos.
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