PALESTRANTE USA ESTEREÓTIPO DO "POBRE DE NOVRLA" PARA ASSOCIAR POBREZA À VADIAGEM.
Uma grande pegadinha traz a polarização política que assola o Brasil. Ou acreditamos no pobre caricato, ou então no rico caricato. Isso tanto no lado lulista quanto no lado adversário, por ora representado pelo desgastado bolsonarismo.
Uma palestrante do tipo coach ("treinador", em inglês), recentemente, despejou uma visão preconceituosa contra o povo pobre, atribuindo de forma generalizada à vadiagem, através das seguintes frases:
"O pobre ele tem um hábito: tem que tomar cerveja todo final de semana e churrasco. A mente pobre é a que não quer abrir mão do final de semana. O rico trabalha sábado, domingo e feriado. Quem faz o que gosta é pobre, rico faz o que convém".
Em seguida, ela reforça sua retórica com estas ideias:
"Se você chegar para uma pessoa pobre e disser: ‘Você vai trabalhar sábado”, ele vai dizer: ‘Vou não, hoje é o dia da minha cerveja, hoje é dia do meu churrasco’. O rico vai. Ele é o primeiro que chega e o último que vai embora da empresa, ele trabalha três turnos".
É claro que a "couxe" está delirando. E não é por causa de um maniqueísmo simples entre "rico" e "pobre", num contexto em que o Brasil é tão hipócrita que temos a burguesia de chinelos fantasiada de "gente simples" que fala até português errado, e que, hoje, quem mais comemora o "Dia do Orgulho Nerd" são os valentões de escola que já enfiaram os antigos nerds na lata de lixo depois de tanta humilhação. É fácil hoje ser nerd, desde que use computador o tempo todo, veja seriados de TV (sobretudo streaming) e se comporte como um débil mental nas redes sociais.
Em primeiro lugar, os ricos não trabalham três turnos. O rico que "trabalha" nos sábados, domingos e feriados é uma ficção. Quando muito, o empresário apenas "monitora", à distância no seu confortável lar, o cumprimento da escala 6x1 de sua empresa nos períodos que deveriam ser para folga. E lembremos que o "rico" mencionado pela palestrante também fica fingindo ser "pobre" nas redes sociais. Até parece que no Brasil só tem pobre, e mesmo assim se acha que o nosso país será desenvolvido.
Sim, há o "pobre de novela", que, realmente, quer saber de cerveja e churrasco nos fins-de-semana e feriados, e que acerta fácil na "sorte grande" (leia-se loteria ou promoções de mercadorias), gastando sempre com supérfluos e combinando "festas de aniversário" todo sábado, mesmo sem ter um aniversariante. A ideia é contratar um grupo de "pagode" que, em dado momento, às 21h30 mais ou menos, irá cantar "Parabéns Pra Você" de forma aleatória, tudo para justificar o aluguel do salão de festas.
O "rico trabalhador" da imaginação fértil da "couxe" é o "rico do Instagram", um estereótipo fictício e profundamente idealizado como um suposto modelo de vida. Além disso, a palestrante ainda fala em "trabalhar muitas horas o tempo todo", como se o "rico" não nascesse rico. Ou seja, ela cai em sérias contradições, invalidando seu discurso pseudo-racional.
Temos pobres trabalhadores e alguns ricos também. Mas enquanto é regra pobre trabalhar, é exceção o rico ser um batalhador, pois a maioria dos ricos nasceu em berço de ouro. Essas questões são óbvias e escapam desse maniqueísmo fácil da rinha política de lulistas e bolsonaristas (agora se transformando em pós-bolsonaristas).
Nesse maniqueísmo, temos também a burguesia ilustrada que apoia Lula e se finge de pobre, mesmo com o jeitão de bacaninha abastado que ganha, no mínimo, R$ 10 mil por mês, tem carrão de boa marca e modelo desejado e viaja à Europa como um morador de Madureira pega o trem para ir ao Centro do Rio de Janeiro.
O que temos é gente tirando onda de "pobre" ou "trabalhador" para lacrar na Internet. Seja no lado lulista ou no lado pós-bolsonarista. É a atriz riquinha tirando onda de "gente como a gente" segurando sacos de arroz para reclamar do preço caro que ela pode pagar sem problemas. É o "pobre de novela" que fica gastando demais com supérfluo, na empolgação exagerada da prosperidade financeira iniciante.
Temos o empresário pai de família com neuras de ser "cumpridor de deveres", sisudo e mal-humorado, tendo que levar a família para almoçar no shopping, pagar as roupas da mulher, a diversão dos filhos etc, e que até os gostos ele molda para agradar os outros, mas nunca a si mesmo.
Temos o "atleta de concurso público", aquele servidor estável do Judiciário que arrisca fazer concurso para autarquia do Ministério da Cultura só para "experimentar", passa no concurso, tirando o lugar de quem precisa desse emprego e, ainda assim, reclama do trabalho nas redes sociais.
Temos também humoristas fingindo ser jornalistas para obter emprego de analistas de mídias sociais. E temos bacaninhas da burguesia dizendo que "não têm dinheiro" para ajudar pessoas com necessidades e no entanto torram seus dinheiros com cervejas e cigarros. E temos falsos pobres da burguesia fazendo barulho nas madrugadas, perturbando o sono de quem quer e precisa descansar.
Na verdade, vivemos o apogeu da velha ordem burguesa do "milagre brasileiro", que agora fica se achando nas redes sociais, nos dois espectros ideológicos. Todos querendo que o Brasil se torne "primeiro mundo", mesmo que isso signifique apenas um parque de diversões para uma elite de bacaninhas.
O problema é o cidadão comum ter que ficar nesse maniqueísmo todo, principalmente tendo que escolher entre o "pobre de novela" e o "rico do Instagram", ou aceitar que todo bacaninha de redes sociais é "pobre" porque fala português errado.
O que há, na verdade, é muita mentira e muita hipocrisia, tanto da parte de uma palestrante que acredita no "rico que trabalha todos os dias" quanto da parte de uma burguesia cujos avós ajudaram a matar Rubens Paiva mas que, agora, vê Eu Ainda Estou Aqui com o único objetivo de parecer "simpática" nas redes sociais. Com gente assim, é claro que o sonho do Brasil se tornar desenvolvido é uma grande miragem.
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