FELIZES E CONFORMADOS, OS "POBRES DE NOVELA" SÃO UM ESTEREÓTIPO DEFENDIDO PELA INTELECTUALIDADE DO "COMBATE AO PRECONCEITO" DA MEDIOCRIDADE CULTURAL.
Oficialmente, o governo Lula, por mais pelego que esteja o presidente brasileiro, está prioritariamente focado nos mais pobres. Até se, numa viagem à França, Lula e Janja curtirem uma praia em Cote d’Azur, o casal estaria combatendo a fome e a pobreza dos brasileiros.
No contexto atual, vemos pessoas que parecem de origem pobre que parecem felizes demais e inseridas no consumismo, com um apetite por compras e gastos de fazer os ricos ficarem boquiabertos. Gente que está de acordo com o “sistema” e que aceitam cumprir os papéis sociais que as classes dominantes lhes determinam assumir.
Eis a figura do “pobre de novela”, o pobre que quer um mínimo de cidadania e um máximo de consumo, querendo um mínimo básico de direitos e um máximo abundante de privilégios. É um “pobre” que o status quo aceita e legitima. É o pobre que as elites ricas querem que exista.
E por que o nome “pobre de novela”?
Ele se inspira no perfil caricatural dos núcleos pobres das novelas das 21 horas da Rede Globo, que servem como alívios cômicos para tramas que, na estrutura geral, são tensamente dramáticas e sisudas. São pobres também explorados por comédias de TV ou cinema, como Vai Que Cola e Ó Paí Ó.
O "pobre de novela" é trabalhado pelo discurso do "combate ao preconceito" da intelectualidade pró-brega, definindo como "o verdadeiro pobre" aquele tipo resignado, alegre e "conformado" com seu papel pré-determinado pela sociedade burguesa, sendo portanto o representante da "periferia que a alta sociedade quer".
São portanto, aqueles pobres caricatos e totalmente estereotipados que o discurso “contra o preconceito” da intelectualidade pró-brega define como “periferia”. É um pobre “limpinho”, que desce os morros das favelas cantando e dançando, que é obediente ao “sistema” e se conforma com os desígnios da vida. Um “pobre” que consome muito, tem televisão e faz “festinhas de aniversário” todo fim de semana, usando o pretexto do “aniversário” só para justificar o aluguel de salões de festas em condomínios de subúrbios razoavelmente urbanizados.
É aquela coisa. Ninguém faz aniversário na ocasião, mas é preciso arrumar uma desculpa para adquirir um salão de festas e basta apenas, no decorrer da festa, aquela banda de “pagode” contratada tocar, de repente, às 21 horas, a música “Parabéns Pra Você” em ritmo de sambrega.
O “pobre de novela” é uma classe geralmente emancipada pela chamada “sorte grande”, como loterias, promoções de mercadorias e outros sorteios. Também corresponde a uma parcela emancipada pelos dois primeiros mandatos de Lula, quando ele fez programas sociais que, com a relevância com que foram feitos, não tiveram continuidade, apesar de aparentemente continuarem a ser anunciados pelo governo. Hoje os projetos de Lula se voltam mais para assistir aos “pobres de novela” do que aos miseráveis da vida real, estes precariamente assistidos dentro dos limites para tornar a pobreza “suportável”.
O sociólogo Jessé Souza fala no conflito “pobres versus pobres”. Devemos entender que se trata do conflito entre o pobre emancipado e o pobre acuado, sendo o primeiro o foco maior do governo Lula. O “pobre de direita” não é necessariamente todo pobre excluído do bolo lulista, mas uma parte dessa parcela excluída que foi cooptada pelas seitas neopentecostais.
Portanto, são conflitos que passam acima do maniqueísmo político e que ainda têm que encarar a tirania do crime organizado. São dramas que existem em favelas, como é o coronelismo nas áreas rurais, e que inexistem nas “Disneylândias de barracos” da “pobreza linda” do imaginário intelectual dominante, que aposta apenas na emancipação parcial do “pobre de novela”, alegre, festivo e de acordo com o status quo, enquanto o pobre real se sente ainda excluído e mal atendido pelas políticas atuais do lulismo.
Daí o repúdio que os excluídos da vida real sentem por Lula e que os lulistas se recusam veementemente a admitir. Fora da bolha lulista, a realidade é dura.
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