
O que quase ninguém sabe é que os feminicidas estão entre os que mais morrem no Brasil. Pelo seu comportamento caraterístico de sua masculinidade tóxica, o feminicida tende a possuir, no máximo, 80% da expectativa de vida de um brasileiro normal sob as mesmas condições de saúde. O que poucos percebem é que, nessa realidade, os feminicidas morrem, em maioria, entre os 55 e 79 anos e sem qualquer divulgação na imprensa.
Morrem feminicidas o tempo inteiro no Brasil, com o ritmo comparável ao de atores pouco conhecidos de seriados de TV. São homens que cometeram feminicídios há cerca de 20, 30 ou 35 anos e, às vezes, 40 ou 50 anos atrás que, mesmo no aparente sossego da impunidade - quando o crime era definido como “passional” e permitia cumprir pena em regime semi-aberto ou mesmo aberto - , contraíram doenças graves por conta do comportamento tóxico obtido antes, durante e depois do crime que exterminou as vidas de suas companheiras e, às vezes, de amigas e colegas de trabalho e de estudo.
Na expectativa de dois feminicidas famosos, o ex-jornalista Pimenta Neves e o ídolo brega Lindomar Castilho, morrerem ainda este ano - eles nasceram, respectivamente, em 1937 e 1940 - , a “boa” sociedade é a única que se recusa a admitir qualquer tragédia nas costas dos feminicidas, acreditando na tese fantasiosa, marcada por sentimentos supersticiosos e de moralismo religioso medieval (que manifesta uma misericórdia tóxica que inocenta algozes e culpabiliza as vítimas), de que aquele que mata está “proibido de morrer”.
Mas os feminicidas morrem, e aos montes e até mais cedo do que imaginamos (vários morrem antes de completar 50 anos de idade, mesmo aqueles que parecem "bem nascidos" e "saudáveis"), e não é para “morarem” em casarões abandonados, como acreditam os supersticiosos da elite do bom atraso. Não há lógica de que um homem, cometendo feminicídio, tende a viver mais. Na verdade é o contrário, geralmente perdendo 20 anos de vida com as reações psicológicas após o crime cometido.
Feminicidas famosos já morreram de câncer, infarto, mal súbito, acidente de carro, AIDS, acidente aéreo e até assassinato. Eles não morrem só de suicídio, como também não sobrevivem para viver o dobro do tempo de vida de um cidadão inofensivo. E há informações extra-oficiais de que cerca de 3,1 mil feminicidas teriam morrido por sintomas relacionados à Covid-19, durante a pandemia de 2020 a 2022.
Uma canção de rock e sua versão com uma letra em português, ao estarem interligadas, podem, de forma subliminar, soar como uma maldição para os feminicidas que, “felizes da vida” , cumprem seu desejo impulsivo de eliminar as vidas de suas companheiras, amigas ou colegas.
Essa música é “Hey Joe”, uma canção cuja autoria original se perdeu e, como obra de domínio público, foi primeiramente adaptada pelo cantor e compositor Billy Roberts. A letra original é uma conversa imaginária a um homem que atirou na sua mulher e fugiu para o México.
A canção tornou-se mais conhecida pela versão do grupo britânico The Jimi Hendrix Experience, incluída no álbum Are You Experienced, de 1967. Na década de 1990, a música ganhou uma versão em português pela banda fluminense O Rappa, que manteve o título original.
Embora o tema fosse totalmente diferente, relacionado à violência policial nas favelas, o verso final da música, “Também Morre Quem Atira” é de arrepiar nos nervos de um feminicida, se ele perceber as relações semióticas da letra em português com a versão original.
Por ironia, tanto Billy Roberts quanto os três músicos da banda - Jimi Hendrix, Noel Redding e Mitch Mitchell, mais o letrista da versão brasileira, Marcelo Yuka, já faleceram, mas a relação sombria das duas versões também pode soar um pesadelo mortal para um tipo de criminoso que, num passado recente do Brasil, saía fácil da cadeia e até levava a melhor, em relação aos homens de bom caráter, na conquista de novas vít… quer dizer, namoradas. Comparem as letras.
HEY JOE (Letra original em inglês)
Hey Joe
Where you going with that gun in your hand?
Hey Joe
I said, where you going with that gun in your hand?
I'm going down to shoot my old lady
You know, I caught her messing around with another man
I'm going down to shoot my old lady
You know, I caught her messing around with another man
And that ain't too cool
Hey Joe
I heard you shot your woman down
You shot her down, now
Hey Joe
I heard you shot your old lady down
You shot her down to the ground
Yeah
Yes I did, I shot her
You know, I caught her messing around, messing around town
Yes I did, I shot her
You know, I caught my old lady messing around town
And I gave her the gun
I shot her!
Hey Joe (said now)
Where you going to run to now?
Where you going to run to?
Hey Joe (I said)
Where you going to run to now?
Where you, where you going to go?
Well, dig it
I'm going way down south
Way down to Mexico way
Alright
I'm going way down south
Way down where I can be free
There's no one going to find me
Ain't no hangman going to
He ain't gonna put a rope around me
You better believe it right now
I got to go now
Hey Joe
You better run on down
Goodbye everybody, ow!
Hey Joe, uh
Run on down
HEY JOE (Versão de O Rappa)
Hey Joe
Onde é que você vai
Com essa arma aí na mão?
Hey Joe
Esse não é o atalho
Pra sair dessa condição!
Dorme com tiro acorda ligado
Tiro que tiro
Trik-trak boom
Para todo lado
Meu irmão, é só desse jeito
Consegui impor minha moral...
Eu sei que sou caçado
E visto sempre como um animal
Sirene ligada os homi
Chegando trik-trak
Boom boom
Mas eu vou me mandando
Hey Joe
Assim você não curte o brilho
Intenso da manhã
Acorda com tiro dorme com tiro
Hey Joe
O que o teu filho vai pensar
Quando a fumaça baixar
Fumaça de fumo
Fogo de revólver
E é assim que eu faço
E faço a minha história
Meu irmão, aqui estou por causa dele
E vou te dizer
Talvez eu não tenha vida
Mas é assim que vai ser
Armamento pesado
O corpo é fechado
Eu não quero é mais ver
Mas vai ser difícil me deter
Hey Joe
Muitos castelos já cairam
E você tá na mira
Hey Joe
Muitos castelos já, e você tá na mira
Também morre quem atira
Menos de 5% dos caras do local
São dedicados a alguma atividade marginal
E impressionam quando aparecem nos jornais
Tapando a cara com trapos
Com uma Uzi na mão
Parecendo árabes árabes árabes do caos
Sinto muito cumpadi
Mas é burrice pensar
Que esses caras
É que são os donos da biografia
Já que a grande maioria
Daria um livro por dia
Sobre arte, honestidade e sacrifício
Sacrifício...
Arte, honestidade e sacrifício
Também morre quem atira.
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