A burguesia ilustrada é paranoica. Tem medo de pagar o ônus dos seus antepassados, ligados a um histórico de genocídios, escravidão, golpes políticos e outras atrocidades. Agora se passando pela “elite mais legal do mundo”, a burguesia ilustrada, a elite do bom atraso, precisa parecer “democrática” e alinhada aos “novos tempos”.
Daí que recorrem à figura do negacionista factual, o “isentão” que acha que pode manipular a realidade conforme suas convicções e seus juízos de valor. A burguesia ilustrada, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, não quer que saibamos o que ela fez no verão passado. Daí a necessidade de boicotar o senso crítico, tido como "frescura distópico-existencialista". Esse boicote é um resíduo da ditadura preservado nesses tempos “democráticos”.
O lulismo, por ironia, tornou-se o refúgio político dos netos da geração que derrubou Getúlio Vargas e João Goulart. Tornou-se a escolha política dos descendentes da antiga Casa Grande que, há 50 anos, se consolidou como a ordem social dominante, mantendo seu poder intato até hoje. Mas, para sobreviver, a burguesia ilustrada precisa mudar na aparência para preservar a antiga essência de classe.
Daí a assimilação aparente de hábitos que são supostamente vinculados a um tipo de “cultura popular” que a burguesia ilustrada acredita haver, no seu julgamento etnocêntrico. De ir a estádios de futebol a falar português errado, além de ter um gosto musical tenebroso, como é a música brega-popularesca que essa elite bronzeada consome.
Essa classe dirigente está com muito medo de perder a supremacia definitivamente conquistada nos tempos do "milagre brasileiro", quando essa classe dominante pôde expressar seu poder num período de aparente paz social, sem o poderio exercido sob violentas tensões pelos seus antepassados.
É uma paranoia muito grande. Agora que os netos da geração que derrubou João Goulart passaram a desenvolver um bom mocismo, eles se assustam com qualquer hipótese de volta do senso crítico, por isso buscam transformar as redes sociais num antro de opiniões subservientes e debates inócuos.
Depois que, diante de tantas tentativas de se reinventar como classe dominante, através dos debates do Renova BR, Esfera Brasil e quejandos ocorridos desde 2015, a burguesia ilustrada passou a ver em Lula o seu candidato ideal, na ironia do petista carregar uma reputação esquerdista que, embora não reflita mais na realidade, continua oficialmente no imaginário oficial dos brasileiros.
Pode soar absurdo para muita gente, mas Lula tornou-se o único galho a segurar as mãos da burguesia decadente, que aposta nas gerações recentes de jovens adultos com seu visual casual e seu estilo de vida "gente como a gente" para fazer com que a classe dominante, agora camuflada de "gente simples e legal", mantenha seu poder sem que as pessoas se arrisquem a perceber.
O risco de que seu hedonismo desenfreado, seu consumismo voraz e suas vidas opulentas se encerrem faz com que a burguesia ilustrada tente se livrar de anéis e gravatas para preservar dedos e pescoços, enquanto se mistura entre o povo posando de "gente legal" a comandar as festas tóxicas dos tempos atuais. A burguesia ilustrada quer curtir plenamente a "democracia" que seus avós reivindicaram em 1964 e que, ironicamente, é representada atualmente pelo presidente Lula.
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