Enquanto no Brasil a juventude vira paga-pau de um empresariado "democrático", como os da indústria do entretenimento brasileira que se tornam os novos super-ricos às custas de investimentos pesados em shows de ídolos musicais estrangeiros, uma magnata estadunidense destoa das convicções da "boa" sociedade e leva a sério a necessidade de cobrar taxas rigorosas aos super-ricos.
Abigail Disney, neta de Roy Disney e sobrinha-neta de Walt Disney, ambos fundadores da The Walt Disney Company, e cineasta, ativista social e palestrante, tem 65 anos e já doou US$ 70 milhões de um patrimônio de US$ 500 milhões para projetos sociais.
Ela é integrante do grupo Patriotic Millionaires, movimento de empresários dos EUA que defendem tributações mais rigorosas para os excessivamente ricos e defende o lema "orgulho de pagar mais". Por ironia, ela deu recentemente uma entrevista à Folha de São Paulo, pois o conhecido periódico paulista é uma das expressões da burguesia ilustrada, porém gananciosa, que se passa por "esquerdista" mas defende valores ligados à precarização do trabalho e da cultura popular.
Segundo Abigail, a sociedade tem que parar de idolatrar as pessoas ricas, assim como parar de acreditar que os ricos sabem mais. E isso lembra bastante aquela ilusão de que ter mais dinheiro significaria ter mais saber, o que faz com que o mercado coloque no mesmo balaio quem tem maior formação educacional e maior poder aquisitivo.
O governo Lula, que adota uma postura hesitante em relação a temas como o fim da escala 6x1 e a taxação aos super-ricos, defende, neste segundo caso, uma taxação que é considerada branda e que permite a recuperação e até a ampliação das fortunas dos abusivamente ricos. Apesar disso, a proposta de Lula é aplaudida por uma burguesia enrustida que monopoliza as narrativas nas redes sociais, anos depois de, por ironia, se empolgar com pequenos resgates financeiros da Operação Lava Jato.
Em outras palavras, a elite do atraso, hoje repaginada na "classe mais legal do mundo" e atualmente alinhada com a "democracia de um homem só" de Lula, se empolga quando o Estado recupera uns "milhões de reais", tanto nos tempos em que essa classe apoiava Sérgio Moro quanto agora, "arrependida", apoia incondicionalmente o Lulismo 3.0.
Abigail é uma exceção à regra e devemos reconhecer que, infelizmente, no Brasil, exceção é como um micro-ônibus querendo ter a superlotação de um trem-bala bem comprido. Há poucos burgueses dotados de conscientização social, mas há burgueses que surfam no prestígio dos socialmente conscientizados sem no entanto concordar com suas ideias.
E aí vemos o quanto a juventude, em massa, foi morder a isca do show gratuito de Lady Gaga sem perceber que, mesmo sem pagar um ingresso, está contribuindo para a fortuna dos homens de negócios que investem em shows internacionais, aproveitando o consumismo voraz da rapaziada, que sente obsessão em ser "incluída" nos eventos da moda, sob o risco de frustração por não poder curtir as atrações momentâneas do entretenimento frenético dos últimos tempos.
E assim temos pessoas consumindo tudo, gastando dinheiro quando podem, mas mesmo assim aderindo ao consumismo voraz em que as pessoas praticamente viram coisas, enquanto seus produtos, podendo ser um ídolo musical, uma bebida alcoólica ou alguma outra mercadoria da moda, se "humanizam" e se "divinizam", fazendo com que a "sociedade do amor" veja no "ter" a única razão de sua existência.
Com uma sociedade assim, os magnatas brasileiros deitam e rolam.
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