LUIZ ANTÔNIO MELLO NA SALA DE PRODUÇÃO DA RÁDIO FLUMINENSE FM, EM 1982.
Falecido há uma semana, com 70 anos de idade - prematuro, se considerarmos o vigor mental e a lucidez e bagagem cultural que tinha - , o jornalista Luiz Antônio Mello, através desse óbito, soltou o último e desesperado grito da cultura rock que se rebaixou a uma mercadoria a mais para os executivos de rádio. Afinal, perdemos ele que foi um grande professor da Escola do Rock à brasileira, mostrando coisas substanciais e a léguas distante da mesmice do hit-parade.
Num momento em que o rock, perdendo a relevância entre os jovens e destinado a se tornar um gênero para "iniciados", como o jazz, as rádios comerciais chamadas de "rádios rock" foram as mais abaladas diante da repentina perda de LAM, pois inevitavelmente essas rádios sairão prejudicadas diante da comparação com o que foi o trabalho do saudoso jornalista na divulgação do rock para o público em geral.
Desde 1989, o radialismo rock sofreu com a invasão de emissoras canastronas, que na verdade eram "rádios pop que só tocavam rock", sem personalidade e, muitas vezes, com uma atuação desastrosa e cheia de erros. Em muitos casos, seus proprietários eram pessoas bastante conservadoras, como a antiga 96 FM, de Salvador, do político e latifundiário Nilo Coelho, com base política em Guanambi. Isso sem falar dos donos da 89 FM de São Paulo, que eram abertamente ligados à ditadura militar.
Num primeiro instante, um sem-número de rádios pseudo-roqueiras desapareceu, por volta de 1993, por conta da baixa audiência e da atuação desastrada no segmento rock. Mas o mercado, comandado pela 89 FM, agiu em represália e, entre 1994 e 1996, desapareceram as rádios Fluminense, 97 Rock e Estação Primeira.
A partir de 1995, outro movimento de rádios canastronas eclodiu, e temporariamente a Transamérica, rádio de propriedade de ricos banqueiros, atuou como dublê de "rádio rock". Leopoldo Rey, da 97 Rock, chegou a prestar consultoria para o programa noturno "T-Rock". Mas o formato acabou sendo "definitivamente" assumido por duas rádios, a Cidade FM no Rio de Janeiro e a citada 89 FM.
"Rádio rock", na prática, virou sinônimo de escritório das empresas que promovem festivais de música e shows de ídolos musicais estrangeiros. A programação diária passou a ser idêntica ao de qualquer rádio pop convencional, apenas dotando de um vitrolão "roqueiro", tocando apenas medalhões e nomes mais comerciais.
O lado "relevante" do radialismo rock passou a ser restrito a programas noturnos de rock, ou seja, programas específicos de uma ou duas horas de duração que são apresentados por músicos e jornalistas conhecedores de rock. A disparidade desses programas com a grade diária é gritante.
Com exclusividade, nosso blogue revelou o porquê dos críticos musicais e outras pessoas famosas passarem pano nas rádios comerciais "de rock". Trabalhando no período diurno, eles só ouviam as "rádios rock" durante os horários dos programas noturnos, geralmente entre 21 horas e a meia-noite, quando o repertório musical era mais cuidado e quase sempre os locutores tinham realmente um estilo e mentalidade adequados ao rock.
A perda de LAM se soma aos debates sobre cultura rock que anda se fazendo hoje, com base na tendência trazida pelo portal britânico Far Out Magazine, a partir de informações biográficas sobre músicos de rock. O portal Whiplash.Net está seguindo essa tendência no Brasil.
Com esses debates, também se discute a mídia especializada em rock e, com isso, 89 FM e Cidade acabam sendo alvos de críticas extremamente duras, não bastasse o repúdio que o público de rock autêntico manifestou para as duas emissoras, o que fez com que os adeptos das duas FMs se tornassem irritadiços, por não serem levados a sério no meio roqueiro.
Assim, a lacuna deixada por LAM passa a ser objeto de comparação com a mesmice que é a programação das ditas "rádios rock" e seus locutores pop que, mesmo "presos" aos textos informativos que leem - as ditas "rádios rock" tentam caprichar no jornalismo, mas dificilmente sai daquele ranço de "revista Capricho querendo parecer a Rock Brigade", por mais esforçado que seja - , não fogem do estilo, linguagem e mentalidade dos locutores "engraçadinhos" das rádios pop convencionais.
Com isso, o impacto da morte de Luiz Antônio Mello nas "rádios rock" comerciais será profundamente negativo, mas não refletirá na melhoria dessas rádios, porque estas atitudes soarão tendenciosas, oportunistas e sem ousadia. E o público roqueiro anda desconfiado e se cansou de tanto passar pano para o mainstream, porque essa atitude só fez o rock perder espaço para o "funk" e o "sertanejo".
Já basta, portanto, o rock perder o cartaz como um movimento cultural da juventude. Por isso, sentar no colo da Faria Lima só irá piorar as coisas.
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