Recentemente, portais sobre celebridades apresentaram uma lista de famosos que apoiam a candidatura de Jair Bolsonaro.
Destacam-se nomes como Gusttavo Lima, Eduardo Costa, Amado Batista, Roger Rocha Moreira (Ultraje a Rigor), Pepê e Nenem (apesar delas serem lésbicas e negras) e outros.
Até dois sobreviventes de graves problemas de saúde, Andressa Urach e o cantor de axé-music Netinho, sinalizaram apoio ao "mito".
Alexandre Frota e Joyce Hasselmann, nem se fala: os dois se candidatam a cargos políticos na chapa do próprio Jair.
E há esportistas como o jogador de futebol Felipe Melo, os astros do vôlei Wallace e Maurício Souza, e o lutador de UFC José Aldo.
Mas o que chama a atenção é o apoio de Zezé di Camargo (ainda não posso dizer de Luciano, embora ele se revele conservador) ao "mito", postura seguida por sua ex-mulher Zilu Godoy.
Ele era símbolo do pretenso esquerdismo cultural, quando se superestimou sua intenção em votar em Lula.
Foi em 2005, quando a intelectualidade "bacana" estava em alta, com sua "santíssima trindade".
Eram o "Pai", o "Filho" e o "Espírito Santo". Respectivamente, Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna.
Todos a serviço da mídia venal, de uma forma ou de outra, ainda que velada.
Mesmo o agora autodenominado "Lula Alexandre Sanches", bajulador de petistas no Twitter e principal condutor do Farofafá, mas que fez favor a Armínio Fraga divulgando banda do filho e fez cobertura da Festa de Barretos com o patrocínio de Geraldo Alckmin.
Um parêntese é que, se não fosse a boa atuação de Jotabê Medeiros - espécie de Roberto Pompeu de Toledo daquela Veja tecnobrega - , o Farofafá seria uma espécie de Duplo Expresso pós-tropicalista.
2005 era o ano em que a bregalização ocorria em pleno vapor. Era um golpe político silencioso contra Lula, uma forma de desestabilizar seu governo, complementando a pressão das elites pelo "escândalo do mensalão".
Esse golpe político era uma espécie de "armadilha amiga", uma "tocaia" na qual os golpistas culturais - a intelectualidade "bacana", resposta tardia da geração IPES-IBAD ao CPC da UNE - se infiltram nos círculos esquerdistas e lhes fingem "sincera solidariedade".
Vão fazendo seu falso apoio a Lula (manobra que, em parte, perdura até hoje), para inserir ideias alheias e paradigmas de "cultura popular" próprios dos grupos Globo, Abril e Folha.
Zezé di Camargo & Luciano eram um dos pratos principais desse cardápio brega, juntamente com o "funk" ("menina dos olhos" das Organizações Globo) e a "redescoberta" de Waldick Soriano, que empurrava ídolos da mídia venal para o apoio submisso das esquerdas médias.
Pouco importava se Zezé e seu irmão votaram no ruralista Ronaldo Caiado, ou que Os Dois Filhos de Francisco era uma co-produção da Globo (que blindava, do mesmo modo, Waldick e o "funk").
O fato deles votarem, não de maneira incondicional, em Lula os tornou pretensos símbolos de um festejado, superestimado, porém falso esquerdismo.
Enquanto Zezé di Camargo & Luciano vendiam uma imagem "humanista" na mídia de esquerda, nas redes sociais eram os sociopatas que patrulhavam a dupla, perseguindo quem contestava até um único espirro que Zezé desse nos palcos.
Oficialmente, ninguém era "obrigado a gostar" da dupla, mas a "respeitá-la". Nas redes sociais a regra era outra: "Quem não gostasse da dupla era vítima de humilhações pesadas".
Já vi internautas no Orkut "rastreando" quem não gostasse de Zezé di Camargo & Luciano para ser vítimas de valentonismo digital (cyberbullying).
Os sociopatas botavam pra quebrar no Orkut, mas as esquerdas médias imaginam que o reacionarismo virtual só começou com o Facebook.
Com o tempo, os "queridinhos" da bregalização que intelectuais festivos empurravam para as esquerdas goela abaixo, como chá de losna em boca de criança, se mostraram conservadores ou até reacionários.
Zezé di Camargo & Luciano foram alguns deles, e em 2014 os dois se revelaram apoiadores de Aécio Neves. Note-se que boa parte dos aecistas migraram para Jair Bolsonaro, neste ano.
Aí, recentemente, chegamos a Zezé di Camargo, ultimamente aparecendo mais como subcelebridade do que como cantor e compositor (medíocre), lançando discos com o irmão que não fazem sucesso algum.
No fundo, Zezé di Camargo & Luciano são meros one-hit wonders, conhecidos mais pelo único sucesso, "É o Amor", além de uma meia-dúzia de músicas que ninguém sabe o título e que só os fãs mais fanáticos conhecem.
O apoio a Bolsonaro sinaliza o que, no exterior, se conhece como hasbeen, os famosos considerados "decadentes".
E mostra o quanto o suposto apelo popular, que nessas situações é motivado pela mediocridade e pelo sensacionalismo e pelo apelo desesperado em "aparecer", a qualquer preço.
E aí buscam identificar-se com um candidato à altura deles: medíocre, decadente e querendo aparecer a todo custo.
Jair Bolsonaro não é um candidato a estar nas alturas e a gozar nas pesquisas o favoritismo que se dá a alguém com um mínimo de humanismo.
Como as subcelebridades, uma combinação de sensacionalismo, jabaculê - com Paulo Guedes "comprando" as pesquisas eleitorais, de forma que Jair, estranhamente, aumentasse seus índices de rejeição sem perder os de aceitação - e pretensas polêmicas, o "mito" tem muita visibilidade.
O problema é que esse Brasil decadente é considerado "normal" e "gente como a gente".
É muita ingenuidade naturalizar a inferioridade social. E é essa a armadilha que festejados intelectuais que, infiltrados nas esquerdas, servem todavia aos interesses da mídia venal, trouxeram para as forças progressistas.
E isso é o maior preconceito que se tem das classes populares. Um preconceito que, no entanto, exigia aceitação forçada sob a desculpa do "combate ao preconceito".
Imaginávamos que esse discurso iria mesmo romper os preconceitos. Engano total. Novos e piores preconceitos foram criados, a ponto das pessoas poderem eleger um candidato sem mérito algum para governar o país.
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