Pular para o conteúdo principal

INTELECTUALIDADE "BACANA" E MUSEU NACIONAL

ESQUELETO DE UM DINOSSAURO, UM DOS PRINCIPAIS BENS DO MUSEU NACIONAL QUE ESTÃO ENTRE OS OBJETOS PERDIDOS PELO INCÊNDIO.

Três dias após o incêndio no Museu Nacional, uma parcela da sociedade chora lágrimas de crocodilo.

Num certo sentido, temos que concordar com as queixas do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, sobre as "viúvas do Museu Nacional".

"Agora tem muita viúva chorando. Não tenho visto ultimamente alguém destacando a história do museu para torná-lo mais amado. Está aparecendo muita viúva apaixonada, mas essas viúvas não amavam tanto assim o museu", disse Marun.

O problema é que Marun quis falar de pessoas "de fora", mas é a sua classe que, em parte, integra esse grupo de tristonhos fingidos.

O próprio Michel Temer, tão defendido por Marun, a quem lhe presta serviço, é "uma dessas viúvas apaixonadas".

Temer não mediu escrúpulos em pedir a aprovação do teto dos gastos públicos, e agora paga o preço da deplorável medida, com um grande acervo que se perdeu para sempre.

Por sorte, uma parcela da gigantesca coleção sobrevive agora em fotos, que podem compor um acervo digital do que havia sido boa parte do acervo do Museu Nacional.

Especialistas em antropologia, arqueologia e outras áreas do Conhecimento, no entanto, afirmam que pesquisas exclusivas e raras, que retratavam a pré-história dos povos africanos e, também, da Antártida, se perderam, criando uma dramática lacuna nas pesquisas científicas.

Ainda sobre "as viúvas", podemos incluir a intelectualidade "bacana", que nunca valorizou o patrimônio cultural senão na imagem pejorativa dos museus, como porões de um passado que permanece guardado e condenado ao esquecimento público.

A intelectualidade "bacana", que pregava, sob a desculpa do "combate ao preconceito", a bregalização do Brasil, tratava com desdém o rico patrimônio cultural e, em parte, o acervo verdadeiramente intelectual, acumulado ao longo dos séculos.

Para a intelectualidade "bacana" e festiva, havia um "outro patrimônio cultural" que estavam dispostos a defender, como o "funk".

Em setembro de 2009, a ALERJ deu ao "funk", meio que de mentirinha, o título de "patrimônio cultural" sem qualquer critério técnico, mas tão somente político.

O "patrimônio" da intelectualidade "bacana" era a suposta "cultura popular", mais quantitativa que qualitativa, e que era, na verdade, ditada pela mídia hegemônica, seja de âmbito nacional ou regional.

Era o tal "popular demais", o brega-popularesco, a "ditabranda do mau gosto", que transformam o povo pobre em caricatura.

O discurso demagógico da intelectualidade "bacana", que não se dirigia exatamente ao grande público, alheio a essas pregações, apelava para legitimar formas meramente mercantis e defendidas pela mídia venal.

Só que a intelectualidade "bacana", para parecer "bem legal", tinha que puxar o saco do esquerdismo, tentar esconder a sombra dos barões da mídia para ver se fica "bem na fita" nas redes sociais.

Fácil o aluno-modelo do finado Otávio Frias Filho, Pedro Alexandre Sanches, embarcar na adoção do sobrenome Lula e virar "Lula Alexandre Sanches".

Mas ele e seus pares nunca zelaram para uma cultura progressista e Sanches, quando pôde, foi fazer, com seu braço-direito Eduardo Nunomura, cobertura do Festival de Barretos com a grana do Geraldo Alckmin.

Recentemente, o Festival de Barretos segue a sina de boa parte das "viúvas de Aécio Neves" e dos "órfãos de Geraldo Alckmin": apoiar Jair Bolsonaro, o direitista da moda.

A intelectualidade que sonhava com um Brasil brega também não estava aí para o Museu Nacional.

Como todo museu, esses intelectuais "tão legais" queriam é que museus se tornassem depósitos de cultura que eles, só eles, estavam cansados de apreciar.

Museus eram apenas porões do esquecimento, porque a "cultura viva" é que aparecia no rádio e na TV, era mais grosseira e medíocre, e fazia apologia da ignorância e da miséria do povo das chamadas "periferias".

O "patrimônio" eram as casas caindo aos pedaços nas favelas, pretensos paraísos cujos moradores tinham que andar muito, encarando acessos difíceis só para ir ao ponto de ônibus pegar a condução para o trabalho.

O "patrimônio" era o alcoolismo dos idosos pobres, a prostituição das jovens pobres, a pobreza é que era o "patrimônio" dos pobres, aos olhos da intelectualidade "mais legal do Brasil".

Para a intelectualidade "bacana", pouco importava se havia ou não pesquisas sobre a história dos povos africanos ou ameríndios, ou se essa história caiu no esquecimento.

Até porque os intelectuais "bacanas", no seu "bom etnocentrismo", defendiam que o "patrimônio" dos povos africanos e afro-brasileiros era o "funk" e dos ameríndios, o tecnobrega, o "forró eletrônico" ou, quando muito, o "sertanejo".

O "patrimônio cultural" do "popular demais" era composto de valores americanizados acolhidos, de forma acrítica e sob decisão "de cima" do mercado e da mídia hegemônica, pelo povo pobre induzido a viver de "amnésia" cultural.

Toda essa pregação pela bregalização cultural ajudou a criar condições para o golpe político de 2016, apesar de toda a bajulação desses intelectuais a Lula e Dilma Rousseff (tudo pela verba do MinC, vale lembrar).

Hoje, uma boa parcela do "popular demais" está defendendo Jair Bolsonaro.

O povo pobre saiu enfraquecido com o discurso da bregalização que, de uma forma estranha, passava com facilidade dos espaços da mídia venal, que criou esse discurso, para a mídia esquerdista que, na boa-fé, acolheu o proselitismo da intelectualidade "bacana".

A festiva pregação pelo "fim do preconceito" na verdade criou novos preconceitos. Contra nosso patrimônio cultural, contra nossa identidade, contra Lula e Dilma Rousseff.

O povo pobre, fragilizado, em primeiro momento estava ocupado dançando o "funk", o tecnobrega, o "sertanejo", o "forró eletrônico", a "tchê-music", o axé-music, brincando de falso ativismo sócio-cultural com os safadões e popozudas do rádio.

Em segundo momento viu, impotente, as elites pedindo a derrubada do governo Dilma Rousseff.

Em terceiro momento, vê o canto de sereia de Jair Bolsonaro prometendo, para os pobres, "mais emprego" (desde que abrindo mão de direitos trabalhistas e aceitando salário de fome), e caem nesse papo furado.

E também vemos o Museu Nacional ardendo em chamas, com o patrimônio nele guardado sendo destruído.

Os intelectuais "bacanas", que ainda continuam bajulando Lula (mas abrem as porteiras para Bolsonaro), encenam os prantos ensaiados pela destruição do Museu Nacional.

Fazem declarações tendenciosamente aversas a Michel Temer, porque precisam falar mal dos conservadores da moda, seja Temer, seja Aécio Neves, William Bonner, William Waack ou a Rede Globo como pessoa jurídica.

Mas agora esses intelectuais têm que engolir os escombros do Museu Nacional, porque, para eles, a verdadeira cultura sempre foi artigo de museu e, para eles, museus só serviam para guardar o esquecimento e isolar o patrimônio do Brasil contra o alcance dos próprios brasileiros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

LULA ESTÁ A SERVIÇO DA ELITE DO ATRASO

A queda de popularidade de Lula está sendo apontada por supostas pesquisas de opinião, o que, na verdade, soam como um reflexo suavizado do que já ocorre desde que Lula decidiu trocar o combate à fome e o desemprego pelas viagens supérfluas ao exterior. Mas os lulistas, assustados com essa realidade, sem saber que ela é pior do que se imagina, tentam criar teorias para amenizar o estrago. Num dia, falam que é a pressão da grande mídia, noutro, a pressão dos evangélicos, agora, as falas polêmicas de Lula. O que virá depois? Que o Lula perdeu popularidade por não ser escalado para o Dancing With the Stars dos EUA para testar o "novo quadril"? A verdade é que Lula perdeu popularidade porque sei governo é fraco. Fraquíssimo. Pouco importam as teorizações que tentam definir como "acertadas" as viagens ao exterior, com a corajosa imprensa alternativa falando em "n" acordos comerciais, em bilhões de dólares atraídos para investimentos no Brasil, isso não convence

RETORNEI DE FÉRIAS

Foram dezoito dias no Grande Rio. Duque de Caxias, sobretudo Xerém, mais Rio de Janeiro, principalmente Tijuca, com passeios pelo Centro, Méier, Del Castilho e Barra da Tijuca. Uma breve passagem em Niterói, focalizando Icaraí e Jardim Icaraí, mas passando pela Rodoviária na Avenida Feliciano Sodré e no Plaza Shopping, no Centro. Dias de férias, entre 19 de dezembro e 06 de janeiro. Ao voltar para São Paulo, é tempo de arrumar a casa e planejar a vida. E o Linhaça Atômica está de volta, depois de alguns dias com reprise de antigas postagens. 2022 foi embora, bastante difícil e um tanto doloroso, e 2023 começa, prometendo ser também um outro ano difícil. Mas vamos seguir em frente, e esperamos que melhorias ocorram. O blogue está de volta.  

LULA NÃO QUER ROMPER COM A VELHA ORDEM

Vamos combinar uma coisa. As redes sociais são dominadas por uma elite bem de vida e de bem com a vida, uma classe brasileira que se acha "a mais legal do planeta", e "a mais equilibrada", sem os fundamentalismos afro-asiáticos nem os pessimismos distópicos do Existencialismo europeu. Essa classe quer parecer tudo de bom e soar, para outras pessoas, diferente dos padrões convencionais da humanidade. Daí a luta de muitos em serem aquilo que não são, parecerem o oposto de si mesmos para lacrar na Internet e obter popularidade e prestígio. Daí ser compreensível que a falsidade é um fenômeno tipicamente brasileiro. O "tomar no cool " que combina pretensiosismos e falsos preciosismos, grandiloquência e espiral do silêncio, a obsessão em parecer diferente sem abandonar as convenções sociais, a luta em parecer novo sem deixar de ser velho, de estar na vanguarda mesmo sendo antiquado, na esperança de que o futuro repita o passado enquanto se vê um museu de grandes

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PERDEMOS JEFF BECK

Uma meningite tirou a vida do superguitarrista inglês Jeff Beck, um dos grandes músicos do rock britânico da década de 1960. Ele tinha 79 anos incompletos e estava em atividade, tanto que um de seus últimos trabalhos foi o disco de covers 18 , lançado no ano passado, quando o britânico fazia parcerias com o ator Johnny Depp em suas atividades musicais. Também em 2022 Jeff Beck fez uma participação no disco de Ozzy Osbourne, Patient Number 9 . Em 2016, Jeff lançou seu último disco de estúdio, Loud Hailer . Jeff Beck foi famoso por ter integrado a icônica banda Yardbirds, uma daquelas bandas seminais de rock que são criminosamente menosprezadas no Brasil, cujo mercado roqueiro quase sempre foi contaminado pelo viralatismo e por uma mídia sem qualquer especialização no gênero, em especial as tais "Jovem Pan com guitarras", uma dessas rádios comandadas por um chefão da Faria Lima. Nem a participação dos Yardbirds no filme Blow Up, de Michelangelo Antonioni, fez a banda deapertar

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl