Um texto da colunista do Diário do Centro do Mundo, Nathali Macedo, sobre o que ela aprendeu com as mulheres que querem votar em Jair Bolsonaro, confirma a seguinte hipótese.
O bolsonarismo é a volta do "voto de cabresto", a antiga prática da República Velha dos oprimidos serem induzidos a votar no candidato dos opressores.
Nathali cita a aberrante situação pós-golpe de 2016 que é a de "mulheres que votam em candidatos misóginos e negros que votam em candidatos racistas".
No decorrer do texto, Nathali fala das mulheres que ela consultou entre as que querem votar em Jair Bolsonaro.
As alegações que ela colheu foram, em resumo, estas: "o marido vota", "a família toda vota", "o voto se justifica pelo desejo de segurança da população através do porte de armas".
Estamos em 2018. Mas isso poderia ser 1918.
Engana-se que Jair Bolsonaro seja a representação do "novo" ou do "voto livre" ou seja uma espécie de "manobra radical" consequente da redemocratização do país.
Jair Bolsonaro, na verdade, representa o velho, representa o apelo desesperado dos viúvos e viúvas da República Velha que não suportam os progressos realizados no Brasil depois de 1930.
A frustração do fim da República Velha buscou sua revanche tardia de 2016, depois de vários ensaios observados em 1964, 1968, 1974, 1989, 1994 e 1998.
E agora essa revanche vem com apetite redobrado, ainda que sob o aspecto surrealíssimo do "popular" Jair Bolsonaro assumir a herança política do impopular Michel Temer.
Antes que alguém diga que isso é fake news, pergunte a Paulo Guedes, o "posto Ipiranga" e jabazeiro de campanha, sub-celebridade da Economia e colaborador da ditadura chilena de Pinochet.
Guedes disse, em entrevista para a Globo News, que VAI herdar as medidas econômicas do governo Temer, para desespero do "pobre de direita" que acha que Bolsonaro vai jogar dinheiro pela janela na hipótese dele ser eleito.
Bolsonaro é a consagração do golpe político de 2016, sob o aparato do voto popular.
Os bolsomínions soam como uma versão psicopata do Movimento Brasil Livre (Movimento Me Livre do Brasil).
Esses xiitas que defendem Bolsonaro fazem o MBL parecer um bando de crianças inocentes.
Eles lembram muito os jagunços rurais e os capangas urbanos que forçavam o povo a votar sempre nos candidatos dos ricos e poderosos.
Naquela época, mulheres não votavam. O voto de cabresto era, ao menos, um "privilégio" masculino.
E havia fraude eleitoral, de forma que o candidato do dono do poder sempre ganhava. Havia papéis previamente preenchidos com o nome do candidato do poder dominante, prontos para serem colocados na urna eleitoral.
Hoje o voto de cabresto tem outro contexto. Todavia, sabemos que, nas zonas rurais - que no fundo nunca saíram de padrões atrasados da República Velha, salvo exceções - , continua a imposição de fazendeiros forçarem agricultores e moradores das roças a votarem em Bolsonaro.
O contexto mais influente, no entanto, fica sendo a das redes sociais.
Valentões da Internet forçam seus colegas em comunidades nas quais todos estão inscritos a votar no "mito", sob a ameaça de ser humilhado de alguma forma na Internet.
Embora o bolsonarismo venda para a opinião pública a falsa ideia de "voto livre", o valentonismo digital e a truculência das ruas revela o rebute (reboot) do voto de cabresto da República Velha.
E ainda há o "voto de cabresto" através das pesquisas de intenção de voto e a forma com que a grande imprensa interpreta os dados.
No primeiro processo, a grana de Paulo Guedes e seus amigos empresários "segura" o "mito" no segundo ou no primeiro lugar, em que pese o escândalo que o candidato do PSL se envolver.
Dessa forma, o "cabresto" estatístico faz Bolsonaro "grudar" no segundo turno da campanha presidencial ou se fazer de "líder" nas pesquisas em algumas projeções.
No segundo processo, a imprensa despeja a notícia de maneira hipnótica, quase como se estivesse vendendo um produto: "Bolsonaro lidera com tantos por cento", "Quem vai enfrentar Bolsonaro no segundo turno?".
E ainda há o risco de fraude eleitoral. Oficialmente, as urnas eletrônicas se revelam "seguras", "confiáveis" e "impassíveis de fraude", mas quem acredita que elas não podem ser fraudadas?
Já se fala que no interior do país as urnas eletrônicas já estão "bichadas", eletronicamente programadas para "traduzir" os votos brancos e nulos para o 17 de Bolsonaro.
O voto de cabresto está com Bolsonaro, que é a volta da República Velha ao poder. Mas, como em todo rebute, os contextos e pormenores são diferentes. A única diferença é que essa tragédia não será um seriado do Netflix, mas uma ameaça real a nosso país.
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