Jair Bolsonaro virou um Frankenstein político.
Em condições normais, ele não estaria sequer no quinto ou no sexto lugar entre os favoritos para a Presidência da República.
Ele estaria, provavelmente, pregando o obscurantismo social ao lado de João Amoedo e Cabo Daciolo, isolados no alto de uma montanha, como ermitões políticos.
Mas todo o "combustível" trazido pelo "posto Ipiranga" Paulo Guedes - um dos "Chicago Boys" do general Pinochet - , ou seja, muito dinheiro comprando pesquisas eleitorais, transformou Jair em um monstro.
Seu crescimento é fake, mas descontrolado. Incidentes graves não conseguiram baixar a "febre Bolsonaro".
Mesmo insossos, Marina Silva e Geraldo Alckmin poderiam ter algum lugar ao Sol. Até porque, perto de Jair Bolsonaro, que não tem propostas para o país, Marina e Geraldo parecem politicamente mais atraentes, embora conservadores.
A impressão que se tem é que a sociedade parece que bateu demais no PSDB a ponto de Geraldo estar em baixa nas pesquisas, ou que Geraldo parece "paulista demais" para se projetar nacionalmente.
Mas talvez sejam apenas impressões. Afinal, o que se vê é que Jair Bolsonaro virou um hype político muito perigoso, e a máscara de sua base de apoio anda caindo, uma a uma.
Primeiro, pela capacidade do vice, general Antônio Hamilton Mourão, de decidir dar um golpe até mesmo no presidente titular.
Segundo, pela truculência dos bolsonaristas que foi capaz de tentar derrubar uma página de oposição, a Mulheres Contra Bolsonaro, felizmente recuperada, no Facebook.
Terceiro, pela declaração do não-arrependido Bolsonaro, que ensaiou um vitimismo e afirmou que não vai admitir derrota nas urnas, atribuindo a ela uma suposta fraude eleitoral do Partido dos Trabalhadores.
Bolsonaro disse isso acrescentando que Fernando Haddad "só vai vencer as eleições" com o "objetivo" de tirar Lula da prisão. Uma perigosa frase de efeito, que desperta a fúria dos anti-petistas contra o ex-prefeito de São Paulo que hoje é presidenciável pelo PT.
Logo Bolsonaro, cujo lobby é capaz de fazer fraude eleitoral, no afã de ressuscitar o "voto de cabresto" de vez, já ensaiado nos assédios morais praticados nas redes sociais, onde bolsonaristas forçam a "unanimidade" ameaçando quem não declarar seu voto a favor do "mito".
Fraude eleitoral quem poderá fazer é Paulo Guedes, o jabazeiro de campanha, que jorra dinheiro para não fazer Bolsonaro perder pontos nas pesquisas de intenção de voto.
O "favoritismo" de Bolsonaro é artificial.
Ele se vende como um "fenômeno popular", mas o desejo de golpe militar, em 1964, também vendeu uma falsa imagem de "reivindicação popular".
Claro que certas atitudes pulverizaram ou se fundiram, de lá para cá.
Do IPES-IBAD que manipulou a opinião pública em 1963-1964, se dividiu na atuação política do Instituto Millenium e na atuação cultural da intelectualidade "bacana", que defende a bregalização do país, sob a desculpa do "combate ao preconceito".
O IPES-IBAD chegou a comprar espaços publicitários até na esquerdista Última Hora (prestes a ser comprada e, tempos depois, ceifada pelo grupo Folha).
A intelectualidade "bacana" chegou a atuar na imprensa de esquerda (Caros Amigos, Carta Capital, Fórum, Brasil de Fato) impondo paradigmas de "cultura popular" ditados pelo lobby popularesco do "consórcio" Globo-Abril-Folha.
Naquela época, um farsante como Cabo Anselmo virava o falso esquerdista colaborador da direita golpista e que, em dado momento, enganou as forças progressistas.
Nos últimos anos, "Cabo Anselmo" se pulverizou, de um lado, por grupos como o Movimento Brasil Livre (Movimento Me Livre do Brasil), e de outro, por atuações "militantes" de Pedro Alexandre Sanches ou de MC Leonardo (APAFUNK) e Bruno Ramos (Liga do Funk).
A "revolta dos sargentos" que desnorteou João Goulart pode ser equiparada ao "baile funk" de Copacabana, em 17 de abril de 2016, que ludibriou petistas, liderado por um Rômulo Costa amigo de Luciano Huck, parceiro da Globo e aliado de golpistas do PSD e PMDB cariocas.
E as Marchas da Família de 1964 se equiparam às manifestações do "Fora Dilma" de 2015-2016.
São diferenças de contexto, que se acrescentam no fato de que Jair Bolsonaro é um crossover de Jânio Quadros, pelo apelo moralista-populista, com a figura ufanista-conservadora do general Emílio Médici.
E isso com um Paulo Guedes tomado de apetite para ser um Roberto Campos ainda mais agressivo contra os interesses populares.
Agora, temos o fenômeno maluco de um saudosista da ditadura militar querendo dar golpe no Brasil sob o aparato de voto popular.
E que, mesmo com incidentes negativos, aparentemente não cai nas pesquisas.
Ninguém questiona essa manobra por trás dos institutos de pesquisa, subornados pelo lobby de Paulo Guedes, que até nas primeiras sílabas, "Pa" e "Gue", lembra alguém capaz de comprar a realização de seus interesses particulares ou de classe.
Também ninguém questionou a manobra do Jornal Nacional que, editando imagens do último debate presidencial entre Fernando Collor e Lula, tentou forçar a vantagem ao dito "caçador de marajás".
Eu vi isso em 1989. Era um rapazinho de 18 anos, embora parecesse ter 13.
Só mais tarde ex-jornalistas da própria Rede Globo admitiram a fraude, que apenas era debatida nas faculdades de Jornalismo, nos anos 1990.
Daqui a dez anos, vão afirmar que as pesquisas eleitorais foram "compradas". Se o IPES-IBAD pôde alugar anúncios na Última Hora, até o Vox Populi, considerado "mais técnico", recebe gorjetas de Paulo Guedes para manter Bolsonaro em "boa cotação".
E agora o que vemos é que Bolsonaro virou um "monstro", ao dizer que as eleições só serão "honestas" se apontarem ele como vencedor.
Se ele não vencer, há um risco dele ou de seu vice Mourão articularem um golpe.
Mourão já disse que, se o PT saísse vencedor, ele articularia um golpe para tirar o presidente do poder. Na época, o candidato oficial ainda era Lula, mas nada impede que Mourão faça o mesmo com Haddad.
Afinal, o fato de Haddad prometer indultar Lula já causa fúria dos anti-petistas.
Dá medo ver Bolsonaro concorrendo ao segundo turno. Ele se tornou como o Frankenstein da obra de Mary Shelley de 1818.
De um coadjuvante menos destacado do golpe político de 2016, Bolsonaro virou um risco real de catástrofe política que pode botar o Brasil a perder.
Jair Bolsonaro diz ser "contra a reeleição". Mas quem garante que ele não vá extinguir as eleições e prolongar seu poder durante longas décadas?
Isso tudo é muito assustador e parece descontrolado como no fim de um pesadelo.
Até a ONU nos alerta sobre a ameaça de Bolsonaro aos brasileiros.
Mas, desde o golpe político de 2016, o que se vê é aquilo que o saudoso cineasta Gláuber Rocha denominava de "Terra em Transe", título de seu filme de 1967.
Acharia uma boa ideia que Bolsonaro não chegasse ao segundo turno. Os brasileiros podem ajudar, não dando ouvidos às pesquisas patrocinadas pelo "posto Ipiranga".
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