CARMEN LÚCIA, EX-PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, E MÁRCIA CAVALLARI NUNES, DIRETORA-EXECUTIVA DO IBOPE.
O Brasil não tem uma tradição esquerdista. Pressionado pelo poder das oligarquias e subordinado à supremacia dos EUA, nosso país sempre fez prevalecer causas conservadoras com progressistas.
É o país em que novidades não chegam para remover o ultrapassado, mas antes são diluídas ao sabor da essência das coisas obsoletas que passam a ser assimiladas pelo fenômeno novo.
Daí, por exemplo, tivemos rádios de rock que nunca passaram de "Jovem Pan com guitarras", com locutores histéricos, repertório hit-parade e ouvintes estupidamente reacionários, na contramão da rebeldia original do rock.
As esquerdas só aprenderam, para valer, a serem esquerda de 2016 para cá.
Paciência. Mesmo nas esquerdas mais empenhadas, os "heróis" eram trazidos pela mídia reacionária, pelo poder político-midiático, pelo mercado, em troca de umas falácias atraentes.
Do general do Segundo Império que exterminava paraguaios - ignoramos que Solano Lopez foi um presidente progressista, a exemplo de Maduro na Venezuela hoje - ao funqueiro que aparece abraçado a Luciano Huck, os "heróis" das esquerdas sempre foram tutelados pela plutocracia.
Do bandeirante que dizimava tribos indígenas ao "médium espírita" de peruca que pedia para as pessoas aceitarem suas desgraças em silêncio, os "heróis" das esquerdas eram gente reacionária.
É um país onde as feministas viam empoderamento nas mulheres-objetos, ignorando que elas seguem padrões machistas de sensualidade e autoafirmação feminina.
É onde as esquerdas, ouvindo o canto-de-sereia de intelectuais "bacanas" vindos da Folha ou blindados pela Globo, acolheram paradigmas de "cultura popular" trazidos pela mídia hegemônica.
As esquerdas nem se davam conta que a gíria "balada", ligada a festas noturnas, era uma criação da Jovem Pan.
E o funqueiro Mr. Catra morreu deixando como legado uma gafe de Caros Amigos na qual dizia que ele, mesmo depois de aparecer no Caldeirão do Huck, "seguia invisível aos olhos da grande mídia".
E chegou-se a disfarçar a biografia de Waldick Soriano, escondendo seu perfil reacionário que o fazia um Lobão do seu tempo, neste sentido, e trabalhava-se um Waldick "adocicado" e "guevarizado" feito para o consumo das chamadas "esquerdas fashion".
Com isso, tínhamos, aparentemente, entre 2005 e 2007, uma suposta "frente ampla" que parecia fazer o Brasil ser "a maior nação socialista do mundo".
É um "socialismo" estranho no qual os internautas reacionários diziam gostar de Che Guevara e torciam o nariz para George W. Bush e o imperialismo, apesar deles adorarem a Nike e lancharem felizes na rede McDonald's.
Era um falso esquerdismo que, estranhamente, defendia o porte de armas, cultuava o "deus" mercado ("até o ar que respiramos é comercial, tá ligado?") e mergulhava nos valores pré-estabelecidos pela mídia hegemônica, sobretudo o brega-popularesco, também conhecido como "popular demais".
Eu chamo esse falso esquerdismo de "marx-cartismo", um estranho e esquizofrênico esquerdismo com QI altamente reacionário.
Já vi pitboy no Orkut, durante os ataques que sofri de valentonismo digital de uma parcela de membros da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo", se autoafirmando "esquerda-liberal".
O comportamento dele, no entanto, se encaixa no que hoje são os bolsonaristas mais exaltados.
O falso esquerdismo seguia o contexto do apoio condicionado dos conservadores ao projeto político e ideológico da Era Lula.
Só depois é que o gigantesco comboio social e político iniciou seus desembarques, quando apoiadores por conveniência do governo Lula passaram a defender a derrubada de sua sucessora Dilma Rousseff.
Atualmente, o que se vê é um agressivo partidarismo de várias instituições: mídia hegemônica (e sua imprensa em particular), Justiça, empresariado e setor financeiro, Legislativo, religiões (os evangélicos pentecostais e o Espiritismo feito no Brasil são maiores exemplos) etc.
Todos estão mergulhando de corpo e alma em causas ultraconservadoras, e mesmo postumamente muitos descobrem que o "adorado médium de peruca", para desespero das esquerdas que ainda o apreciam, era tão reacionário que defendeu a ditadura militar no seu auge.
Muitos chamam a atenção pelo fato de que o pensamento desejoso fez as esquerdas expressarem uma última complacência com alguns traidores.
Desculpas como "enfrentamento" do suposto esquerdista ao poder dominante, "apropriação" do poder dominante sobre o suposto esquerdista, ou mesmo a atuação do obsessor no "médium espírita", eram tolamente expressos para evitar a frustração da traição.
Era uma mania infantil de se agarrar às fantasias anteriores, como aquele marido traído que, apaixonado pela mulher, tenta se fazer crer que ela só está "brincando com seus priminhos".
Mas é difícil usar esse pensamento desejoso para tudo. Principalmente quando a voracidade dos reaças se mostra por demais explícita.
O golpe político revelou que existe, no Brasil, uma estrutura oficial, porém marginal em relação às tendências sociais do mundo inteiro, que se compromete a impor o golpe político e a agenda elitista da plutocracia.
Essa estrutura é um tanto saudosa de paradigmas de privilégios elitistas de diversas épocas, seja em 1974, auge da ditadura militar, seja nos tempos da República Velha ou, antes, no período colonial.
Ela inclui, sobretudo, o aparelho do Judiciário e do Ministério Público, sempre prontos a barrar o caminho de políticos progressistas.
Ultimamente, os institutos de pesquisa são vistos, ingenuamente, por setores das esquerdas como o último paraíso possível da transparência e da isenção.
Embora se admita que institutos como o Ibope e o Datafolha são "partidarizados" (um está a serviço da Globo, outro é do espólio deixado pelo finado Otávio Frias Filho), há uma supervalorização das pesquisas de intenção de voto que "desenham" uma realidade que não existe.
Afinal, num país que anunciou ter 208 milhões de habitantes, como duas mil pessoas podem definir o comportamento do eleitorado em geral?
Os recortes podem ser tendenciosos, daí o favoritismo fake de Jair Bolsonaro cuja farsa não é sequer apontada pelas esquerdas, que podem cair na armadilha do "crescimento" do candidato do PSL.
Constrói-se uma "realidade" com dados estatísticos duvidosos, sem que percebamos de onde vem esse "recorte" de um pequeno punhado de pessoas, que se supõe, com critérios supostamente técnicos, serem uma amostragem "fiel" da realidade brasileira.
Debatemos uma ficção e não sabemos. E, se Jair Bolsonaro parece cômico demais na sua performance, bobos são aqueles que ignoram que ele poderia ter levado, mas pesquisas, um tombo mais doloroso do que a facada que ele recebeu.
Bolsonaro só se envolveu em incidentes negativos - num coloquialismo grotesco, diríamos que Jair "só fez m..." - , vergonhosos demais para que ele se mantivesse em alta nas pesquisas.
A situação é digna de um FEBEAPÁ - e isso há menos de dez dias de lembrarmos dos 50 anos de morte de Sérgio Porto - , pois Jair Bolsonaro era para ter tido queda livre nas pesquisas há muito tempo.
Seu desempenho nas pesquisas seria justificável se fosse um liberal que, por mais conservador que seja, represente menos perigo às instituições ou mesmo às classes populares, por mais desprezadas que fossem pelo candidato.
Bolsonaro é uma perigo até para a liberdade de imprensa e para o funcionamento das leis. E quem garante que ele não quer mesmo reeleição? Ele pode cancelar as eleições e governar o Brasil por quarenta anos.
Até Marina Silva, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes apontam defeitos mais leves, mas surrealmente os três não conseguem deter o candidato do PSL, um "favorito sem causa", um candidato sem confiabilidade que, em tese, está a poucos passos de assumir o Palácio do Planalto.
A grande mídia é em boa parte culpada: ela ensaia seu hipnotismo: "Bolsonaro lidera com tantos por cento", despeja nos leitores, como se estivesse jogando café quente nos seus olhos.
Jornais menores mas solidários à imprensa hegemônica mordem a isca e também jogam essa frase hipnótica a ponto de fazer não-bolsonaristas serem induzidos a votarem no perigoso candidato.
Afinal, a revista The Economist, que não é necessariamente um "primor de lulo-petismo", como querem os reaças brasileiros, afirmou que Jair Bolsonaro é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Inferimos que Donald Trump, por perigoso e desastrado que fosse, pelo menos tem cercado, ao redor dele, políticos tradicionais do Partido Republicano, dos quais os estadunidenses estão acostumados.
Bolsonaro terá ao seu redor políticos e tecnocratas da pior espécie, equiparáveis aos do auge da ditadura militar, na década de 1970.
O que se vê é que os institutos de pesquisa estão tão integrados ao golpe político de 2016 para cá quando o Poder Judiciário.
Também acreditávamos que o Judiciário iria ter cautela maior com as leis, e apontávamos alguns integrantes de "atuação meramente técnica" aqui e ali.
Poderíamos ver tendenciosismo numa Carmen Lúcia, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (ela foi sucedida, no cargo, por Dias Toffoli, há poucos dias) ou na diretora-executiva do IBOPE, Márcia Cavallari Nunes.
Mas setores das esquerdas, com certa inocência, veem no Vox Populi "atuação técnica", como se sonhava ver, em dadas ocasiões, em figuras como Luiz Edson Fachin ou o próprio Dias Toffoli.
E agora, o que vimos? Ainda se acredita, em vão, na "função técnica" das pesquisas de intenção de voto.
É só elas colocarem um aparente favoritismo de Fernando Haddad para as esquerdas dormirem tranquilas.
De fato, Haddad é o favorito, tem o melhor programa de governo e sua agenda política é das mais positivas. De longe, ele e sua parceira de chapa, Manuela d'Ávila, representam, realmente, o novo na política.
Mas, em situações menos surreais, seu rival não seria Jair Bolsonaro, mas, quando muito, Geraldo Alckmin o "picolé de Chuchu" que, pelo jeito, Paulo Guedes deixou fora do congelador.
Graças a grana de Paulo Guedes - o que o tráfico de influência da GPG Participações não faz até sobre o "isento" Vox Populi - , Bolsonaro fica grudado em generosas porcentagens nas pesquisas.
Não há motivo lógico para isso. Pelo que Bolsonaro fez, ele é que estaria patinando, sobre a maca, nos 5% das pesquisas, tendendo até a cair.
Mas os institutos de pesquisa estão alinhados ao golpe político. E de maneira ainda mais surreal.
O falecido ex-ministro da ditadura, Jarbas Passarinho (que, ao menos, rejeitou energicamente Jair por não suportá-lo e vê-lo como "mau militar), na reunião do AI-5, havia dito: "Às favas com os escrúpulos da consciência".
O AI-5 foi um pesadelo tramado pela ditadura militar para impor retrocessos de todo tipo à população, reprimindo, até com morte, qualquer manifestação contrária ao regime.
Mas o AI-5 gerou um filhote pior, que, dentro da mania de dissimulação de muitos brasileiros, pode ser concebido a partir de um aparente voto popular.
A opinião pública deveria pelo menos se atentar que o crescimento de Bolsonaro é fácil. Dos cerca de 20% a 28% que ele recebe em média, de 15% a 23% ou mais são falsos, não passando de um doping injetado pela grana de Paulo Guedes nos institutos de pesquisa.
A própria repercussão negativa dos apoios de famosos a Bolsonaro e a rejeição que ele recebe nas redes sociais é bem maior do que se imagina.
E, além disso, não existe rejeição e aceitação que crescem juntos. Sendo processos opostos, o crescimento de um está na proporção da decadência de outro.
Bolsonaro só faz aumentar a rejeição. Portanto, seria otimismo demais dizer que os bolsonaristas fiéis atendem a uma percentagem de 5%. Nem Marina Silva sofre queda livre pior que a do "mito".
Por isso, as esquerdas deveriam ver que os institutos de pesquisa hoje estão todos patrocinados pelo "posto Ipiranga", como Paulo Guedes é conhecido.
A vitória virtual de Haddad, um fato real que coincide com as projeções de algumas pesquisas, é um truque que os institutos, todos ligados à plutocracia como o Judiciário, o mercado financeiro e outros, criam para causar euforia nas esquerdas.
O perigo que isso ocorre é o "fator Donald Trump", que nas urnas derrubou, de surpresa, o aparente favoritismo de Hillary Clinton, candidata conservadora, sim, mas moderada e tida como "progressista" no contexto do cidadão estadunidense médio.
Tudo parecia indicar a vitória de Hillary, assim como hoje a vitória de Haddad parece uma esperança palpável.
Mas o favoritismo fake de Jair Bolsonaro pode causar uma surpresa amarga, e é bom as esquerdas puserem em dúvida esse pretenso favoritismo plantado pelos institutos de pesquisa "comprados" pelo Chicago boy.
Ninguém pode acreditar na falácia de que Bolsonaro "já está no segundo turno".
Devemos contestar a ficção das pesquisas eleitorais, pois a quantidade de entrevistados, comparada, em porcentagem, com a população brasileira, não consegue aparecer sequer nos gráficos.
Como é que uma ínfima percentagem vai dizer o que pensa todo o país, ainda mais em pesquisas tendenciosas, movidas por uma elite ensandecida que quer um ditador eleito como suposto fenômeno popular, associado a todas as forças do atraso e do prejuízo em nosso país?
Esse é o grande perigo. Talvez fosse melhor darmos um fullgás a Marina, deixar o tucano Geraldo voar e Ciro correr enquanto o "mito" ainda está no hospital.
O "apoio do posto Ipiranga" nas pesquisas eleitorais pode causar uma tragédia de grandes proporções para o Brasil.
O Brasil não tem uma tradição esquerdista. Pressionado pelo poder das oligarquias e subordinado à supremacia dos EUA, nosso país sempre fez prevalecer causas conservadoras com progressistas.
É o país em que novidades não chegam para remover o ultrapassado, mas antes são diluídas ao sabor da essência das coisas obsoletas que passam a ser assimiladas pelo fenômeno novo.
Daí, por exemplo, tivemos rádios de rock que nunca passaram de "Jovem Pan com guitarras", com locutores histéricos, repertório hit-parade e ouvintes estupidamente reacionários, na contramão da rebeldia original do rock.
As esquerdas só aprenderam, para valer, a serem esquerda de 2016 para cá.
Paciência. Mesmo nas esquerdas mais empenhadas, os "heróis" eram trazidos pela mídia reacionária, pelo poder político-midiático, pelo mercado, em troca de umas falácias atraentes.
Do general do Segundo Império que exterminava paraguaios - ignoramos que Solano Lopez foi um presidente progressista, a exemplo de Maduro na Venezuela hoje - ao funqueiro que aparece abraçado a Luciano Huck, os "heróis" das esquerdas sempre foram tutelados pela plutocracia.
Do bandeirante que dizimava tribos indígenas ao "médium espírita" de peruca que pedia para as pessoas aceitarem suas desgraças em silêncio, os "heróis" das esquerdas eram gente reacionária.
É um país onde as feministas viam empoderamento nas mulheres-objetos, ignorando que elas seguem padrões machistas de sensualidade e autoafirmação feminina.
É onde as esquerdas, ouvindo o canto-de-sereia de intelectuais "bacanas" vindos da Folha ou blindados pela Globo, acolheram paradigmas de "cultura popular" trazidos pela mídia hegemônica.
As esquerdas nem se davam conta que a gíria "balada", ligada a festas noturnas, era uma criação da Jovem Pan.
E o funqueiro Mr. Catra morreu deixando como legado uma gafe de Caros Amigos na qual dizia que ele, mesmo depois de aparecer no Caldeirão do Huck, "seguia invisível aos olhos da grande mídia".
E chegou-se a disfarçar a biografia de Waldick Soriano, escondendo seu perfil reacionário que o fazia um Lobão do seu tempo, neste sentido, e trabalhava-se um Waldick "adocicado" e "guevarizado" feito para o consumo das chamadas "esquerdas fashion".
Com isso, tínhamos, aparentemente, entre 2005 e 2007, uma suposta "frente ampla" que parecia fazer o Brasil ser "a maior nação socialista do mundo".
É um "socialismo" estranho no qual os internautas reacionários diziam gostar de Che Guevara e torciam o nariz para George W. Bush e o imperialismo, apesar deles adorarem a Nike e lancharem felizes na rede McDonald's.
Era um falso esquerdismo que, estranhamente, defendia o porte de armas, cultuava o "deus" mercado ("até o ar que respiramos é comercial, tá ligado?") e mergulhava nos valores pré-estabelecidos pela mídia hegemônica, sobretudo o brega-popularesco, também conhecido como "popular demais".
Eu chamo esse falso esquerdismo de "marx-cartismo", um estranho e esquizofrênico esquerdismo com QI altamente reacionário.
Já vi pitboy no Orkut, durante os ataques que sofri de valentonismo digital de uma parcela de membros da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo", se autoafirmando "esquerda-liberal".
O comportamento dele, no entanto, se encaixa no que hoje são os bolsonaristas mais exaltados.
O falso esquerdismo seguia o contexto do apoio condicionado dos conservadores ao projeto político e ideológico da Era Lula.
Só depois é que o gigantesco comboio social e político iniciou seus desembarques, quando apoiadores por conveniência do governo Lula passaram a defender a derrubada de sua sucessora Dilma Rousseff.
Atualmente, o que se vê é um agressivo partidarismo de várias instituições: mídia hegemônica (e sua imprensa em particular), Justiça, empresariado e setor financeiro, Legislativo, religiões (os evangélicos pentecostais e o Espiritismo feito no Brasil são maiores exemplos) etc.
Todos estão mergulhando de corpo e alma em causas ultraconservadoras, e mesmo postumamente muitos descobrem que o "adorado médium de peruca", para desespero das esquerdas que ainda o apreciam, era tão reacionário que defendeu a ditadura militar no seu auge.
Muitos chamam a atenção pelo fato de que o pensamento desejoso fez as esquerdas expressarem uma última complacência com alguns traidores.
Desculpas como "enfrentamento" do suposto esquerdista ao poder dominante, "apropriação" do poder dominante sobre o suposto esquerdista, ou mesmo a atuação do obsessor no "médium espírita", eram tolamente expressos para evitar a frustração da traição.
Era uma mania infantil de se agarrar às fantasias anteriores, como aquele marido traído que, apaixonado pela mulher, tenta se fazer crer que ela só está "brincando com seus priminhos".
Mas é difícil usar esse pensamento desejoso para tudo. Principalmente quando a voracidade dos reaças se mostra por demais explícita.
O golpe político revelou que existe, no Brasil, uma estrutura oficial, porém marginal em relação às tendências sociais do mundo inteiro, que se compromete a impor o golpe político e a agenda elitista da plutocracia.
Essa estrutura é um tanto saudosa de paradigmas de privilégios elitistas de diversas épocas, seja em 1974, auge da ditadura militar, seja nos tempos da República Velha ou, antes, no período colonial.
Ela inclui, sobretudo, o aparelho do Judiciário e do Ministério Público, sempre prontos a barrar o caminho de políticos progressistas.
Ultimamente, os institutos de pesquisa são vistos, ingenuamente, por setores das esquerdas como o último paraíso possível da transparência e da isenção.
Embora se admita que institutos como o Ibope e o Datafolha são "partidarizados" (um está a serviço da Globo, outro é do espólio deixado pelo finado Otávio Frias Filho), há uma supervalorização das pesquisas de intenção de voto que "desenham" uma realidade que não existe.
Afinal, num país que anunciou ter 208 milhões de habitantes, como duas mil pessoas podem definir o comportamento do eleitorado em geral?
Os recortes podem ser tendenciosos, daí o favoritismo fake de Jair Bolsonaro cuja farsa não é sequer apontada pelas esquerdas, que podem cair na armadilha do "crescimento" do candidato do PSL.
Constrói-se uma "realidade" com dados estatísticos duvidosos, sem que percebamos de onde vem esse "recorte" de um pequeno punhado de pessoas, que se supõe, com critérios supostamente técnicos, serem uma amostragem "fiel" da realidade brasileira.
Debatemos uma ficção e não sabemos. E, se Jair Bolsonaro parece cômico demais na sua performance, bobos são aqueles que ignoram que ele poderia ter levado, mas pesquisas, um tombo mais doloroso do que a facada que ele recebeu.
Bolsonaro só se envolveu em incidentes negativos - num coloquialismo grotesco, diríamos que Jair "só fez m..." - , vergonhosos demais para que ele se mantivesse em alta nas pesquisas.
A situação é digna de um FEBEAPÁ - e isso há menos de dez dias de lembrarmos dos 50 anos de morte de Sérgio Porto - , pois Jair Bolsonaro era para ter tido queda livre nas pesquisas há muito tempo.
Seu desempenho nas pesquisas seria justificável se fosse um liberal que, por mais conservador que seja, represente menos perigo às instituições ou mesmo às classes populares, por mais desprezadas que fossem pelo candidato.
Bolsonaro é uma perigo até para a liberdade de imprensa e para o funcionamento das leis. E quem garante que ele não quer mesmo reeleição? Ele pode cancelar as eleições e governar o Brasil por quarenta anos.
Até Marina Silva, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes apontam defeitos mais leves, mas surrealmente os três não conseguem deter o candidato do PSL, um "favorito sem causa", um candidato sem confiabilidade que, em tese, está a poucos passos de assumir o Palácio do Planalto.
A grande mídia é em boa parte culpada: ela ensaia seu hipnotismo: "Bolsonaro lidera com tantos por cento", despeja nos leitores, como se estivesse jogando café quente nos seus olhos.
Jornais menores mas solidários à imprensa hegemônica mordem a isca e também jogam essa frase hipnótica a ponto de fazer não-bolsonaristas serem induzidos a votarem no perigoso candidato.
Afinal, a revista The Economist, que não é necessariamente um "primor de lulo-petismo", como querem os reaças brasileiros, afirmou que Jair Bolsonaro é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Inferimos que Donald Trump, por perigoso e desastrado que fosse, pelo menos tem cercado, ao redor dele, políticos tradicionais do Partido Republicano, dos quais os estadunidenses estão acostumados.
Bolsonaro terá ao seu redor políticos e tecnocratas da pior espécie, equiparáveis aos do auge da ditadura militar, na década de 1970.
O que se vê é que os institutos de pesquisa estão tão integrados ao golpe político de 2016 para cá quando o Poder Judiciário.
Também acreditávamos que o Judiciário iria ter cautela maior com as leis, e apontávamos alguns integrantes de "atuação meramente técnica" aqui e ali.
Poderíamos ver tendenciosismo numa Carmen Lúcia, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (ela foi sucedida, no cargo, por Dias Toffoli, há poucos dias) ou na diretora-executiva do IBOPE, Márcia Cavallari Nunes.
Mas setores das esquerdas, com certa inocência, veem no Vox Populi "atuação técnica", como se sonhava ver, em dadas ocasiões, em figuras como Luiz Edson Fachin ou o próprio Dias Toffoli.
E agora, o que vimos? Ainda se acredita, em vão, na "função técnica" das pesquisas de intenção de voto.
É só elas colocarem um aparente favoritismo de Fernando Haddad para as esquerdas dormirem tranquilas.
De fato, Haddad é o favorito, tem o melhor programa de governo e sua agenda política é das mais positivas. De longe, ele e sua parceira de chapa, Manuela d'Ávila, representam, realmente, o novo na política.
Mas, em situações menos surreais, seu rival não seria Jair Bolsonaro, mas, quando muito, Geraldo Alckmin o "picolé de Chuchu" que, pelo jeito, Paulo Guedes deixou fora do congelador.
Graças a grana de Paulo Guedes - o que o tráfico de influência da GPG Participações não faz até sobre o "isento" Vox Populi - , Bolsonaro fica grudado em generosas porcentagens nas pesquisas.
Não há motivo lógico para isso. Pelo que Bolsonaro fez, ele é que estaria patinando, sobre a maca, nos 5% das pesquisas, tendendo até a cair.
Mas os institutos de pesquisa estão alinhados ao golpe político. E de maneira ainda mais surreal.
O falecido ex-ministro da ditadura, Jarbas Passarinho (que, ao menos, rejeitou energicamente Jair por não suportá-lo e vê-lo como "mau militar), na reunião do AI-5, havia dito: "Às favas com os escrúpulos da consciência".
O AI-5 foi um pesadelo tramado pela ditadura militar para impor retrocessos de todo tipo à população, reprimindo, até com morte, qualquer manifestação contrária ao regime.
Mas o AI-5 gerou um filhote pior, que, dentro da mania de dissimulação de muitos brasileiros, pode ser concebido a partir de um aparente voto popular.
A opinião pública deveria pelo menos se atentar que o crescimento de Bolsonaro é fácil. Dos cerca de 20% a 28% que ele recebe em média, de 15% a 23% ou mais são falsos, não passando de um doping injetado pela grana de Paulo Guedes nos institutos de pesquisa.
A própria repercussão negativa dos apoios de famosos a Bolsonaro e a rejeição que ele recebe nas redes sociais é bem maior do que se imagina.
E, além disso, não existe rejeição e aceitação que crescem juntos. Sendo processos opostos, o crescimento de um está na proporção da decadência de outro.
Bolsonaro só faz aumentar a rejeição. Portanto, seria otimismo demais dizer que os bolsonaristas fiéis atendem a uma percentagem de 5%. Nem Marina Silva sofre queda livre pior que a do "mito".
Por isso, as esquerdas deveriam ver que os institutos de pesquisa hoje estão todos patrocinados pelo "posto Ipiranga", como Paulo Guedes é conhecido.
A vitória virtual de Haddad, um fato real que coincide com as projeções de algumas pesquisas, é um truque que os institutos, todos ligados à plutocracia como o Judiciário, o mercado financeiro e outros, criam para causar euforia nas esquerdas.
O perigo que isso ocorre é o "fator Donald Trump", que nas urnas derrubou, de surpresa, o aparente favoritismo de Hillary Clinton, candidata conservadora, sim, mas moderada e tida como "progressista" no contexto do cidadão estadunidense médio.
Tudo parecia indicar a vitória de Hillary, assim como hoje a vitória de Haddad parece uma esperança palpável.
Mas o favoritismo fake de Jair Bolsonaro pode causar uma surpresa amarga, e é bom as esquerdas puserem em dúvida esse pretenso favoritismo plantado pelos institutos de pesquisa "comprados" pelo Chicago boy.
Ninguém pode acreditar na falácia de que Bolsonaro "já está no segundo turno".
Devemos contestar a ficção das pesquisas eleitorais, pois a quantidade de entrevistados, comparada, em porcentagem, com a população brasileira, não consegue aparecer sequer nos gráficos.
Como é que uma ínfima percentagem vai dizer o que pensa todo o país, ainda mais em pesquisas tendenciosas, movidas por uma elite ensandecida que quer um ditador eleito como suposto fenômeno popular, associado a todas as forças do atraso e do prejuízo em nosso país?
Esse é o grande perigo. Talvez fosse melhor darmos um fullgás a Marina, deixar o tucano Geraldo voar e Ciro correr enquanto o "mito" ainda está no hospital.
O "apoio do posto Ipiranga" nas pesquisas eleitorais pode causar uma tragédia de grandes proporções para o Brasil.
Comentários
Postar um comentário