Dois fatos políticos marcaram o dia de ontem.
Um é a aceitação pela ONU da petição dos advogados de defesa do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de que o juiz Sérgio Moro estaria cometendo abusos de poder contra o petista.
O documento enviado para o Comitê de Direitos Humanos da ONU apontou quatro abusos identificados na atuação do juiz paranaense contra Lula:
. a condução coercitiva do dia 4 de março de 2016, completamente fora do previsto na legislação brasileira;
. o vazamento de dados confidenciais para a imprensa;
. a divulgação de gravações, inclusive obtidas de forma illegal;
. o recurso abusivo a prisões temporárias e preventivas para a obtenção de acordos de delação premiado.
A atuação tendenciosa de Moro, que se mostra indiferente com semelhantes incidentes com políticos do PSDB, fez Lula virar réu três vezes e surgiram rumores de que ele seria preso há uma semana.
E provavelmente seria mesmo, se as esquerdas não tivessem estragado a surpresa.
Com a aceitação da ONU ao pedido dos advogados de Lula, as atividades de Sérgio Moro contra o ex-presidente serão observadas pela organização internacional.
Lula recorreu à ONU porque não tinha a quem recorrer no Brasil.
Alvo de acusações vagas e confusas, suspeitas nunca devidamente investigadas e de boatos e mentiras dos mais cabeludos e de alto teor difamatório.
Isso sem falar da gafe de Deltan Dallagnol, o procurador que montou um risível esquema de Power Point para dizer que Lula é "o chefe máximo da corrupção".
Há uma grande diferença entre criticar objetivamente os erros de Lula e disparar calúnias e difamações gratuitas e muitíssimo agressivas.
Lula, assim como Dilma Rousseff, são os únicos que certa parcela da sociedade que se acha "dona da verdade" e "defensora da ética" se acha no direito de humilhar da maneira mais deplorável possível.
Isso já é abuso de poder. É histeria, é psicopatia.
E vem dos mesmos cidadãos que ficam tranquilos quando Michel Temer lança medidas de exclusão social que podem afetar até a vida de seus esperançosos simpatizantes.
A PEC 241 vai barrar a maior parte de importantes projetos para o Brasil e a classe média alta indo para a praia feliz contar piadas e jogar conversa fora.
Mal sabem elas do dia em que faltará dinheiro para comprar uma lata de cerveja.
E Temer está muito mais encrencado que Lula.
Uma delação da Odebrecht pode revelar uma grande lista de políticos que pode comprometer o governo temeroso.
É certo que Lula foi citado por vários delatores da Lava Jato, só que com relatos bastante vagos e superficiais.
O mais recente é a risível "nova propriedade" do ex-presidente: o estádio do Itaquerão, conhecido também como Arena Corinthians, um suposto presente dado pela empreiteira baiana.
Já é cômico a direita atribuir a Lula um modesto triplex no Guarujá que, mesmo assim, ele desistiu de comprar.
Ele desistiu da compra e é "dono" mesmo assim?
Enquanto isso, denúncias contra políticos do PMDB, DEM e, principalmente o PSDB, são muito mais consistentes e com provas documentais.
No caso da futura delação de Marcelo Odebrecht, preso pela Operação Lava Jato, quatro figurões do governo Temer, incluindo o próprio presidente, poderão cair.
Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, Moreira Franco, do Programa de Parcerias de Investimentos e o próprio presidente Temer poderão ser denunciados. Todos peemedebistas.
O mesmo risco ameaça o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do DEM.
Só um cafajestismo político-jurídico para livrá-los de alguma condenação, assim como o senador Aécio Neves, citado mais de cinco vezes em delações da Lava Jato.
Mas aí a plutocracia admite que Temer possa cair, mas só em 2017, para garantir uma eleição indireta no Congresso Nacional para eleger um representante das elites.
Só que alguns dos cotados para a votação, o ex-ministro do STF Nelson Jobim e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também podem ser delatados por Marcelo Odebrecht.
O cruzeiro marítimo da plutocracia é enorme e imponente, mas está furado em sua estrutura.
Todavia, é necessário um icebergue político para afundar esse poderoso navio. Como a pressão das ruas, como protestos contra a PEC 241.
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