Existem dois Brasis em conflito.
Um é o Brasil plutocrático, no poder político desde maio passado, se consagrando nos últimos meses com uma pauta ultraconservadora e voltada ao mercado.
Outro é o Brasil progressista, que sofreu derrotas graduais nos últimos anos e viu seu projeto de inclusão social se perder.
O Brasil plutocrático costuma ser dissimulado, e diz que manterá projetos de inclusão social e de progresso e modernização da sociedade.
Tenta minimizar retrocessos sociais dizendo que eles "não são retrocessos", mas medidas "urgentes" feitas para "evitar os antigos excessos".
Michel Temer, que geralmente foge de medo de manifestações contrárias a seu governo, costuma bancar o "corajoso" à distância, sempre quando está cercado de plutocratas.
No encontro de cúpula de autoridades dos BRICS, grupo de países emergentes dos quais fazem parte Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, A reunião ocorreu em Goa, na Índia. Temer tentou dar uma boa impressão do país.
"Já começamos a colher os frutos. O Brasil começa a entrar nos trilhos. As previsões para a economia brasileira em 2017 já melhoraram. O Fundo Monetário Internacional estima o fim da recessão e a volta do crescimento do PIB brasileiro no próximo ano", disse o presidente.
Ele ainda acrescentou: "A inflação tem cedido e, em setembro passado, tivemos o menor índice para o mês desde 1998. Já é possível verificar positiva reversão de expectativas, com decidida elevação nos níveis de confiança dos agentes econômicos".
Ele ainda participou de um encontro com empresários, quando fez um discurso convidando os investidores estrangeiros a investirem no Brasil.
A visão é sempre aquela: a perspectiva financista, rentista, neoliberal.
Mas tudo é feito também visando favorecer os mais ricos.
O governo Temer mantém o plano "Bolsa Empresário", que irá aumentar os subsídios para as indústrias, que deve custar R$ 224 milhões.
Em tese, para garantir mais emprego, mas diante do que as reformas e a PEC 241 querem fazer, estrangulando salários e encargos sociais, a grana mais favorecerá patrões do que empregados.
Estabelecer "teto" para gastos públicos mas não estabelecer limites para os ricos, em boa parte sonegadores de impostos e que ainda recebem desnecessários subsídios estatais, é a tragédia oculta desse governo que "põe o Brasil nos trilhos".
Faltará dinheiro para escolas, hospitais e para a vida dos aposentados, que terão que pedir dinheiro emprestado ou voltar ao mercado de trabalho para terem alguma renda a mais.
Professores não terão condições dignas sequer para estudar e reciclar seus programas de ensino, numa situação econômica constrangedora.
Os hospitais públicos, superlotados, continuarão sendo necrotérios por antecipação.
Para os olhos da plutocracia, nada que o mercado não possa "resolver".
Mas, privatizando hospitais e escolas, haverá cobrança de mensalidades não muito generosas.
Pacientes e alunos (ou familiares de alunos) terão que custear as festas de gala dos pedagogos e médicos de elite.
E as coleções de ternos e vestidos, as viagens à Europa e Nova York, a compra de vinhos caros.
Tudo para fazer bonito nos eventos sociais publicados na Glamurama, refúgio dos granfinos mais ortodoxos com a popularização de Caras e o fim da Hola Brasil.
Se o Brasil que "entra nos trilhos" é aquele que prefere aumentar gastos com o supérfluo dos ricos em detrimento das necessidades das classes média baixa e baixa, uma coisa é certa.
O Brasil deixou de ser uma democracia, porque a maioria dos brasileiros não têm voz nem vez.
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