Nunca a grande imprensa brasileira esteve tão decadente.
Temperamental, mentirosa, caluniosa, maledicente. Essas são as qualidades negativas do jornalismo que se trabalha na mídia privada.
A Globo News, um canal de notícias, está com uma equipe de comentaristas emocionalmente vulneráveis.
Quando uma notícia favorece a causa deles, eles festejam com euforia, só faltando pularem ao vivo, diante das câmeras.
Quando uma notícia é desfavorável, eles fazem cara de choro ou mostram uma fúria de quem quer dar uma surra de alguém.
Mas isso é apenas um ponto mais ameno.
A Veja, por exemplo, é truculência, raiva e mau humor em suas páginas.
Só falta os comentaristas pedir a venda do Brasil para os Estados Unidos. E estão bem perto disso.
Ficamos imaginando o Reinaldo Azevedo escrevendo pedindo uma cerimônia na Bovespa para vender o Brasil para os EUA e dispensar Brasília de ser capital, já que os brasileiros seriam diretamente governados por Washington.
Mas isso não é pregar contra a soberania brasileira, que mesmo os mais conservadores dizem defender e respeitar?
Só que, vendo a imprensa brasileira como está, imagina-se tudo.
Desde que Guilherme Fiúza acusou o New York Times de ser patrocinado pelo PT, faltando só ele denunciar o periódico estadunidense para a Operação Lava-Jato, a grande imprensa brasileira pode cometer qualquer gafe.
Hoje a chamada mídia patronal está sofrendo os efeitos de seu comercialismo e de seu reacionarismo.
Me lembro quando eu, morando em Salvador, me ofereci para trabalhar no jornal Tribuna da Bahia.
A editora, Mara Campos, foi minha professora de jornalismo na Universidade Federal da Bahia.
Eu fiz reportagens para a matéria e eu levei notas boas por causa dela.
Mas Mara Campos não me contratou. Ela disse que "não havia viatura suficiente" para tanto jornalista.
Na verdade, o que ela quis dizer é que meu jornalismo destoava dos interesses comerciais, que pediam aos repórteres um padrão asséptico de escrever textos.
De preferência, com menos senso crítico e, em tese, um razoável talento para escrever textos e fazer perguntas.
Em tese, porque nos últimos anos os repórteres regrediram tanto que passaram a escrever mal, informar mal e entrevistar mal.
Vide a famosa gafe do repórter que pergunta a alguém que chora por uma tragédia como é que ela está sentindo na ocasião.
Hoje o jornalismo "sério" virou uma piada.
Não por acaso, certas reportagens mostram momentos de aceleração da imagem, como se fosse um humorístico contemporâneo imitando filmes mudos (que, por diferença de material de filmagem, fazem a imagem "correr" quando rodados em equipamentos mais modernos).
Além disso, os repórteres substituem palavras por gírias. Como a gíria "balada", jargão lançado por Luciano Huck que os brasileiros fingem ser uma gíria surgida naturalmente do povo.
Ninguém fala mais festa, vida noturna, jantar entre amigos. Só "balada".
Da mesma forma, ninguém fala mais família, turma, equipe. Só "galera". E ninguém fala mais freguês, até comprador de bala de ambulante virou "cliente".
É a novilíngua descrita em 1984, de George Orwell, ou o "vocabulário de poder" analisado e questionado pelo jornalista britânico Robert Fisk.
Mas qual o público comum que vai saber que falar o cacófato "vou pra balada c'a galera" ou ouvir um vendedor de biscoitos polvilho na rua falar em "meus clientes" são novilíngua ou "vocabulário de poder"?
A gíria "balada" foi criada por Luciano Huck junto aos empresários da noite de São Paulo. E, bem no espírito "Use Huck", a gíria surgiu de um eufemismo para comprimidos entorpecentes.
A gíria "balada" foi popularizada pela Jovem Pan FM e pela Rede Globo, como uma forma de Luciano Huck e Tutinha testarem o grau de influência que exercem na juventude brasileira.
Notem os veículos: Jovem Pan FM, hoje famosa por comentaristas reaças como Reinaldo Azevedo e Marco Antônio Villa. A Rede Globo dispensa comentários.
Mas tem esquerdista, ateu, alternativo, punk etc falando a gíria "balada" na boa-fé, sem perceber que a popularização da gíria se deu quando a rádio de Tutinha criou um programa intitulado "Na Balada".
Se qualquer um pode assimilar uma gíria trazida por uma mídia reacionária, pode então ser desinformada pela mídia patronal.
Afinal, se a mídia patronal pode popularizar uma gíria, o que faria os tiranos do livro 1984 babarem de inveja, pode também fazer prevalecer uma visão de mundo.
Além disso, transformar até um mero comprador de lanchinhos em "cliente" dá uma falsa impressão de que a mídia enobrece o público, enquanto o jovem sente uma ilusão de modernidade diante do jargão "balada" que para ele simboliza uma forma tardia de raves.
Diante disso, o público se sente envolvido para ser manipulado em coisas mais graves.
E vendo que a grande imprensa está desinformando de maneira tenebrosa, isso é preocupante.
A grande imprensa até piorou na sua obsessão de mentir e manipular.
Que isso fosse no Brasil e entre o público brasileiro, tudo bem.
Mas a situação chegou ao ponto da psicopatia e os jornalistas reaças do Brasil querem impor sua visão retrógrada e fantasiosa para o exterior.
Chegam a xingar os jornalistas estrangeiros de "petistas" pela visão que, mesmo realista, é contrária aos interesses da mídia patronal.
"Pouco importa a realidade, a ética, a coerência. Minhas convicções primeiro", é o que pregam os jornalistas reacionários brasileiros.
Estes jornalistas são apenas a pior parte de um aberrante quadro de comercialismo e desqualificação do trabalho jornalístico.
Zero de raciocínio questionador, uns 50% menos de qualidade textual e 70% de qualidade informativa.
Muito triste esse quadro jornalístico que os brasileiros não percebem.
Até porque, "informados" por essa imprensa decadente, não estão informados sobre essa decadência, por razões bastante óbvias.
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