A posse de Michel Temer foi uma cerimônia rápida, ocorrida por volta das 16 às 18 horas.
Houve execução do Hino Nacional e um breve discurso do presidente efetivado.
A cerimônia foi mais organizada que a da fase interina, em 12 de maio passado, mas essencialmente foi a mesma coisa.
O Congresso Nacional estava bastante movimentado com a cerimônia.
Dentro daqueles ambientes, houve até deputado que, antes de dar uma entrevista, sério, a uma repórter da TV Câmara, dava um animado sorriso de alegria.
Temer disse, em seu discurso, que seu governo não é "golpista" e que "golpista" é quem está contra a Constituição Federal.
Traduzindo: Temer acha que está respeitando a Constituição Federal.
Ele quer mexer nos direitos sociais e eliminar conquistas históricas com a terceirização do mercado de trabalho.
Mas seu preocupante autoritarismo se dá em declarações como "não vamos levar ofensa para casa".
O problema é que a tese do golpe já "viajou" pelo mundo inteiro.
O jornal Le Monde afirmou: "se não for golpe, então é uma farsa".
Dentro do Congresso Nacional, Temer se sentia não um presidente, mas um rei.
Fora dele, famosos manifestavam espanto e indignação contra a votação do impeachment e a efetivação do presidente interino.
E, na saída, Temer foi cumprimentado por vários políticos.
Entre eles o senador Aécio Neves.
Tudo isso é vergonhoso, constrangedor.
Afinal, é um governo comprometido com agendas retrógradas.
Um governo que impõe retrocessos, recua parcialmente diante de tanta pressão mas nem por isso se compromete a avançar como poderia fazer a antecessora.
Além disso, o "enérgico" Temer de hoje poderia ter aparecido na Rio 2016. Não apareceu.
Deixou o discurso "presidencial" para o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.
Enquanto isso, a "covarde" Dilma enfrentou os senadores, de cabeça erguida e com humildade e firmeza, mesmo sabendo da derrota.
E Dilma fez um discurso denunciando o golpe, palavra que citou no outro discurso, no Senado Federal.
Ela deu uma amostra de sua firmeza, repetindo o que havia feito como prisioneira política, com um olhar firme enquanto seus algozes da ditadura escondiam os rostos diante dos fotógrafos.
"Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados", disse Dilma no seu último discurso no Palácio da Alvorada, já como ex-presidenta.
"O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social", acrescentou.
"Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles", encerrou Dilma, sem dizer "adeus", mas "até daqui a pouco".
Os vencedores de hoje é que, talvez, terão que se preparar para o juízo da História.
O "Canalha! Canalha! Canalha!" que Tancredo Neves gritou contra Auro de Moura Andrade, presidente do Congresso Nacional que alegou vaga a presidência da República no golpe de 1964, com João Goulart ainda em território nacional, teve um retorno irônico.
Roberto Requião, senador que votou contra o impeachment, devolveu o grito de Tancredo ao neto deste, Aécio Neves, o derrotado de 2014.
Países esquerdistas, como Venezuela, Equador e Bolívia chamaram seus embaixadores no Brasil a voltar para casa.
Já o Brasil chama para casa o embaixador que trabalhava na Venezuela. As relações entre os dois paises ficaram congeladas.
Já correm protestos contra Temer nas ruas.
Aqueles que queriam "Fora, Dilma" ficaram em silêncio ou fizeram os comentários de sempre.
Ju Isen, a mulher-tucana, musa do impeachment, e o roqueiro Lobão, estão muito felizes, como sua turminha "verde-amarelada".
Mas muitos brasileiros não engolirão o Brasil temeroso.
A crise só está começando.
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