Jabá dado não se olha as vísceras.
Vemos que, com a crise do governo Michel Temer, alguns caronistas aproveitam a indignação das esquerdas para fazer sua falsa solidariedade aos protestos contra o presidente interino.
Gente que finge ser "esquerdista sincera" e usa as mídias esquerdistas como palanque para seu mimetismo ideológico.
Intelectuais "bacanas", dirigentes funqueiros, todos eles até exagerando nos apelos do "Volta, Dilma".
Escrevendo panfletos pós-modernistas que nada dizem muito ao pensamento esquerdista.
Apenas repetem feito papagaios o pensamento esquerdista transmitido.
Intelectuais "bacanas" se esforçam para dizer que o jabaculê cultural de hoje é o folclore do futuro.
Mais uma vez jogam a pá de cal na MPB.
Dirigentes funqueiros fazendo toda uma acrobacia discursiva para dizer "como é bom" viver em favela, com barracos soterrados pelo primeiro temporal.
Estes ficam desmentindo o tempo inteiro, ficam com mania de se explicar, de ficar com a palavra final para tudo.
Tentam explicar porque o "funk" é machista, porque os dirigentes funqueiros endeusam o mercado etc. Culpam a "realidade" pelos erros do "funk" e reclamam quando as esquerdas não seguem o que os dirigentes funqueiros pensam.
Quanto aos intelectuais "bacanas", eles tentam também uma manobra espetacular.
Citam em seus artigos o chamado "lado B" da Música Popular Brasileira.
Resgatam do passado nomes que vão de Inezita Barroso a Itamar Assumpção, ou nomes hoje atuantes como Elza Soares, Sérgio Ricardo e Toni Tornado.
O pessoal acredita que os intelectuais "bacanas" são os paladinos do vanguardismo musical.
Até que, depois, um "bacanão" vai exaltar os funqueiros e "sertanejos", ou coisa parecida, fazer toda aquela choradeira de "combate ao preconceito".
Vão dizer que Wesley Safadão, com aquele jeitão de "nordestino da Flórida", é a aposta "modernista-bolivariana" na cruzada contra o "coronel da Fazenda Modelo", "imperador" Chico Buarque de Hollanda.
Vão promover a "reforma agrária da MPB" nos moldes udenistas, sempre rendendo dinheiro para o coronelismo lúdico-midiático que domina o interior do país.
"Não mexam no playlist das FMs populares, isso é o folclore de amanhã", dizem os intelectuais "bacanas" em súplicas desesperadas.
E, como analistas políticos propondo a fusão do PSOL com o DEM, juntam os alhos da MPB de vanguarda, já suficientemente isolada do "território" da "Fazenda Modelo" bossanovista, com os bugalhos da retaguarda brega-popularesca.
Fazem o mesmo golpe que os barões do jabaculê fizeram nos EUA, usando os movimentos sociais de 1960-1965 para instaurar depois o comercialismo voraz e tirânico do hit-parade.
Mas lá o pessoal é esclarecido o suficiente para não considerar o jabaculê musical como "libertário".
Isso é algo que só existe no Brasil.
Qualquer funqueiro "pegador" e qualquer funqueira "turbinada" passam a ter a reputação que, nos EUA, Bob Dylan e Joan Baez possuem.
Bastando apenas umas frases de efeito, alguns factoides de mídia, e, no caso das funqueiras, comentários misândricos ou poses "sensuais".
Ninguém pode debater a cultura brasileira.
Até parece que o popularesco despejado por rádios e TVs vem da fluidez do vento.
Pouco importa se esse "vento" vem dos escritórios refrigerados dos empresários do brega-popularesco.
Pouco importa se os ídolos "populares" só fazem marketing e abordam uma imagem caricatural das comunidades rurais e suburbanas.
Não temos um Guy Debord com alta visibilidade para denunciar a "sociedade do espetáculo".
Aliás, até temos, mas a burocracia (ou burrocracia) das universidades e do corporativismo acadêmico barraram um Guy Debord brasileiro nos primeiros acessos para a pós-graduação.
O "Guy Debord" brasileiro que vá para a Internet escrever para uns quinze leitores.
A intelectualidade "bacana", de uma linhagem acadêmica iniciada desde o governo do general Emílio Médici, alimentada pela combinação de burocracia, tecnocracia e clientelismo, é que comanda o "balanço da massa".
De mãos dadas com Luciano Huck e Danilo Gentili, mas fingindo odiá-los de maneira febril.
Tomando chá nas cantinas do Instituto Millenium, para depois ir ao Twitter esculhambar essa entidade.
E aí tem o dado estranho de esculhambar Chico Buarque, logo quando ele havia cantado "Apesar de Você" num evento e dedicado ao presidente interino Michel Temer.
Muito, muito estranho.
A "intelectualidade mais legal do país" foi logo insurgir e dizer que Chico Buarque já era, que a MPB está morta e morreu muito antes de Vander Lee.
Que a ideia agora é "bolivarizar" o jabaculê musical tocado pelas FMs populares.
Mas esquecem que essas FMs são controladas por oligarquias políticas, empresariais e latifundiárias.
Fazendeiros que mandam fuzilar agricultores, sindicalistas "subversivos" e até missionários, como quem caça leões nas savanas, financiam boa parte desses "ídolos populares" que muitos pensam ser o "bolivarianismo brasileiro".
Até os midiotas das mídias sociais adoram "funk". Eu mesmo vi vários deles no Orkut e Facebook.
O esquerdismo ainda será traído pelos intelectuais "bacanas" e dirigentes funqueiros.
Eles, que veem a "cultura popular" sob os filtros ideológicos do mercado e da espetacularização midiática.
A falta de debate na cultura brasileira e os apelos para que se aceite o "sucesso" que se impõe pelas rádios e TVs contribuem para o isolamento das esquerdas.
As esquerdas ainda veem os fenômenos "populares" apenas de um lado: olhando a plateia.
Deveriam olhar para os bastidores, por trás dos palcos.
E se preparar para não levar susto ao ver os barões da mídia aplaudindo os ídolos "populares demais".
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