O funqueiro apareceu no Caldeirão do Huck, tendo conversa animada ao vivo com o apresentador Luciano Huck.
As esquerdas médias ignoram isso e dizem que o funqueiro permanece "desprezado" pelas corporações midiáticas.
A funqueira militante apareceu no programa do Danilo Gentili, que se demonstrou simpático com ela.
As esquerdas médias acham que é só coincidência e o apresentador é que quer se aproveitar do sucesso do gênero.
O funqueiro ostentação aparece na capa da assombrosa revista Veja, em reportagem elogiosa. Detalhe: Veja condena com muita raiva todo tipo de movimento social.
As esquerdas médias engolem seco, mas deixam para lá.
A funqueira militante reaparece em Caras, numa entrevista bastante elogiosa.
As esquerdas médias ficam em silêncio.
O "funk" voltou à tona no discurso complacente das esquerdas, justamente com a crise do governo de Michel Temer.
É coincidência demais. Explodem denúncias contra a plutocracia, eclodem protestos contra Temer, e de repente os funqueiros se infiltram nesse contexto para vender seu "coitadismo".
As esquerdas ficam complacentes.
Paciência, o Brasil não tem tradição de país socialista e Karl Marx não foi brasileiro.
Daí o hábito, digno de filme de Luís Buñuel, das esquerdas protestarem contra a política da Rede Globo com a... "cultura popular" da Rede Globo.
É como se combatessem a abóbora política com o jerimum cultural.
Vem Chico Buarque prestar solidariedade a Dilma Rousseff e o que acontece?
Esculhambam o cantor e dizem que a "velha e desgastada" MPB já morreu e só precisa ser enterrada.
A intelectualidade "bacana", surgida dos porões do PSDB, usar a mídia de esquerda como palanque para seu falso esquerdismo puxa-saquista.
Fácil aumentar o tom do puxa-saquismo, com o intelectual "bacana" usando e abusando de apelos viscosos de "Volta, Querida", exibindo orgulhoso fotos de "Fora, Temer" pegas na Internet.
O intelectual "bacana" aprendeu cultura com a Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso e, por isso, acredita na tal "cultura transbrasileira", equivalente semântico à "economia transnacional" implantada pelo ex-presidente tucano.
Mas esse intelectual tenta fazer de tudo para desempenhar o papel cênico do "bom esquerdista".
As esquerdas médias aceitam, sem perceber a armadilha.
Como Cabo Anselmo em 1964, o "sincero esquerdista" que também "defendia a reforma agrária, as reformas de base" e se dizia "marxista convicto".
Daí que os intelectuais infiltrados nas esquerdas fingem sincero apoio aos protestos anti-Temer.
Tudo para depois vender a ideia do neoliberalismo cultural como se fosse a "causa libertária".
Tentam nos fazer crer que, para confrontar a política da Rede Globo, temos que defender a cultura da Rede Globo.
Achar que o vínculo da "cultura popular demais" com a oligarquia midiática nacional e regional que promove seu sucesso é "mera coincidência".
Abafando os debates sobre a cultura popular, abafa-se também a ampliação da participação popular nos debates públicos de esquerda.
Deixa-se o povo pobre "brincando de ser ativista" consumindo passivamente os "sucessos do povão".
Com isso, isola-se as esquerdas e o protesto contra os abusos da plutocracia se isolam mesmo quando fazem barulho.
Enquanto isso, a direita dá a réplica. Atores de televisão já manifestaram apoio ao Sérgio Moro, o "herói combatente" dos interesses da plutocracia.
Enquanto o intelectual "bacana" chora lágrimas de crocodilo contra o afastamento de Dilma Rousseff, a plutocracia intelectual mais assumida dá seu berro pelo "Fora Dilma" e pelo "Fica Temer".
É um jogo complexo e nada simplório que pede cautela.
As esquerdas ficam complacentes com o "funk" e com a intelectualidade "bacana" que faz "frila" para os barões da mídia mas usam a mídia de esquerda como palanque para seu proselitismo em prol de um país mais brega, culturalmente colonizado.
Acabam mordendo a isca e levando gato por lebre.
É como no futebol em que o jogador é contratado pelo time adversário para fazer só gols contra e garantir os pontos do antigo time.
Daí ser fácil certos oportunistas falarem "Fora Dilma" de outra forma, com o falso "Volta, Querida". O tchu-tchá funqueiro, por sua vez, vai terminar no "Tchau, Querida".
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