O Partido dos Trabalhadores parece ter consciência de estar perdendo a batalha.
O presidente do PT, Rui Falcão, disse não a qualquer hipótese de convocar novas eleições, uma sugestão arriscada e controversa, mas que poderia testar a consulta popular sobre a aceitação ou recusa do PT pelo eleitorado.
Seria uma forma de abreviar, de maneira menos dolorosa, o mandato de Dilma Rousseff, mas permitindo consultar a opinião dos seus defensores.
Uma solução comparável à do parlamentarismo no governo de João Goulart, há 55 anos.
Medidas amargas, que agradariam a oposição, permitindo o atendimento, ainda que parcial, dos interesses das forças progressistas.
Mesmo assim Rui Falcão não quis. Evitou defender uma solução polêmica e causou mais polêmica ainda.
E aí temos Dilma Rousseff, aconselhada a não colocar a palavra "golpe" na sua carta-manifesto para o Senado Federal.
A ideia parece ser prudente: não prejudicar os votos dos senadores na votação final do impeachment.
Isso se compara a uma solução parlamentarista de Jango, sob outro enfoque: Jango abriu mão do governo para presidir sob a atuação de um presidente do Conselho de Ministros.
Só que aqui é como se a solução parlamentarista ocorresse às vésperas do golpe militar, e não ainda numa tentativa de governo democrático.
Isso pode não influir muito, mas mostra o quanto Dilma sabe das pressões que recebe de seus opositores.
E aí veio Fernando Haddad, o prefeito de São Paulo candidato à reeleição.
Em entrevista à TV Estadão, Haddad disse que não gosta de definir o atual cenário político federal como um "golpe".
"Golpe é uma palavra um pouco dura, que lembra a ditadura militar. O uso da palavra golpe lembra armas e tanques na rua", afirmou.
É. Esse cenário político que temos, focalizado no presidente Michel Temer, realmente não tem tanques.
Não tem tanques para lavar as sujeiras dos políticos que assaltaram o poder, incluindo o próprio Temer.
Sobre a hipótese de chamar Dilma Rousseff para participar dos comícios de campanha, Haddad foi taxativo.
"Ela está vivendo um momento difícil e me solidarizo. Sobrecarregá-la mais com esse tipo de abordagem não seria justo", concluiu.
É certo que Haddad é um "solitário" diante de um Estado dominado pelo PSDB.
É como um pescador com seu barquinho num mar, cercado de tubarões.
Ele pode até ter governar uma grande cidade, mas o Estado é governado por Geraldo Alckmin, um dos mais conservadores do já ultraconservador PSDB.
Não há como administrar a cidade como sonha a cartilha do PT, até porque o governo estadual também cuida da capital paulista, por fazer parte de sua área.
Mesmo assim, a atitude de Haddad, mesmo numa entrevista a um veículo da mídia privada, soa um recuo.
Junta-se as peças e vemos que Rui Falcão, Dilma Rousseff e Fernando Haddad sabem da derrota que o PT sofre.
Há um indício de haver um clima de luto dentro do PT.
Mesmo que não haja provas de corrupção contra os petistas, os anti-petistas vieram para arrombar a porta.
Mentem, caluniam, tratam fofocas como verdades absolutas, farão tudo para tirar Dilma Rousseff do poder. Até se ela der bom dia, será tirada definitivamente do poder por este motivo.
É como disse o general Jarbas Passarinho, falecido há pouco tempo, na reunião que decidiu o Ato Intitucional Número Cinco (AI-5), no final de 1968: "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência".
Até chamar o ex-presidente Lula de "troglodita" é permitido, diante dessa oposição rancorosa e mesquinha.
Faltou-se ao respeito a Lula e Dilma Rousseff. O que se disse e se expressou deles nas passeatas anti-PT é de uma desmoralização arrepiante.
Verdadeiros assassinatos de reputação.
Verdadeira anormalidade institucional, já que até mesmo o Poder Judiciário e o Ministério Público parecem compactuar com o PSDB e ver as leis com os umbigos de seus juristas, ministros e procuradores.
Tudo conspira para que o desastrado governo de Michel Temer continue.
Quando o país perceber do erro que é este governo temeroso, será tarde demais.
É como disse Jânio de Freitas, interpretado em outras palavras: "a economia pode até se recuperar dos desastres trazidos pelo governo de Michel Temer, mas as perdas dos brasileiros serão irrecuperáveis".
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