É muito estranho. Toda vez que se intensifica a crise do governo Michel Temer, surge algum factoide ligado ao "funk" enfiado nos contextos das esquerdas.
No dia da votação da abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, isso foi ilustrativo.
"Mui amigos" das esquerdas, os funqueiros, através da Furacão 2000, chegaram perto de desviar o foco dos protestos contra a então vindoura votação.
A manifestação ficou espetacularizada, o protesto contra a votação foi deixado em segundo plano, e os deputados oposicionistas tiveram uma noite tranquila para defender suas causas pessoais.
Depois, com o vazamento das gravações de Sérgio Machado, que prometia denunciar até o próprio Temer, causando um tremor nas bases temerosas derrubando três ministros, outro episódio ocorreu.
Na Curitiba de Sérgio Moro, estudantes usaram um "funk" para protestar contra a saída de uma professora por ela ter citado Karl Marx numa aula de Sociologia.
Muito estranho isso.
Parece coincidência demais.
Afinal, embora carregue a pecha de "movimento popular", o "funk" é um ritmo musical comercial.
Só no Brasil ritmos comerciais que tocam no rádio precisam do tendencioso marketing pseudo-ativista.
Você não está satisfeito de dizer que aquele é o "ritmo do momento" ou a "novidade mais quente", como se faz no hit-parade dos EUA.
Você quer fazer um papo-cabeça, divagar sobre o caráter ativista, concretista-bolivariano de um balançar de glúteos.
Faz uma viagem teórica desnecessária citando Oswald de Andrade, Gregório de Matos, Emiliano Zapata, Simone de Beauvoir e Hélio Oiticica, só para citar alguns conhecidos.
Desperdiça monografias tentando explicar coisas que nem sequer são cogitáveis, definindo um mero entretenimento suburbano como se fosse uma (improcedente) conexão entre a Revolta de Canudos com o movimento Pop Art de Andy Wahrol.
Muito delírio intelectualoide. E ainda havia documentários que abusavam das linguagem neo-jornalísticas de Tom Wolfe e da História das Mentalidades de Marc Bloch.
Mas tudo isso era feito quando tinha progressistas no Governo Federal.
Quando era um governo temeroso, como nos últimos meses, se havia momentos mais tranquilos o "funk" podia ser machista, homofóbico, mercantilista.
Houve DJ de "funk" que "entregou" dizendo que, se não fosse a Rede Globo, o "funk" não teria feito sucesso.
Mas quando há uma crise no governo Temer, os empresários do "funk" sacam dinheiro e pagam as esquerdas para falar mal de Chico Buarque.
Chico Buarque foi um dos oradores nos protestos contra o governo Michel Temer, nos últimos dias.
Parece coincidência.
Num dia, Chico Buarque é brilhantemente ovacionado como uma das vozes mais expressivas contra o governo temeroso.
Noutro, ele é rebaixado ao "coronel da Fazenda Modelo" e "burguês decadente da velha MPB".
Coincidência?
Com Lula e Dilma sem direito sequer a se defenderem das acusações?
Claro, não pode ser Chico Buarque cantando a música "Apesar de Você" dedicada desta vez ao presidente interino.
Tinha que ser o brega-popularesco de plantão, de preferência um funqueiro, até porque fica complicado chamar um "sertanejo", feliz com Aécio Neves e Ronaldo Caiado, aliados de Temer.
Enquanto isso, os intelectuais "bacanas" fingem solidariedade a Dilma Rousseff, emitindo sons de "Fora Temer" em seus manifestos tendenciosos.
Defenderam o neoliberalismo cultural da bregalização, despejando comentários de como "é lindo" morar em favela e trabalhar como camelô ou prostituta.
Já era o projeto "Ponte para o Futuro", aplicado para a cultura "transbrasileira".
Terceirizando a cultura brasileira, subordinando a expressão popular à "ditabranda do mau gosto".
A intelectualidade que sonhava com um Brasil brega, com suas lágrimas de crocodilo diante do risco do impeachment.
Essa intelectualidade e os funqueiros tentando embarcar no "Fora Temer", quando sabemos o preço que terá essa aventura pseudo-ativista da "patrulha" que defende o "mau gosto".
O preço é associar o esquerdismo ao ridículo, e abrir caminho para a réplica de intelectuais reaças.
A intelectualidade "bacana" prega a bregalização, as esquerdas mordem a isca e os direitistas dão a réplica, dizendo "o quanto as esquerdas são ridículas".
E aí o caminho é aberto para o anti-petismo já suficientemente histérico e raivoso;
Infelizmente, tudo conspira para a derrubada dos governos progressistas e a implantação de uma agenda política ultraconservadora.
"Governo de salvação nacional"? O governo temeroso será um "Salve-se quem puder".
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